sexta-feira, 6 de setembro de 2019

A FÃ






Me chamavam de louca. Mas todo fã é meio doido mesmo. Eu já era apaixonada pela Brenda, pelo jeito dela, a voz rouca, a maneira de vestir e se mover. Quando eu a via no palco, nossa, eu pirava. Dançava junto no meio da sala, no pátio, qualquer lugar e sem vergonha nenhuma. Aquela voz maravilhosa era meu sonho de consumo. Só que de tanto forçar a voz rouca da Brenda, eu fiquei com dor de garganta e tive que desistir. 

E o corpo? Morria de inveja daquelas curvas, da bunda, da barriga sequinha. Foi por causa da Brenda que entrei para uma academia e comecei a fazer musculação pesada. Como sempre fui gordinha, resolvi fazer uma dieta por conta minha mesmo para ficar mais parecida com a Brenda. Resumindo: passei a viver em função da vida dela. Meu sonho era ir a um show seu, mas como moro numa cidade do interior onde nada acontece, é lógico que a Brenda nunca vai vir pra cá.

Minha tia é costureira e aí tive mais uma das minhas ideias mirabolantes. Pedi que ela fizesse para mim roupas parecidas com as que a Brenda usava. Titia não curtiu muito a ideia. Brenda era pura ousadia. No fim, ela cedeu aos meus pedidos e, com muito orgulho, eu desfilava por aí bem parecida com minha diva. Ah, alisei o cabelo também. Minhas selfies e poses eram iguais as dela.

Mas não pensem que eu era apaixonada pela Brenda. Não é isso. A Brenda é tudo para mim, porém não tem nada a ver com sexo. Tudo que eu queria era ser amiga da Brenda, daquele tipo que troca confidências e uma sabe tudo da outra. Duvido que neste mundinho louco das celebridades Brenda tivesse alguém tão próximo. Duvido mesmo.

Então um dia abri o Instagram logo de manhã cedo. Aliás, era a primeira coisa que eu fazia assim que acordava. A Brenda tinha o hábito de fazer postagens na madrugada e assim sempre tinha novidades para os fãs assim que eu abria os olhos. Havia uma postagem dela feita lá pelas três horas da manhã e que me deixou chocada: a foto dela com outra garota (linda, por sinal) em cima da cama king size, ambas entrelaçadas no maior love. Já havia milhares de curtidas e comentários. Todo mundo dando parabéns, elogiando a beleza da duas, acho que alcançou recorde de views. Gente do céu, eu caí para trás literalmente. Como assim? Como assim? A Brenda, aquela por quem eu faria tudo, qualquer coisa mesmo, tinha arranjado uma amiga... íntima? E que não era eu?

Meu mundo caiu. A Brenda tinha uma namorada. Mas eu não queria ser namorada da Brenda, queria ser uma amiga, amiga quase irmã, alguém tão próximo que pelo olhar se adivinharia tudo o que passava no coração da outra. Contudo, a Brenda escolhera outra pessoa, uma tal de Jéssica. Eu chorei. Quer dizer então que eu nunca seria amiga íntima dela? Nunca teria espaço na vida da Brenda? Que cruel.

Durante aquele dia eu não me concentrei em mais nada. Não desgrudei o olho do celular. Não consegui me focar em outras coisas. A Brenda caprichou nas postagens com a namorada. Só naquele dia foram cinco, todas sensuais, cada uma mais linda. Meus sentimentos eram muitos. Inveja, ciúme, raiva. Perdi a fome e tive dor de barriga. Meu sonho de ser alguém próximo a Brenda morreu naquele dia.

Minha confusão emocional não levou dois dias. Comecei a olhar para a Jéssica de uma maneira diferente. Ora, para a Brenda tê-la escolhido era porque a garota devia ser muito especial, querida, doce, além de muito linda. Me encantei com ela também. Comecei a segui-la no Instagram e postei várias coisas elogiando as duas, shippando mesmo as meninas. Fui ao céu e voltei dez vezes quando a Jéssica curtiu um comentário meu. Minha vida adquiriu novo sentindo. Brenda e Jéssica passaram a ser minhas duas melhores amigas. Não importa a distância. Elas são tudo para mim.

Eu quero ser como elas.