Apesar de todo o esforço de Francine, Tamara não conseguiu superar seu coração partido. Nos dias que se seguiram ela se arrastou da loja para casa e da casa para a loja como um zumbi. Em quinze dias perdeu 5 quilos. A família morava em outra cidade e Francine pretendia acionar algumas das irmãs de Tamara para tentar ajudá-la também. Aquilo já estava demais. Era uma verdadeira obsessão.
Tamara não se dava conta o quanto estava realmente obcecada por Daniel. Para sua decepção, ele consumira com a conta na rede social e, por fim, lhe bloqueara no aplicativo de mensagens, tornando impossível qualquer contato. Por fim, desistiu. Aos poucos, porém, uma ideia começou a se formar na sua mente.
Francine percebeu de cara que a amiga estava diferente. Não que fosse uma mudança para melhor, mas algo se transformara nela. Os olhos brilhavam... mas de uma forma maligna. Até o sorriso modificara. Quando conversava com Tamara, ela parecia estar com a cabeça em outro lugar. Muitas vezes Francine precisava chamar sua atenção para que escutasse o que estava dizendo.
Sim, Tamara estava aprontando alguma. E tinha a ver com o tal Daniel.
*
Era uma quinta-feira. O dia amanhecera claro e com céu azul. Tamara acordou com novo vigor e disposição. Seu plano de vingança contra Daniel estava pronto. Chegou a escrever metas para ficar mais fácil de seguir. Sabia que era loucura e nem comentou nada com Francine. Racional como sempre fora, a amiga certamente iria tentar demovê-la da loucura. Porém nada e nem ninguém a demoveria da sua brilhante ideia.
Satisfeita consigo mesma, Tamara pegou a bolsa e saiu para enfrentar um novo dia de trabalho. Tinha uma reunião com dois fornecedores e precisava se apressar. A uma quadra do trabalho, bem em frente à praça principal, Tamara atravessou a rua sem olhar para os lados. Sua mente estava concentrada em Daniel e como o trucidaria sem dó nem piedade.
De repente, uma buzina frenética a acordou dos seus devaneios. Tamara olhou para a direita, assustada e surpresa. Um carro vermelho estava praticamente em cima dela.
Tamara não teve tempo sequer de gritar.
*
A vida de Daniel corria serena. Serena até demais. Com o bloqueio no aplicativo de mensagens, estava livre de Tamara. E daquela louca aventura, Jessica não tinha desconfiado de nada. O trabalho também estava bem. Havia vendido dois apartamentos nos últimos 15 dias e uma graninha legal estava para entrar na sua conta bancária. Não precisava de mais nada.
O celular tocou logo depois do almoço. Daniel tinha deixado a esposa no trabalho e se dirigia preguiçosamente para a imobiliária, que ocupava um prédio inteiro bem no centro da cidade. Vinha planejando um final de semana glorioso com as crianças, quando o aparelho vibrou dentro do seu bolso. Ele atendeu sem sequer olhar o visor. Só podia ser a Jessica.
− Alô?
− É Daniel?
− Sim, é ele mesmo – Algum cliente, pensou ele.
− Daniel, meu nome é Francine.
− Boa tarde, Francine. Em que posso lhe ajudar?
− Sou amiga da Tamara.
Daniel parou no meio da rua. Não esperava por aquela e logo se sentiu desconfortável. Que merda era aquela?
− O que você…
− Só queria lhe informar que Tamara foi sepultada esta manhã – disse ela com a voz fria. – Achei que você deveria saber.
Ele ficou branco.
− Mas… o que… o que aconteceu?
− Ela foi atropelada ontem. Foi tudo muito rápido. E… bem, ainda que o relacionamento de vocês tenha sido breve, achei que precisava lhe avisar. Tamara ficou muito abalada depois que você partiu daquele jeito, deixando só um bilhetinho. Eu tentei de tudo para ajudá-la, mas…
− Tamara… ela se deprimiu por causa daquilo?
O suor escorria pelas costas de Daniel. Todo o seu bem-estar foi por água abaixo.
− Demais. Andava displicente com a aparência e com a vida profissional. Não me surpreende que não tenha olhado para os lados ao atravessar a rua. Bem, é isto. Tenha um bom dia.
Ele ficou parado com o celular na mão. As pessoas se desviavam dele sem desconfiar o quanto Daniel se sentia péssimo com aquela notícia. Tamara morta! Puxa, não desejava aquilo para ela. E tampouco imaginava que ela ficaria tão deprimida por ter levado um pé na bunda. Se pudesse voltar atrás, faria diferente.
Não teria jamais se encontrado com ela na vida.
Daniel foi para a imobiliária e se trancou no escritório. A culpa aos poucos foi tomando conta dele. Merda. Por que um dia resolvera se envolver com uma mulher carente e depressiva? Agora ela estava morta e por sua causa!
Não, não era por sua causa. Ele não tinha culpa se Tamara não tinha sido madura o suficiente para lidar com o fim de um relacionamento baseado apenas no sexo. Era isto, simples assim. Pensou em mandar rezar umas duas missas em memória dela. E isso amainou seu sentimento de culpa.
Continua capítulo 6.