Carol caminhava
calmamente pela rua. Era noite, quase 22h30min, de uma sexta-feira. A garota de
20 anos voltava a pé do trabalho. Morava em uma cidade pequena onde nada
acontecia. Nada mesmo. Era possível caminhar pelas ruas a qualquer hora sem que
corresse o risco de ser assaltada, estuprada ou coisa pior. Os amigos se
concentravam na praça da cidade para bater papo e ouvir música no som alto dos
carros. Talvez alguns fumassem maconha, mas nada de grave decorria disto. Tudo
o que acontecia nas grandes cidades passava longe de Santa Palma. A calmaria
era entediante para ela.
A turma de
amigos de Carol era de gente boa. Gostavam de beber, mas moderadamente. Quando
não estavam na praça, se reuniam na casa de um ou de outro para fazer um jantar
ou churrascada. Alguém pegava o violão ou rolava um som eletrônico. Era legal.
Mas Carol queria mais.
Era muito
marasmo para uma pessoa só, pensava ela naquela noite estrelada. Seu sonho era
passar no vestibular, formar-se em jornalismo, trabalhar na TV e sumir de Santa
Palma. Victor, seu namorado há três anos, era nerd. Entendia tudo de computador
e se satisfazia com aquela vida simples. Isto enfurecia Carol. Se Victor usasse
todo seu conhecimento em informática, poderia viver longe de Santa Palma, em
algum lugar animado, dinâmico, com gente que poderia levá-lo para frente. Mas
não. Victor não queria sair da sua zona de conforto. Naquele momento ele
deveria estar chegando à praça com sua moto velha para se encontrar com os
amigos e esperar por ela. Todas as sextas-feiras era esta a programação. Carol
deixava a farmácia em que trabalhava, voltava para casa, tomava um banho e
tomava o rumo da praça.
Era bom ficar com os amigos.
Mas não o
bastante para ela.
Não faltava
muito para Carol chegar em casa quando escutou o barulho do motor de um carro
atrás de si. Curiosa, ela olhou para ver quem era. O cara mais gato da cidade ─
e também o mais rico ─ diminuiu a marcha para acompanhar os passos de Carol. A
garota ficou excitada. Sempre achara Tiago o mais top de todos. Naquele lugar
enfadonho, ele agitava horrores. Sem se preocupar com o amanhã, Tiago e seus
amigos bebiam, fumavam e cheiravam. Era um escândalo. Como não havia o que
fazer em Santa Palma, a turma de loucos se bandeava para outras cidades maiores
nos seus carros possantes. Victor torcia a cara para aqueles drogados, como se
referia. Mas para Carol eles eram o máximo. Uma pena que era invisível aos
olhos daqueles loucos.
— Oi, Carol.
Ela parou no
meio da calçada, ligeiramente estonteada. Como assim? Tiago sabia o seu nome?
Meu Deus, aquilo era bom demais.
— Oi... Oi, tudo
bem?
Tiago sorriu de
dentro da sua possante caminhonete prata. Aliás, dias antes Carol sonhara que
estava dentro daquele carro. Será que… será que seu sonho seria realizado?
— O que uma
garota bonita como você está fazendo sozinha numa noite gostosa como esta?
Carol piscou.
Sério mesmo? Ele a achava “bonita”?
— Eu estou indo
para casa.
— Para casa? ─
Tiago olhou para o relógio caro que trazia no pulso. — Tão cedo? Quer dar uma volta?
Ela disse para
si mesma: resista.
— Volta?
Uma brisa
balançou os cabelos loiros do rapaz.
— Você tem algum
compromisso?
Carol se lembrou
dos amigos que a esperavam na praça e de Victor com sua moto velha.
— Tudo bem se
você não quiser.
Tiago fez menção
de que iria arrancar com o carro.
— Não. Não vá ─
se não fosse ela, seria outra garota. — Quero dar uma volta. Com você.
Com um sorriso
gostoso, ele abriu a porta da caminhonete. — Entra aí.
Dois segundos
depois Carol estava comodamente instalada ao lado dele, feliz e extasiada.
Jogou a bolsa para o banco de trás e se viu obrigada a confessar:
— Nunca andei em
um carrão destes.
— Deu pra ver.
Prepare-se ─ Tiago acelerou — para a aventura da sua vida.
*
Nos primeiros
cinco minutos eles ficaram em silêncio. Volta e meia Tiago a olhava e sorria.
Carol mal podia se conter. Como queria pegar o celular e fazer uma selfie.
Seria o assunto da cidade por muito tempo. De repente Tiago perguntou:
— Quer uma
carreira?
— O quê?
— Quer cheirar?
Carol engoliu em
seco quando viu Tiago aproximando o nariz de um pó parecido com talco e cheirando
uma carreira de cocaína. Quer dizer, ela achava que fosse. Tiago fechou os
olhos e os abriu novamente para encarar Carol.
— Tenho mais um
pouco. Quer?
Carol nunca
tivera vontade de cheirar droga nenhuma. Nem nunca pensou nisto.
— Nunca cheirei
nada na vida. Só meus perfumes ─ disse ela, tentando fazer graça.
Ele riu também.
— Mude sua vida.
Você tem esta chance aqui comigo.
Ao lado de Tiago
a vida de Carol não parecia nem um pouco sem graça. Muito pelo contrário.
Parados naquela rua deserta, ela não recuou quando Tiago lhe estendeu uma
agenda com uma carreira de cocaína em cima.
— Vai. É só
cheirar.
Carol fechou os
olhos. Era só negar.
— Ok. Quero ver
como é ─ arrematou ela, nervosa e curiosa ao mesmo tempo.
A garota cheirou
rápido, com medo de desistir e parecer uma idiota. Uma sensação estranha tomou
conta dela. Prazer, um prazer diferente.
— Nossa ─
murmurou ela.
— Vamos aloprar
─ Tiago arrancou com o carro. — A noite ainda não começou.