Priscila
conversava com Bernardo virtualmente fazia uns dois meses. Mas parecia pelo
menos dois anos. O casal se encontrara pela primeira vez no mundo virtual por
acaso, em um chat. Ela, a Loira Carente 30. Ele, o Bronzeado Solitário.
Priscila, na verdade, no início não se interessara. Mas o Bronzeado Solitário foi
insistente, puxou assunto, fez um agrado e então os dois acabaram combinando de
se encontrarem novamente via chat.
Já na segunda
vez o papo fluiu e evoluiu para o Whatsapp. Priscila revelou seu nome, Bernardo
também e ambos gostaram muito da foto um do outro. Carente e infeliz pelo
término do seu último relacionamento, não foi difícil para que Priscila logo se
apaixonasse. Bernardo, além de boa pinta, era um cara trabalhador, gostava de
praia e não era gastador. Divorciado, era tudo o que Priscila sempre sonhou.
Mais velho e sempre atencioso, ela acreditava que o homem era um príncipe.
Quando as amigas
perceberam o tamanho do envolvimento de Priscila, foram logo avisando: ei, este
cara não é tudo isto! Ele é perfeito demais! Se liga, mulher!”
Mas mesmo com
tanta paixão, o encontro custou um pouco a sair. O motivo? Bernardo morava a
cem quilômetros de distância e o trabalho e problemas familiares o impediam de
ir ao encontro de Priscila. Ela não se importou, embora a paixão estivesse
maior e mais forte. A jovem já se imaginava construindo uma família com
Bernardo, um mundo de conto de fadas. Embora ela própria soubesse que tinha
asas nos pés, não podia deixar de levar fé que desta vez a relação tinha tudo
para dar certo.
Foi então que um
dia, pelo whats, Bernardo disse que estaria livre no próximo sábado à tarde.
Priscila se emocionou! Nossa! Só faltavam dois dias! Ainda que soubesse – ou melhor,
tivesse certeza absoluta – que Bernardo era um homem íntegro e respeitador, o
tão esperado encontro foi marcado para ser em um shopping da cidade. Priscila
comprou roupa nova, fez mais mechas nos cabelos e calçou um par de sandálias
prateadas compradas na última liquidação. Ao se olhar no espelho, ela aprovou
sua imagem. Certamente Bernardo ficaria encantado. Uma hora antes do encontro,
Priscila pegou um táxi e tensa, chegou ao local do encontro – uma cafeteria –
meia hora antes. Ela sentou recatada na cadeira, olhou ao redor, mas não viu
ninguém parecido com Bernardo. Mas era cedo demais. Tentando descontrair e
fingir que aquela era uma situação natural, pegou o celular e começou a mexer
nele. Quando o relógio bateu 18hs e 15 min, Priscila suspirou. Nada. Se algo
houvesse acontecido, Bernardo teria avisado. Porém, não havia notícias. Na
certa o cara pensara melhor e tinha desistido de conhecê-la.
Uma mulher
surgiu à frente de Priscila, que levantou os olhos para ela, desinteressada.
Provavelmente a pessoa desejava alguma informação.
– Pois não? –perguntou
Priscila sem tirar sua atenção do celular.
– Priscila?
Ué? A mulher
sabia o nome dela? Priscila a encarou fixamente.
– Como você sabe
meu nome?
Para espanto da
jovem, a outra puxou a cadeira e se alojou à frente de Priscila.
– Não estou
sozinha.
– Você é igual
às fotos – sorriu a mulher. – Ou melhor, mais linda ainda. Mais do que eu
imaginava.
O coração de
Priscila se acelerou.
– O que…
– Conversamos
tanto… – ela pegou a mão da garota –… Você é tudo o que eu sonhava.
Priscila puxou a
mão de volta e encarou mais ainda a outra mulher. Ela era tão estranha! Cabelo
curto, voz mais grave. A roupa definitivamente não era nada feminina.
– Quem é você? –
a voz dela saiu ríspida.
– Beatriz. Ou
Bernardo. Me chame como quiser.
O choque foi tão
arrasador que por cinco segundos o mundo rodou. Priscila custou a conseguir
focar os olhos em Beatriz. Ela sorria com ar conquistador. Parecia muito segura
de si.
– Se eu falasse
que era uma mulher – explicou olhando fixo nos olhos de Priscila – você poderia
fugir. Mas eu sei que depois que me conhecer melhor, seremos ótimas amigas. Bem
mais que isto, até.
– Isto é jogo
sujo! – disparou Priscila segurando a bolsa, pronta para ir embora – Eu fui
enganada durante todo este tempo!
– Ah, você é tão
bobinha… E isto me encanta, sabe? Várias vezes eu dei indícios sobre quem
realmente eu sou. E você nunca percebeu nada.
– Acreditei em
tudo o que você falou! Como teve coragem de prosseguir com esta história
sórdida?
Priscila tentou
manter a voz firme, porém não conseguiu. Estava prestes a perder o controle e a
elegância.
– Me conheça
melhor – propôs Beatriz – e você verá que nada é tão terrível como está
parecendo agora. Dê-me uma chance. Tenho certeza que seremos muito felizes.
– Não! –
Priscila levantou bruscamente. – Jamais! Jamais irei me envolver com uma
mentirosa como você! Bruxa!
Ela deu meia
volta e saiu correndo pelo shopping, com as lágrimas escorrendo pela face.
Arrasada, Priscila pegou o primeiro táxi que apareceu, chegou em casa e se
encerrou no quarto. Se sentia profundamente envergonhada. Apaixonara-se por uma
mulher! Não, não era bem isto. Aquilo acontecera porque a tal Beatriz se
passara por um homem. O homem dos seus sonhos era uma mulher! Uma mulher! Que
raiva! Priscila socou o colchão várias vezes. No lugar do coração agora existia
um imenso vazio. Beatriz mandou mensagens. Muitas, todas ignoradas, naquele dia
e nos dias seguintes.
Priscila escondeu
a história de todo mundo. As amigas no início insistiram. Todas desconfiavam
que o tal Bernardo aprontara alguma, mas era impossível saber o que era. A
jovem deixou de lado os convites para sair. Uma das amigas tentou apresentar um
primo, mas Priscila refutou. E para seu
espanto, ela sentia uma falta terrível de Bernardo. Ou melhor, da imagem que construíra
na sua mente. O seu príncipe encantado era uma mulher que dia a dia mandava
mensagens com palavras bonitas e carinhosas. Aos poucos, Priscila começou a dar
mais atenção às palavras que Beatriz lhe enviava. Leu uma, duas, três vezes.
Nenhum homem jamais havia sido capaz de escrever coisas tão lindas para ela.
Beatriz parecia
ser uma pessoa cuidadosa. Preocupava-se com o bem-estar de Priscila. Não havia
dia que não perguntasse como ela estava, que era linda e que adoraria vê-la
mais uma vez. Nem que fosse a última vez. Priscila começou a se sentir tocada.
Depois, emocionada. Durante toda sua vida não tivera sorte com homem nenhum. Quando
não era traída, eles se mostravam uns babacas completos. O último então se
superara! Colocara dois chifres na sua testa como se aquilo fosse normal.
Por que não? –
perguntou –se ela pegando o celular e discando o número de Beatriz.
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