O tropel de cavalos se fez ouvir ao longe. Alerta, Arwen correu até a amurada do castelo. Era início de uma noite fria. As aias que a seguiram deram risadinhas e se cutucaram, olhando para a princesa, tentando todas elas decifrar alguma espécie de tensão no seu rosto. Arwen, contudo, se manteve em silêncio olhando para frente. O primeiro cavaleiro trazia um estandarte com o brasão da família. Mais atrás, vinha o rei e, logo depois, o príncipe, seu futuro marido. De longe, era impossível ver o rosto dele.
一 Ansiosa, princesa?
一 Nem um pouco. ー era a mais pura mentira. Ela passou a mão pelos longos cabelos louros, cacheados. 一 Quem deve estar nervoso é ele.
A jovem respirou fundo disfarçando o quanto seu coração batia acelerado. Um homem que nunca vira antes e com quem iria se casar em breve, estava chegando para conhecê-la. Não fazia a menor ideia de como ele era. O Rei, pai de Arwen, somente lhe dissera que o rapaz era um pouco mais velho que ela. E nada mais.
一 É melhor eu descer e recebê-lo. Podem ficar por aí. Não preciso de companhia.
A princesa deu meia volta e caminhou, a passos calmos. Mas sua vontade era sair correndo, atravessar os longos corredores, descer a escadaria e se postar no portão do castelo. Sonhara com o príncipe na noite passada. Ele era alto, cabelos louros e tinha um rosto forte. Acordara excitada e molhada. E esperançosa que seu príncipe fosse tão formoso como o do sonho.
Quando chegou ao salão nobre do castelo, os visitantes já estavam por lá. Havia um burburinho, conversas altas e risadas. Os reis já se conheciam e haviam acertado o casamento entre Arwen e o príncipe há um bom tempo, o que não parecia justo para ela. Mas, enfim… era assim que as coisas deveriam ser.
Ela reparou que havia um homem jovem, de costas, vestindo um manto dourado que quase arrastava pelo chão. Arwen se arrepiou. Assim, de longe, o príncipe parecia belo.
一 Arwen, minha filha. ー o Rei Cork fez um gesto para que a princesa se aproximasse. 一 Venha conhecer seu futuro marido.
Todos os olhares, menos o do príncipe, se voltaram para ela. De cabeça erguida, Arwen atravessou o salão mostrando uma segurança que não sentia. Percebeu os olhos do outro rei, seu quase sogro, a lhe fitar, intensamente. Gostaria de observá-lo melhor. Ele era alto, possuía uma barba grisalha e um porte altivo. Mas depois se concentraria nele. Arwen não suportava mais a curiosidade em saber quem era seu noivo. O homem com quem dividiria uma vida e o reino vizinho. Arwen se aproximou mais. O salão estava em silêncio, na expectativa do encontro.
A ansiedade que sentia em olhar para o rosto do príncipe (e nem sabia seu nome ainda), não parecia ser a mesma dele. Quando estava há uns cinco passos, ele resolveu olhar para trás e encará-la. A princesa estacou, de repente. Os olhos de ambos se fixaram um no outro.
Arwen teve vontade de sair correndo do salão e fugir do castelo para nunca mais voltar.
Como seu pai tivera a coragem?
*
一 Filha, quero lhe apresentar o príncipe Elinor.
O rapaz fez uma mesura com a cabeça, enquanto Arwen permanecia estática e em choque, sem sequer piscar.
Elinor era, simplesmente, o homem mais feio que já havia visto na vida. Muito mais feio que Affonso, o louco, que circulava pela cidade pedindo comida e dizendo impropérios. Elinor era magro, talvez por isto usasse o manto para disfarçar os ossos aparentes. As maçãs do rosto eram saltadas. Havia uma espinha explodindo bem na ponta do nariz. Entradas na cabeça já anunciavam que estaria calvo em breve. Os lábios eram finos. A roupa lhe caía mal. Ele estendeu a mão.
一 Prazer em conhecê-la, Arwen.
Seu hálito era fétido. Ela se viu obrigada a apertar a mão de Elinor, que era fria e seca. Imaginou aqueles dedos lhe tocando o corpo inteiro e teve vontade de vomitar. Retirou a mão logo, furiosa. O pai de Elinor, rei Vanius, então, se manifestou:
一 Estamos muito felizes por Vossa Alteza fazer parte da nossa família. Em breve.
