segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

DISFARCE

NÃO, EU NÃO DESISTI

É QUE ALGUMAS VEZES EU ME RESERVO NO DIREITO DE APENAS OBSERVAR

ATÉ COMEÇAR TUDO OUTRA VEZ

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

ÀS VEZES

ÀS VEZES ESCREVER É A ÚNICA COISA QUE ME FAZ SENTIR VIVA

NÃO TENTE COMPETIR COM ISTO

VOCÊ VAI PERDER

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

POR QUE NÃO?

Priscila conversava com Bernardo virtualmente fazia uns dois meses. Mas parecia pelo menos dois anos. O casal se encontrara pela primeira vez no mundo virtual por acaso, em um chat. Ela, a Loira Carente 30. Ele, o Bronzeado Solitário. Priscila, na verdade, no início não se interessara. Mas o Bronzeado Solitário foi insistente, puxou assunto, fez um agrado e então os dois acabaram combinando de se encontrarem novamente via chat.

Já na segunda vez o papo fluiu e evoluiu para o Whatsapp. Priscila revelou seu nome, Bernardo também e ambos gostaram muito da foto um do outro. Carente e infeliz pelo término do seu último relacionamento, não foi difícil para que Priscila logo se apaixonasse. Bernardo, além de boa pinta, era um cara trabalhador, gostava de praia e não era gastador. Divorciado, era tudo o que Priscila sempre sonhou. Mais velho e sempre atencioso, ela acreditava que o homem era um príncipe.

Quando as amigas perceberam o tamanho do envolvimento de Priscila, foram logo avisando: ei, este cara não é tudo isto! Ele é perfeito demais! Se liga, mulher!”

Mas mesmo com tanta paixão, o encontro custou um pouco a sair. O motivo? Bernardo morava a cem quilômetros de distância e o trabalho e problemas familiares o impediam de ir ao encontro de Priscila. Ela não se importou, embora a paixão estivesse maior e mais forte. A jovem já se imaginava construindo uma família com Bernardo, um mundo de conto de fadas. Embora ela própria soubesse que tinha asas nos pés, não podia deixar de levar fé que desta vez a relação tinha tudo para dar certo.

Foi então que um dia, pelo whats, Bernardo disse que estaria livre no próximo sábado à tarde. Priscila se emocionou! Nossa! Só faltavam dois dias! Ainda que soubesse – ou melhor, tivesse certeza absoluta – que Bernardo era um homem íntegro e respeitador, o tão esperado encontro foi marcado para ser em um shopping da cidade. Priscila comprou roupa nova, fez mais mechas nos cabelos e calçou um par de sandálias prateadas compradas na última liquidação. Ao se olhar no espelho, ela aprovou sua imagem. Certamente Bernardo ficaria encantado. Uma hora antes do encontro, Priscila pegou um táxi e tensa, chegou ao local do encontro – uma cafeteria – meia hora antes. Ela sentou recatada na cadeira, olhou ao redor, mas não viu ninguém parecido com Bernardo. Mas era cedo demais. Tentando descontrair e fingir que aquela era uma situação natural, pegou o celular e começou a mexer nele. Quando o relógio bateu 18hs e 15 min, Priscila suspirou. Nada. Se algo houvesse acontecido, Bernardo teria avisado. Porém, não havia notícias. Na certa o cara pensara melhor e tinha desistido de conhecê-la.

Uma mulher surgiu à frente de Priscila, que levantou os olhos para ela, desinteressada. Provavelmente a pessoa desejava alguma informação.

– Pois não? –perguntou Priscila sem tirar sua atenção do celular.
– Priscila?

Ué? A mulher sabia o nome dela? Priscila a encarou fixamente.

– Como você sabe meu nome?

Para espanto da jovem, a outra puxou a cadeira e se alojou à frente de Priscila.

– Não estou sozinha.
– Você é igual às fotos – sorriu a mulher. – Ou melhor, mais linda ainda. Mais do que eu imaginava.
O coração de Priscila se acelerou.
– O que…
– Conversamos tanto… – ela pegou a mão da garota –… Você é tudo o que eu sonhava.

Priscila puxou a mão de volta e encarou mais ainda a outra mulher. Ela era tão estranha! Cabelo curto, voz mais grave. A roupa definitivamente não era nada feminina.

– Quem é você? – a voz dela saiu ríspida.
– Beatriz. Ou Bernardo. Me chame como quiser.

O choque foi tão arrasador que por cinco segundos o mundo rodou. Priscila custou a conseguir focar os olhos em Beatriz. Ela sorria com ar conquistador. Parecia muito segura de si.

– Se eu falasse que era uma mulher – explicou olhando fixo nos olhos de Priscila – você poderia fugir. Mas eu sei que depois que me conhecer melhor, seremos ótimas amigas. Bem mais que isto, até.
– Isto é jogo sujo! – disparou Priscila segurando a bolsa, pronta para ir embora – Eu fui enganada durante todo este tempo!
– Ah, você é tão bobinha… E isto me encanta, sabe? Várias vezes eu dei indícios sobre quem realmente eu sou. E você nunca percebeu nada.
– Acreditei em tudo o que você falou! Como teve coragem de prosseguir com esta história sórdida?

Priscila tentou manter a voz firme, porém não conseguiu. Estava prestes a perder o controle e a elegância.

– Me conheça melhor – propôs Beatriz – e você verá que nada é tão terrível como está parecendo agora. Dê-me uma chance. Tenho certeza que seremos muito felizes.
– Não! – Priscila levantou bruscamente. – Jamais! Jamais irei me envolver com uma mentirosa como você! Bruxa!

Ela deu meia volta e saiu correndo pelo shopping, com as lágrimas escorrendo pela face. Arrasada, Priscila pegou o primeiro táxi que apareceu, chegou em casa e se encerrou no quarto. Se sentia profundamente envergonhada. Apaixonara-se por uma mulher! Não, não era bem isto. Aquilo acontecera porque a tal Beatriz se passara por um homem. O homem dos seus sonhos era uma mulher! Uma mulher! Que raiva! Priscila socou o colchão várias vezes. No lugar do coração agora existia um imenso vazio. Beatriz mandou mensagens. Muitas, todas ignoradas, naquele dia e nos dias seguintes.

Priscila escondeu a história de todo mundo. As amigas no início insistiram. Todas desconfiavam que o tal Bernardo aprontara alguma, mas era impossível saber o que era. A jovem deixou de lado os convites para sair. Uma das amigas tentou apresentar um primo, mas Priscila refutou.  E para seu espanto, ela sentia uma falta terrível de Bernardo. Ou melhor, da imagem que construíra na sua mente. O seu príncipe encantado era uma mulher que dia a dia mandava mensagens com palavras bonitas e carinhosas. Aos poucos, Priscila começou a dar mais atenção às palavras que Beatriz lhe enviava. Leu uma, duas, três vezes. Nenhum homem jamais havia sido capaz de escrever coisas tão lindas para ela.

Beatriz parecia ser uma pessoa cuidadosa. Preocupava-se com o bem-estar de Priscila. Não havia dia que não perguntasse como ela estava, que era linda e que adoraria vê-la mais uma vez. Nem que fosse a última vez. Priscila começou a se sentir tocada. Depois, emocionada. Durante toda sua vida não tivera sorte com homem nenhum. Quando não era traída, eles se mostravam uns babacas completos. O último então se superara! Colocara dois chifres na sua testa como se aquilo fosse normal.

Por que não? – perguntou –se ela pegando o celular e discando o número de Beatriz.