quarta-feira, 21 de junho de 2017

MEU CHEFE É UMA LOUCURA (Cap. 3)

Parei de devanear, incomodada com meus próprios pensamentos. Ser virgem era algo que me deixava arrasada. Lembrei-me do celular. Segundo minha mãe, ele havia feito um “barulhinho”. Certamente era a maldita operadora me oferecendo um plano mágico. Sem esperar nada de bom, conferi o que era.

Me arrepiei. Gritei emocionada:

− Mãe! – abri a porta do quarto praticamente pulando. – Eu consegui! Eu consegui!

Minha mãe apareceu segurando um pano de prato, surpresa com a minha gritaria.

− Conseguiu o quê, criatura?
− Um emprego! – mostrei o celular para ela. – Olha aqui, é sério! Vou sair da pindaíba.

Ela franziu os olhos para enxergar o que estava escrito no visor do aparelho. Aparentemente não viu nada e perguntou:

− Onde, Valdirene? Em qual firma?

Eu já estava sem ar. Fui até a geladeira e me servi de um copo de água. Simplesmente mal podia conter a minha empolgação. De repente era como se o futuro abrisse suas portas para mim. Chega de ficar dentro do quarto escrevendo putaria!

− Naquela empresa lá do centro, mãe.
− A que tem vidros do chão até o teto?
− Esta mesma.      
   
Um lugar bem bonito onde eu iria trabalhar muito em breve. Era um prédio alto, uma agência famosa de propaganda e publicidade, toda envidraçada. Eu havia me candidato para recepcionista. Certamente trabalharia com uniforme, coque e cheia de pose. Samanta Hot ficaria um pouco para trás agora. Quem sabe até eu arrumasse um namorado firme?

− Quando você começa, Valdirene?
− Na mensagem diz que é para eu procurar o RH amanhã de manhã – respondi, aliviada. – Deve ser para providenciar documentos, exames... o de praxe. Acho que leva uns 15 dias.
− Fico feliz – disse minha mãe voltando para a cozinha. – Agora você desentoca daquele quarto e sai para a vida. E quem sabe até me dá um genro?


Coloquei o relógio para despertar às 7 horas da manhã e uma hora depois já estava sacolejando dentro de um ônibus lotado. Não, aquilo não era ruim. Depois de meses enfiada em um tédio dos infernos, estar apertada no meio de tanta gente era como se sentir viva novamente. Aquela seria minha rotina – bendita rotina – dali para frente. Eu estava pondo muita fé no meu novo emprego. Claro, eu sentiria alguma saudade de Samanta Hot. Afinal, ela me fizera companhia durante todos aqueles meses. Mas depois de pôr minhas contas em dia e renovar meu guarda-roupa, eu queria cursar uma faculdade, aperfeiçoar meu inglês, viajar. Samanta Hot talvez se aposentasse. E nem por um momento eu pensei nos meus famintos leitores.

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