segunda-feira, 6 de agosto de 2012

TRAIÇÃO (CAP. 2 DE 3)


Por volta da uma hora da manhã decidiram voltar para casa. Adele se sentia feliz. Apesar de Luciano estar cansado, os dois conversaram normalmente no carro. Talvez até fizessem amor quando chegassem em casa.

No entanto mal entraram no apartamento, Luciano bocejou e disse que iria tomar uma ducha antes de dormir. Um pouco decepcionada, Adele não disse nada. Apenas o observou enquanto ele tirava a roupa e colocava o celular em cima da cômoda. Luciano se trancou no banheiro. Adele permaneceu sentada na cama com os olhos fixos no celular.

Aquilo não era do seu feitio. Bisbilhotar não era próprio da sua personalidade. Mas obedecendo a um impulso irresistível, Adele praticamente se jogou por cima da cômoda e pegou o celular com as mãos já trêmulas. 

Ela foi direto para a última ligação. Ali estava um nome. Paula. Quem era Paula, ela se perguntou sentindo náuseas novamente. Não tinha sido Antônio quem ligara? Desesperada, foi para a caixa de mensagens. Parecia que seu parceiro só recebia torpedos dessa tal Paula. Adele logo percebeu que eram conversas cifradas, em código. Luciano estava tão seguro da situação que nem se dera ao trabalho de deletar. Ou então ele achava que Adele era muito burra para não descobrir que a vadia da Paula era sua amante.

Adele ficou segurando por alguns minutos o celular, sem saber ao certo o que fazer. Sentia-se entorpecida, quase incapaz de se mexer. Dentro do banheiro Luciano finalmente desligou a ducha. Adele pôs de volta o celular na cômoda, ainda tremendo. Teria que confrontá-lo, mesmo que fosse muito doloroso.

Luciano saiu assobiando do banheiro. Estava relaxado e calmo até olhar para o rosto de Adele.
− Que cara é essa?
− Só me responda se ela é mais nova que eu.
A voz de Adele saiu fria como aço. Luciano lutou para se manter sereno.
− Do que você está falando, querida? Quem é mais nova que você?
− A Paula – e Adele apontou com a cabeça para o celular – Essa que fica mandando mensagens em código para você. E que você me mentiu que se chamava Antônio.
− Você bisbilhotou no meu celular? – Luciano estava incrédulo.
− Há quanto tempo você está saindo com ela?
Cada pergunta era uma facada no seu próprio coração. Adele tinha medo da resposta de Luciano. E ele a encarava furioso.
− Sempre respeitei sua privacidade.
− Quem é ela, Luciano? Eu que faço as perguntas aqui.

Adele lutava para demonstrar firmeza nas suas palavras. Sua voz não tremeu nenhuma vez, ao contrário do seu interior que desmoronava.

Depois de uns dez segundos de silêncio Luciano percebeu que não tinha mais saída. Era abrir o jogo ou abrir o jogo. Ele pretendia fazer isso no momento certo, apenas estava aguardando que ele chegasse. Definitivamente, o momento não era aquele.
− Paula é uma… uma amiga.
− Que tipo de amizade é essa?
− Uma amizade mais íntima.

Adele sentiu que todo o sangue fugiu-lhe do rosto.

−Quantos anos ela tem?
− É tão importante assim para você? – Luciano perguntou exasperado.
− Para mim é – Adele respondeu mais fria do que nunca.
− Fez 29 anos semana passada.

Nada menos que 20 anos de diferença entre nós, pensou Adele amargurada. Ser trocada por outra mulher já era terrível. Porém ser preterida por outra muito mais jovem não tinha explicação. Arrasada, Adele não teve mais coragem de olhar para Luciano.
− Escute, Adele...
− Chega, Luciano – ela olhava para o outro lado – Vá dormir no quarto de hóspedes. Quando eu voltar amanhã do escritório não quero encontrar mais nada seu em meu apartamento.

Adele fez questão de enfatizar bem as palavras “meu apartamento”. Esperou que Luciano falasse alguma coisa, dissesse que era um casinho sem consequências e que o amor da sua vida era ela, Adele, e não uma idiota de 29 anos. Porém Luciano não falou nada. Apenas deu um suspiro, abriu a porta do quarto e saiu. Por alguns minutos ela esperou que Luciano voltasse implorando perdão. Isso não aconteceu. Certamente estava até aliviado. Livre dela e pronto para viver um novo amor. 

Cachorro.

Depois de uma noite pavorosa, Adele levantou com olheiras, dor de cabeça e alguma náusea. Arrumou-se rapidamente e foi a primeira a chegar ao escritório.  Queria evitar a todo custo se encontrar com Luciano. Não pretendia vê-lo mais. Esperava sinceramente que ele não estivesse na sua casa quando voltasse, à noite. Por mais doloroso que fosse, era melhor romper com todos os vínculos de uma vez.

No escritório os colegas perceberam que algo estava errado, mas Adele resistiu. Comportou-se bravamente em todas as reuniões estressantes que teve que participar. Era a única maneira de escapar da dor mais forte que viria mais tarde. Um pouco depois do meio dia, a secretária – com uma expressão estranha – entrou na sua sala segurando um envelope. Disse:

− O porteiro disse que o senhor Luciano deixou lá embaixo.
Disfarçando que estava analisando um relatório, Adele respondeu secamente:
− Pode largar aí na minha mesa.

… continua …


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