terça-feira, 23 de setembro de 2014

MENINAS MÁS (parte 8)

No final das contas ela acabou indo para minha casa onde almoçamos juntas. Minha vergonha foi passando aos poucos, menos a raiva que só aumentou. Felizmente Aline ficou comigo e a tarde passou numa boa. Inventamos algumas receitas de sobremesas e estávamos nos divertindo muito. Quando era aproximadamente cinco horas da tarde o interfone lá de casa tocou.

Gabriela estava lá embaixo e queria subir. Pelo menos era que o porteiro me dizia.

Acho que fiquei pálida. Aline me encarava de olhos esbugalhados, pressentindo que algo estava errado. Sussurrei para ela:

– A puta da Gabi está lá embaixo e quer subir.

– E o que você vai fazer?

Peguei o interfone e falei para o porteiro:

– Ela está proibida de aparecer aqui em casa. Pode dizer isto a ela.

 O porteiro ficou em silêncio por alguns instantes e disse meio sem jeito:

– A moça está aqui embaixo chorando.

– Chorando? – olhei para Aline.

– Chorando? – repetiu ela.

– E bastante – emendou o porteiro.

– Tudo bem… Deixe que ela suba.

– Você vai dar assunto para esta falsa?

Aline me encarou com as mãos na cintura como se não acreditasse na minha resolução.

– Você tem certeza do que está fazendo? – Aline estava inconformada.

– Quero ver o que aquela cara de pau tem pra me dizer.

Não demorou nem cinco minutos o elevador se abriu e Gabriela apareceu com a cara inchada e os olhos vermelhos. Minha intenção era falar com ela na porta, mas como a conversa poderia terminar aos gritos resolvi deixá-la entrar. Quando Gabi se deparou com Aline bem sentada no sofá com cara de paisagem levou um susto.

– O que ela está fazendo aqui?

– Somos amigas – eu respondi sem paciência. – E é melhor que você diga logo o que quer. Tenho mais o que fazer.

Gabriela ficou com ciúmes de Aline e eu vibrei.

– O assunto é particular.

– Aline, você pode esperar no meu quarto, por favor?

Sacudindo os ombros, Aline fez o que eu pedi.

– Vai, desembucha.

Enxugando uma lágrima, Gabriela disse com a voz trêmula:

– Desculpa.

– Pelo o quê mesmo? – perguntei cínica.

– Pelo que Vanusa fez esta manhã. Com Mateus. Eu… não deveria ter contado. Mas contei e estou super arrependida.

– Você fez de propósito! – acusei. – Só para se exibir para elas!

– Mas eu me arrependi!

– Não quero suas desculpas!

– Por favor, Paula! Em nome da nossa amizade!

Acho que fiquei vermelha quando escutei aquilo. Amizade? Desde quando?

– Suma daqui agora. Não somos mais amigas. Acho que nunca fomos. Você me trocou muito fácil.

Eu escancarei a porta e Gabriela arregalou os olhos como se não estivesse acreditando que eu estava a pondo no olho da rua.

– Bem, eu tentei – devolveu ela passando reto por mim. – Você vai se arrepender de ter feito isto comigo.

Ela saiu e eu fechei a porta com um pontapé. Aline saiu do quarto e veio ter comigo. Havia escutado tudo e estava abismada.

– Nunca pensei que ela fosse tão cara de pau.

 Esbravejei:

– Eu vou matar estas três!
               
 Era a segunda vez naquele dia que eu afirmava aquilo.

*

Depois daquela minha negativa imaginei que Gabriela fosse largar do meu pé. Realmente nós não tínhamos mais nada a ver. Na minha cabeça fervilhavam mil ideias de vingança. Só faltava escolher a melhor de todas.

Mas o meu corridão em Gabi não surtira muito efeito. No dia seguinte, logo depois do intervalo e antes de o professor chegar, ela surgiu de repente na minha frente. Acho que deve ter passado a noite chorando e em crise dado o tamanho do inchaço dos seus olhos. Nem me abalei. Queria que ela se explodisse e levasse suas amiguinhas junto.

– Posso falar com você?
– Não – respondi imediatamente e fazendo de conta que procurava alguma coisa na minha mochila.
– Não resolvemos nosso assunto ontem.
– E nem vamos resolver.
– Posso conversar com você depois da aula?
               
Fomos interrompidas por uma voz estridente e irritante.
– Gabizinha! Tenho uma coisa para mostrar para você. Vem comigo.

Gabi não teve tempo de reagir. Vanusa a puxou pelo braço com um solavanco e a arrastou até onde elas sentavam. Por alguns segundos até fiquei com pena. Gabriela estava totalmente dominada pelas duas. Será que ela gostava daquilo? Acho que sim.

– Você viu aquilo? – perguntou Aline sem fazer força para falar baixo. – Ela não tem vontade própria?
– Nunca vi uma cena tão ridícula – desabafei. – Morro e não vejo tudo.

Aline baixou o tom de voz e disse:

– Bolei uma maneira de cravar com uma delas.
– Jura? – fiquei animada. – Me conta!
– Aqui não. Na saída e longe da escola.

Não aguentei de curiosidade. A aula se arrastou para piorar tudo. No fim das contas, Aline foi lá para casa para que a gente pudesse ficar mais à vontade. Esquentei o almoço no micro-ondas, servi comida para nós duas e nos sentamos frente a frente.

– Fala – pedi enfiando um pedaço de carne na boca.  – Não aguento mais.
– Está vendo esta gargantilha aqui?
               
Aline apontou para uma bela gargantilha que enfeitava seu pescoço. Eu já havia reparado nela. Era simplesmente linda.

– O que tem ela?
– Vamos fazer com que apareça dentro da mochila da Vanusa. Ou da Sarah. Gabi? Qual você prefere?

Quase me engasguei. Aquela ideia era demais. Mas e a logística?

– Você quer acusar alguma delas de roubo?
– Não é uma boa ideia?

Acho que meus olhos deveriam estar brilhando. Mesmo assim fiquei com um pouco de medo.

– Mas como faremos isto?
– Simples, já pensei em tudo. Eu deixo a gargantilha sobre minha mesa quando sairmos para o intervalo. Antes de a turma voltar, eu chego primeiro e a escondo ela na mochila de uma delas. Saio e volto com o resto da turma e faço o maior fiasco que a gargantilha sumiu. Lembra aquela vez que sumiu uma caneta da professora de matemática e a diretora revistou mochila por mochila? Bolsa por bolsa?
– Será que vai dar certo?
– Claro que vai. Só temos que tomar cuidado para que ninguém me veja.
– Você que fará tudo?
– Deixa comigo. Mas afinal, você prefere foder com a vida de quem?
– Ah, pode ser da Vanusa mesmo. Foi ela quem contou tudo para o Mateus.
– Então ela que me aguarde.

Nós rimos feito loucas. Eu mal podia esperar pelo dia seguinte.

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