Serena encarava o piloto da moto sentada em uma cadeira de rodas, esperando a mãe e Keila chegarem ao hospital e a levarem para casa.
一 Então você não tem a menor ideia de quem seja? ー ela mal podia conter a ansiedade.
Ele suspirou. Serena já tinha feito aquela pergunta mais de uma vez.
一 Não. Eu vi a caminhonete se aproximando e fiz sinal para ele parar.
一 Então ele tem uma caminhonete?
Ela se inclinou para frente, a ponto do homem, com um curativo na testa, temer que ela caísse.
一 Uma caminhonete cor prata. ー ele olhou para Serena, curioso. 一 Você o conhece?
一 Eu? Não. Quer dizer, talvez. ー a mente de Serena funcionava rapidamente. 一 Você… acha que ele é turista?
一 Turista? Creio que não. Acho que ele mora em Monte Noel. Ou está passando uma temporada por aqui.
一 Ótimo. ー os olhos de Serena brilhavam. 一 E o nome? Ele não disse? Tem certeza disso?
Sueli e Keila apontaram na porta, ambas sérias. Mas ao verem Serena sentada e acenando para elas, logo uma fisionomia de alívio surgiu em seus semblantes.
一 Minha filha! ー Sueli foi ao encontro de Serena e a abraçou. 一 Achei que tivesse sido mais grave.
一 Foi só um susto, mãe.
一 Você se machucou?
一 Estou só um pouco dolorida.
O piloto da moto, ansioso para ir embora, se levantou, despediu-se de Serena e foi embora mancando. Keila comentou:
一 Puxa, este acidente foi ocorrer justo agora que você irá começar a trabalhar na floricultura.
一 Não se preocupem. ー Serena olhou para os lados e conferiu se estavam sozinhas. Como não havia nenhuma enfermeira por perto, se levantou da cadeira de rodas sem dificuldade. 一 Amanhã eu irei trabalhar normalmente. Nada que uma boa noite de sono não dê jeito.
Sem querer o apoio da mãe ou da amiga, Serena saiu do hospital ladeada pelas duas. Keila perguntou:
一 Tem certeza que você está bem?
一 Claro. ー Serena sorriu, lembrando de quem a socorrera. 一 Sabe quem me juntou do chão?
Sueli e Keila se entreolharam sem entender.
一 Quem? ー Sueli perguntou, curiosa.
一 Ele.
一 Ele quem?
一 O desconhecido pelo qual me apaixonei.
O sorriso bobo que tomava conta do rosto de Serena aborreceu Sueli.
一 Serena, de quem você está falando? Não acredito que ainda está sonhando com o cara que ninguém nunca viu.
Em poucas palavras, Serena narrou o que acontecera. No final, enquanto aguardavam um táxi, suspirou:
一 O motoqueiro contou que ele me carregou nos braços com todo cuidado. Uma pena eu estar inconsciente.
一 Uau! ー exclamou Keila. 一 Ele ainda está pela cidade.
一 Sim, pode ser que ele não seja turista. ー Serena olhou para elas, ansiosa. 一 Isso significa que tenho chances de revê-lo. Ou algo mais. Quem sabe, agradecer pessoalmente.
一 Será que ele lembrou de você, amiga?
Sueli interrompeu:
一 Keila, é óbvio que não. Esta loucura toda é só da parte da Serena.
一 Mãe, você não vai estragar minha alegria.
一 Cale a boca e entra no táxi, Serena. ー o automóvel parou frente a elas. 一 Você já vem me dando muito trabalho nos últimos dias.
Um pouco dolorida, Serena fez o que a mãe mandava, enquanto aspirava a própria roupa para ver se havia algum resquício do perfume que o agora não tão desconhecido poderia estar usando naquela noite.
Sentiu-se uma boba.
Mas uma boba feliz.
Nota da Autora: como informado anteriormente, este é o último capítulo de Noites Encantadas postado neste Blog. A versão integral está disponível na Amazon através do link abaixo:
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