quinta-feira, 7 de abril de 2016

A NOIVA MORTA - 5ª parte





Josué respirou fundo segundos antes de dobrarem a esquina que dava na praça. Getúlio chegou a se sentir meio tonto ante aquela expectativa. Para decepção dos dois, a única pessoa que estava sentada exatamente no mesmo lugar em que a moça de branco estivera,era a Glorinha, figura pitoresca da cidade e que conversava com tudo o que surgia na sua frente, inclusive com árvores, flores e postes.

— É aquela a moça bonita? ─ gracejou Getúlio, tentando evitar o nervosismo.

Apesar do medo, Josué se mostrou frustrado.

— Claro que não. Talvez a Glorinha tenha espantado ela.
— Ou talvez a tenha visto...
— Venha ─ Josué puxou o primo pelo braço. — Vamos descobrir de uma vez.

A contragosto, Getúlio foi praticamente arrastado até Glorinha. Naquele momento ela travava uma conversa bem animada com uma trilha de formigas que passava bem a sua frente.

— Oi, Glorinha ─ cumprimentou Josué, nervoso.
— Oi ─ grunhiu ela, sem tirar os olhos das formiguinhas.
— Estou procurando uma pessoa.
— E eu com isto?

Josué ignorou a grosseria da velha.

— Você viu uma moça bonita, vestida de branco, aqui na praça agora à noite?
Glorinha não fez questão de encarar os dois. Apontou para a direção oposta com seu torto dedo indicador.
— Ela foi para lá.

Getúlio e Josué se entreolharam.

— Você conversou com ela, Glorinha? Sabe o nome dela? ─ Josué nem disfarçava mais sua curiosidade.
— Só sei que ela foi para lá.

Getúlio puxou o amigo pelo braço e ambos se afastaram dali. Ele não sabia o que pensar.

— O que você acha? ─ perguntou Josué — Devemos ir atrás?
— Aquela é a direção do cemitério.
— Sim, desde ontem eu sei disso. Mas estamos em dois, lembra?

Getúlio sentia as pernas fracas. Desde que Mariana morrera, nunca mais chegara nem perto do cemitério. Queria distância daquilo tudo.  A não ser que fosse sua mulher que estivesse vagando pela pequena cidade.

— Não me agrada ir para aqueles lados. O motivo eu não preciso explicar, não é?
— Tudo bem, cara. Mas você percebeu que há algo acontecendo de estranho por aqui. A Glorinha também viu a moça.

Os dois se afastaram apressados da praça.

— A Glorinha é maluca, não esqueça.

Os primos voltaram em silêncio para casa. Getúlio, de tão perturbado que estava, tomou três cálices de vinho e foi dormir ligeiramente embriagado. Josué observou o primo ir para a cama em silêncio e se arrependeu de tê-lo metido naquela história. Será que…

Será que Getúlio achava que a jovem era sua falecida esposa?


Aquela hipótese atingiu Josué profundamente. Não havia conhecido Mariana, sequer pudera comparecer à infeliz cerimônia de casamento por causa do emprego. Seria possível que a pobre moça vagava pela cidade sem descanso? Mais tenso ainda, Josué recolheu-se ao seu quarto e se deitou cobrindo a cabeça com o travesseiro. Não teve coragem de apagar a luz do abajur. Parecia a que a qualquer momento o fantasma da moça (Mariana?) surgiria a sua frente. Foi difícil pregar o olho naquela noite.

Nenhum comentário:

Postar um comentário