Arwen se virou para ele. Ao contrário do filho, o futuro sogro era um homem bonito. Com um meio sorriso, encarava a princesa com seus olhos negros. Por alguns instantes, Arwen ficou perdida naquele olhar. E se pegou dizendo preferir casar com o pai e não com o filho.
一 Obrigada.
Estonteada, Arwen deu meia volta e saiu correndo. Não fugiu do castelo, como era sua vontade. Subiu novamente as escadarias de pedra e se refugiu no seu quarto. Deitada na cama imensa, chorou. De raiva do pai, da tristeza por estar prometida a um príncipe que lhe enojava e, principalmente, por estar morrendo de desejo por um homem que vira por somente cinco segundos.
*
A aia não demorou a aparecer. Encontrou a princesa com a cabeça afundada no travesseiro e o rosto inchado de tanto chorar.
一 Princesa, vim lhe arrumar para o jantar com seu futuro noivo.
一 Diga para meu pai que estou indisposta.
Ao mesmo tempo em que dizia isto, sabia que seria impossível não descer até o salão real. O príncipe percorrera longa distância somente para conhecê-la. Não podia fazer esta desfeita. E… havia o rei, o pai do seu futuro esposo.
Desejava vê-lo outra vez. Queria tocá-lo. Aquilo que era um homem de verdade e não aquele arremedo de macho que o pai lhe arrumara para ser seu marido.
一 Rei Cork lhe virá buscar, pessoalmente, se continuar aqui. Venha, vamos escolher seu melhor vestido.
A aia encheu uma tina com água fresca e passou compressas no rosto de Arwen, melhorando sua expressão. Depois a princesa escolheu um vestido rosado, apertado no busto e com algum decote.
一 Não sei se é apropriado este traje, princesa.
一 Mas é com ele que vou ao jantar, aia! ー Arwen decidira não se importar mais com nada. 一 Quero que meu noivo veja como sou linda.
一 Ele deve estar encantado.
A princesa colocou uma pequena tiara nos cabelos louros.
一 Pois eu não.
*
Havia mais gente no jantar em que Arwen foi, oficialmente, apresentada ao seu noivo, o príncipe Elinor. Arwen recebeu os cumprimentos de pessoas próximas ao Rei sem conseguir disfarçar sua expressão de desagrado. Não conseguira mais olhar para o rosto do príncipe nem mesmo quando sentaram, frente a frente, na grande mesa onde a comida foi servida.
Do lado direito de Elinor, sentara Vanius, pai dele. Elegante e com voz sedutora, Vanius atraiu para si todos os olhares. Era um homem magnético. Sua risada era bonita de ouvir, contagiando a todos que estavam no salão. Não apenas Arwen se mostrava encantada por ele. As outras mulheres também. Contudo, era para a princesa que o rei endereçava seu olhar mais ardente.
O vinho era servido sem moderação. Quando criou coragem, Arwen levantou os olhos para Elinor. Ele estava quase bêbado, falando algumas besteiras. Talvez por ser príncipe e próximo rei de um reino importante, as pessoas riam do que ele dizia. Vanius, no entanto, não parecia muito satisfeito com aquele comportamento. Depois de um tempo chamou um dos seus cavaleiros e Elinor saiu amparado do salão por dois homens. Arwen respirou aliviada. Sentiu-se mais livre para admirar o sogro, e pouco estava se importando se havia outras pessoas, inclusive o pai, que percebiam seu jogo. As risadas da princesa a cada coisa que Vanius dizia ecoavam pelo salão. Parecia uma prostituta, ela sabia. E tinha por quem puxar. A Rainha Magenta, sua mãe, era conhecida por ter um homem a cada noite até que Cork, certa ocasião, decidiu acabar com aquela libertinagem e a degolou juntamente com o amante da ocasião.
一 Filha, está na hora de você se recolher.
A voz fria do pai interrompeu uma troca pulsante de olhares entre ela e Vanius. Formou-se um silêncio constrangedor. Vanius bebeu um gole do seu vinho como se aquilo não o atingisse. Arwen, no entanto, sentiu uma certa mágoa. Como assim? Depois de passar mais de duas horas em quentes contatos visuais, o rei Vanius parecia não importar que ela se ausentasse. A princesa tomou um último gole de vinho e se levantou. Sentiu um pouco o salão rodar, mas logo se recompôs. Fez uma breve mesura sem olhar para ninguém e foi em direção à saída do salão. Duas aias se aproximaram, talvez temerosas que Arwen estivesse bêbada o bastante para não conseguir caminhar sozinha. Com um gesto, ela as afastou. O coração batia forte. Como desejava aquele homem. E seu pai, o cruel Rei Cork, eliminara a possibilidade, tal qual fizera com a fogosa Rainha Magenta.
