I
Ela chegou devagar. O cretino estava
compenetrado no computador, navegando na internet. Provavelmente procurando
mais uma vadia para foder a noite inteira.
Era disso que o Pedro gostava.
Putas. As mais vagabundas e que faziam tudo o que ele pedia. Enquanto se
aproximava vagarosamente do filha da puta do marido, Jessica lembrou dos tempos
de namoro.
Pedro, o cara perfeito. Era assim
que as amigas o chamavam. Gentil, educado, fazia todas as vontades dela. No
sexo também era respeitoso. Até demais. Enquanto Jéssica queria um sexo pesado
e selvagem, Pedro era adepto do básico. Sem muitas variações.
Apesar de toda a educação do
genro, o pai da Jéssica quem tinha razão. Quantas vezes ele não alertara a
filha caçula para terminar com a merda daquele noivado e partir para outra?
Inúmeras. Mas Jéssica era teimosa. E apaixonada. Homem como aquele ela sabia
que não encontraria em lugar nenhum.
E não encontraria mesmo.
Cafajeste como o desgraçado do Pedro seria impossível achar outro. No primeiro
mês tudo correu bem. Rotina agradável, sexo morno, cineminha, jantar... Nenhuma
ida ao motel para diversificar. Enfim, casamento devia ser aquilo mesmo. E
Jéssica achou que era melhor se conformar com o que tinha em casa.
Jéssica já podia ver por sobre o
ombro do cachorro. Pedro estava em um chat. Ele teclava rápido. Devia estar
excitado. De pau duro. Ele fazia assim: conhecia alguma puta nos chats, combinava
um encontro e saía em seguida dando uma desculpa esfarrapada. Isso geralmente
acontecia nos sábados e domingos. Ao invés de saírem juntos, Pedro escolhia uma
galinha e deixava a esposinha fofa em casa.
No começo era uma simples
desconfiança. Pedro tinha um método. Ele anunciava um jogo de futebol com os
amigos e depois uma churrascada onde apenas homens podiam entrar. Clube do
Bolinha. Jéssica concordava. Não queria ser uma esposa chata. Cada um tinha que
ter sua privacidade, não é? Porém Pedro deu sinal da sua burrice em uma tarde
de sábado. Na ânsia desesperada de comer uma vadia, ele deixou toda a conversa
do chat na tela do computador. O pau devia estar tão duro que o infeliz saiu de
casa louco para a encontrar a buceta da vez.
Jéssica leu. Leu e chorou. Chorou
e desejou vingança.
Ela parou a uma distância
considerável do escroto. Quase nem respirava. Jéssica apertou com força a
tesoura que trazia na mão. Na outra, um copo de suco de laranja com sonífero. O
papo devia estar animado pela força que o seu maridinho pau no cu batia nos
teclados.
Jéssica se descabelou chorando
quando leu a conversa porca do Pedro com a puta, dois meses antes. A vadia
tinha nome. Marjorie. Surpreendeu-se com a riqueza de detalhes. Pedro
mencionava que faria coisas com Marjorie que nunca tinha feito com ela. Sexo
anal. Ah, como Jéssica queria fazer sexo anal até então. Mas Pedro, muito educado,
passava longe do cu dela. Teve uma vez que ela pediu. Criou coragem e pediu.
Pedro fez cara de surpreso. Não, disse ele. Aquilo era coisa de puta.
Bem, Jéssica queria ser puta. Depois
que descobriu todas as sacanagens do marido, a primeira coisa que fez foi se
enrabichar no Sid. Ah, o Sid. Nego lindo, musculoso, pernas fortes. Era da
academia. Jéssica escolheu o Sid para desvirginar seu cuzinho. Era só para isso
que ela precisava do Sid. E ele foi lá e fez. Arrombou a Jéssica do jeito que
ela precisava. Depois do Sid, Jéssica desistiu do pau do Pedro. Mas não da sua
vingança.
− Amor...
Pedro imediatamente parou de
teclar. Veloz, ele fechou a página do chat e se virou sorrindo. Era mestre no
disfarce.
− Oi, minha paixão. Estava aqui
falando com o Giba. Lembra dele? Estamos combinando nosso futebolzinho dos
sábados.
Ela sorriu docemente.
− Fiz um suquinho para você.
Pedro segurou o copo que a esposa
–
a trouxa –
lhe estendia. Não reparou que na outra mão havia uma tesoura. Ele deu um grande
gole e fez uma careta em seguida.
− Está meio amarguinho.
− O açúcar ficou no fundo.
O homem deu de ombros e emborcou
o suco de vez. Estranhou que a mulher continuasse parada a sua frente sorrindo.
Aquele sorriso idiota. Um sorriso que não tinha fim.
− Por que você está sorrindo
tanto?
Pedro ficou subitamente tonto e
balançou a cabeça. Esqueceu de disfarçar o pau duro que apontava nas suas
calças.
− Não estou sorrindo –
garantiu Jéssica – Estou rindo da sua cara.
Os olhos dele se arregalaram de
susto. Impressionou-se com a mulher. O sorriso dela, antes idiota,
transformou-se no sorriso do diabo. A última coisa que lembrou antes de cair
duro foi a Jéssica abrindo suas calças e pondo seu pau já nem tão duro assim
para fora.
II
Quando Pedro acordou a madrugada
já ia alta. Ele não estava mais sentado na cadeira. Estirado no chão, Pedro
percebeu que estava sem as calças.
Ele sangrava. Ao ver seu sangue ficou
desesperado. A dor era terrível e vinha do meio das pernas. Pedro pôs as mãos
ali e gritou. Onde estava seu pau? Não havia nada ali. Ou melhor, a filha da
puta da Jéssica tinha deixado um toco. E ele se esvaía em sangue. A morte o
rondava naquele apartamento vazio.
Cadê a porra do celular? Na
mesinha do computador, lembrou ele. Em um esforço tremendo, Pedro alcançou o
telefone com a ponta dos dedos pegajosos de sangue e o celular caiu ao seu
lado. Precisava ligar para algum amigo. O Giba, seu parceiro de fé.
Giba atendeu lá pelo 5º toque.
Apesar de ser madrugada, ele estava com jeito de que estava virando a noite.
− E aí meu! Qual vadia você
fodeu hoje?
− A Jéssica… ela… cortou meu
pau…
Pedro sentiu a cabeça rodar. A
voz de Giba do outro lado não deixou que ele morresse naquele momento:
− Eu sei, cara. Ela tá aqui na
minha frente. Rindo da sua cara. Enquanto você comia suas putas, tua
mulherzinha gostosinha e cheirosinha trepava com todo o nosso time de futebol.
E vou te dizer uma coisa: Jéssica é uma vadia e tanto. PUTA em caps lock.
Moribundo, Pedro escutou aquela
frase bombástica. Morreu segundos depois se sentindo o maior corno da história.
Tinha uma puta em casa e não sabia.
III
Jéssica fez um último boquete no
Giba como agradecimento por terminar de matar o Pedro. O pau do falecido estava
dentro da bolsa, enrolado em alguns sacos plásticos. Ela foi embora do
apartamento do seu amante – um entre diversos – e ganhou a rua. Jogou aquela coisa
que nunca lhe fizera feliz no primeiro bueiro que encontrou. Depois foi para a
polícia se entregar.
Estava vingada.