*
As aias acomodaram Arwen na cama, envolta em cobertas para atravessar a noite fria. Depois, foram para o quarto ao lado onde dormiram em seguida. A princesa não relaxou. O calor a consumia. Jogou as cobertas para o chão. Quase não conseguia respirar. Escutava as vozes alegres vindas do salão e gostaria de estar lá, ao lado dele. Sentia como se o espírito de Magenta fizesse parte dela também. Agora compreendia as razões da mãe para se comportar daquele jeito que ela mesma, Arwen, desprezara por anos a fio. O desejo era mais forte que seus princípios. Apenas desejava sentir Vanius dentro de si.
E, até aquela noite, nunca a princesa deitara com homem algum.
*
Ela dormiu, apesar da febre que lhe queimava por inteiro. Acordou, de repente, sentindo o colchão afundar. O luar entrava através das cortinas quando Arwen abriu os olhos, surpresa com a movimentação. Foi entre a penumbra que ela pôde enxergar a sombra de Vanius.
Arwen sentou na mesma hora, nua. Devia ter tirado a roupa enquanto dormia. O rei esticou a mão calosa e firme, e segurou um dos seios. Sussurrou:
一 Por eles e por muito mais estou aqui.
一 Então venha ー implorou ela. Detestou seu próprio tom de voz. Não devia mostrar o quando necessitava do corpo daquele homem. 一 Não posso mais esperar.
Vanius deitou por cima de Arwen. O peso, aquele tipo de peso, era uma novidade. Não sabia que um homem podia ser tão pesado… O cabelo solto foi puxado para trás e o pescoço da princesa ficou exposto. A boca de Vanius começou a agir por ali.
Foi instintivo. O Rei não precisou sequer forçar. Arwen abriu as pernas para recebê-lo. E não se importava que doesse. Ouvira relatos de primeiras noites. Dolorosas e cruéis primeiras noites. Estava disposta a sentir todas as sensações possíveis.
Vanius lambeu, beijou e mordeu a pele alva do pescoço da princesa para, em seguida, descer para os seios onde se demorou por um tempo. Os gemidos de Arwen era algo que ela não podia controlar. Ele murmurava palavras pesadas que a excitavam mais. Alguém havia dito que a primeira vez de uma mulher era ruim? Aquilo estava longe de ser.
Então, Vanius levantou finalmente o rosto e encarou Arwen. Extasiado. Em segundos, ele atirou seu manto negro no chão e se desfez de todas as suas roupas o mais rápido que podia. A princesa posicionou-se sobre seus cotovelos para poder admirá-lo em toda sua nudez.
E, quando o viu inteiramente nu, se deu conta que a diversão sequer tinha iniciado.
*
A primeira coisa que pensou foi que não o suportaria todo dentro dela. Aquilo não podia ser de verdade. Arwen temeu e tremeu. De desejo e medo. Não podia recuar e sequer Vanius permitiria que ela fugisse naquele momento. Suas pernas foram afastadas ainda mais e Arwen ficou totalmente exposta. O membro estava duro e parecia uma tora. Ele vai me rasgar todinha, pensou a princesa. Com uma das mãos, ele colocou seu membro junto ao corpo dela.
一 Já sentiu algo parecido na sua vida?
Ela balançou a cabeça fazendo que não. Mal respirava. Instintivamente, tentou fechar as pernas, contudo Vanius a escancarou ainda mais.
一 Não pense que vai fugir de mim, princesinha. Você é minha. Pelo menos, nesta noite.
Arwen teve vontade de dizer que seria dele por todas as noites possíveis. Mas quando ele forçou o membro dentro dela, a princesa deixou escapar um grito.
一 Pode gritar. Ninguém virá salvar você. Estão bêbados demais para isto.
一 Quem disse que quero ser salva?
Vanius puxou Arwen para junto de si e ela foi penetrada com força. A princesa gritou mais alto, pouco se importando se de fato alguém iria escutar.
一 Se a princesinha quiser, eu paro.
Arwen o encarou. Vanius sorria, lascivo. Ela entendia aquele olhar. Ele jamais iria parar mesmo que ela implorasse.
一 Eu quero mais…
Vanius se deitou por cima dela de novo, em vários movimentos de vai e vem. Arwen o envolveu com suas pernas e o abraçou com força, não querendo perdê-lo e nem que o tempo passasse. Sentia dor e uma espécie de prazer. As unhas dela riscaram as costas do rei e o seu pescoço estava marcado pela boca de Vanius. O peso daquele homem fazia com que se sentisse protegida. Em que outro reino encontraria um homem assim?
Um jorro quente dentro da sua vagina interrompeu os movimentos frenéticos. Ele rolou de cima dela e ficou estirado sobre a cama, de olhos fechados. Arwen se tocou entre as pernas. Sangue e uma gosma branca escorriam por ali. Finalmente, murmurou. Se a sua virgindade era um troféu para seu pai, então ele havia perdido o jogo.
A mão dele tocou na barriga lisa de Arwen. Ela o encarou, com carinho.
一 Gostaria que fosse você e não seu filho.
一 Eu sei. Ele sabe. Seu pai sabe. A esta altura, o reino inteiro deve saber.
Vanius voltou a sentar. Com um rápido movimento virou Arwen de bruços.
一 O que…
一 Fique quieta. Eu não acabei.
As nádegas de Arwen foram separadas de um modo bem pouco gentil. Assustada, sem saber o que estava por vir, ela agarrou firme o colchão. Será que ele seria capaz de…
A dor de ser penetrada por trás foi tão aguda que a princesa soltou um grito. Enterrou o rosto no meio de uma das cobertas, pois estava certa que seus berros seriam escutados do outro lado do rio.
Sem pausa, Vanius a penetrou por trás seguidas vezes, batendo-lhe nas nádegas com força. Os gritos abafados de Arwen o excitavam mais. Em algum momento, ele pegou os cabelos da princesa e ela sentiu que não passava de uma égua nas mãos dele. O rei a cavalgava. Poderia estar sendo ruim. Mas não era.
A porta que ligava o quarto da princesa ao das aias se abriu. Em meio ao seu desvario, Arwen virou o rosto para o lado. Duas das suas aias, uma ao lado da outra, paradas, em choque, assistiam à cena. Quando Vanius se deu conta que eram observados, desmontou de Arwen e foi em direção a elas. Uma tentou fugir, mas não foi longe. A outra logo foi pega pelo rei. Com cada aia debaixo do braço, Vanius as jogou na cama. Por algum tempo, fez o que quis com ambas, sob os olhares surpresos de Arwen. Mais tarde, quando as duas aias jaziam nuas e exaustas sobre a cama da princesa, o rei vestiu suas roupas, jogou o manto por cima do corpo e foi embora, sem dizer mais nada. E sem olhar para trás.
As três garotas se entreolharam. Envergonhadas umas das outras, mas satisfeitas.
*
No outro dia, rei Vanius e príncipe Elinor partiram antes de Arwen levantar. O Rei Cork, constrangido, explicou para a filha que o príncipe não desejava casar. Ela agradeceu aos céus. O corpo estava dolorido, o pai a olhava desconfiado. Talvez a história não fosse bem aquela. Isso não importava. A questão é que nunca mais iria encontrar um homem como Vanius. Tanto seu coração como seu corpo ansiavam por ele.
O dia passou calmamente. Arwen e suas aias, que mal a encaravam, passaram aquelas horas preguiçosas no tear. Quase não conversaram nada, ainda impactadas pelos acontecimentos da madrugada. A hora de dormir chegou. Na cama de Arwen ainda restavam as marcas do sexo com Vanius. O pescoço fora envolvido com uma manta durante o dia para que o pai e mais ninguém percebesse os hematomas.
Não havia muito tempo a perder. Arwen despachou as aias e jogou algumas roupas mais simples em uma trouxa, soltou o cabelo e se despenteou. Vestiu também uma roupa velha que a fazia parecer uma das camponesas. Cobriu-se com um manto antigo, porém quente. Se conseguisse sair do castelo, era possível que ninguém se desse conta que a moça loira e magra andando pela cidade era a filha de Cork.
Quando a madrugada chegou, não foi difícil despistar os guardas do Rei, bêbados de tanta cerveja. A princesa passou pelos portões do castelo e ganhou a noite, desapareceu no meio do bosque, disposta a lutar pelo que acreditava que devia ser seu.
Vanius.