domingo, 5 de agosto de 2018

EVELINE



Olá, Leitorinhos!

Abaixo segue o primeiro capítulo de uma novela que estou escrevendo. Do que eu posso adiantar a sinopse, é sobre uma jovem de 20 anos cujo maior sonho é namorar e casar com um rapaz do seu bairro. Como todos seus planos em conquistá-lo dão errado, Eveline apela para um conhecido programa de televisão, o campeão de audiência Namora Comigo.


        

1
        – Bom dia, mundo!
         Eveline escancarou as venezianas da janela do quarto. Eram sete horas da manhã e as ruas do bairro recém começavam a ter algum movimento de pessoas indo para o trabalho. Lá da cozinha vinham os ruídos da mãe começando seus afazeres. O domingo havia sido longo com uma encomenda grande de bolo para uma festa de 15 anos. Eveline ajudara a mãe e com isto perdera um belo dia de sol. Mas não se importou muito. A mãe precisava daquele dinheirinho para pagar algumas contas pendentes.
         Ela desceu as escadas já pronta e maquiada. Cândida, com um lenço na cabeça, analisava os pedidos de encomendas para aquele dia.
     – Bom dia, mãe – Eveline deu um beijo na bochecha de Cândida e pegou um pedaço e pão. – Muita coisa para hoje?
         – Sim, mas eu vou dar conta – Cândida respondeu sem tirar os olhos do papel onde anotara tudo. – Seria muito melhor se você largasse o emprego na loja para me ajudar. Já pensou o quanto podíamos faturar? Nós duas juntas?
      – Ah, mãe... Não venha com este papo de novo – Eveline abriu a geladeira. – Não tem suco de laranja?
         – A Oscarina tomou tudo ontem.
Eveline se limitou a sacudir os ombros e terminou por pegar um copo de água. – A tia já saiu?
         – Claro – Cândida deu uma risada debochada. – Ela faz tudo por aquele emprego. Até darem um belo chute na sua bunda. Aí eu quero ver – Cândida olhou para a filha. – Você é como ela. Dá a vida pela loja até lhe mandarem embora com uma mão na frente e outra atrás.
         Eveline se encostou na bancada da pia ainda mastigando o pedaço de pão.
         – Mãe, hoje é recém segunda–feira. Não comece, por favor. Quero uma semana tranquila para nós. Além do mais, o Douglas não teria coragem de fazer isto comigo. Sou a melhor vendedora da loja.
         A jovem fez uma pirueta em frente à mãe.
         – Como estou?
         Cândida, concentrada nas suas tarefas, mal olhou para ela.
         – Hein?
         – Mãe! – Eveline pôs as mãos na cintura. – Estou bem? A minissaia é nova. Percebeu?
         Cândida observou a filha dar uma volta em torno de si mesma.
         – Por mim você está como sempre. Ah, legal a minissaia.
         – Puxa... mas eu não engordei nenhum pouquinho?
         – Não. Embora coma igual a um cavalo você está do mesmo jeito. E se dê por feliz, Eveline, com tanta mulher querendo emagrecer por aí. Posso trabalhar agora?
         Eveline fez um muxoxo. Fazia quase um ano que poupava dinheiro para implantar silicone no peito e na bunda. Mas ainda não conseguira juntar nem a metade para realizar o procedimento. Isto explicava o fato de ser a melhor vendedora da loja onde trabalhava. Precisava, desesperadamente, de um corpo novo.
         – Queria muito ter o bundão da Soraia – divagou ela.
         – Como é?
  – A Soraia. Namorada do Alexsander – Eveline não conseguiu disfarçar o despeito ao mencionar o nome da rival. – Eu podia ter aquele corpo.
         – Olha aqui, Eveline – Cândida perdeu a paciência de vez. – Se você cursasse uma faculdade não pensaria em tanta inutilidade. Me deixa trabalhar. Olha o mundo de coisa que eu tenho para fazer hoje.
         Eveline revirou os olhos. Uma hora depois a jovem pegou a bolsa, borrifou uma dose generosa de perfume no corpo e renovou o batom vermelho. Sabia estar longe de ser a mais mulher mais desejada, mas quando abriu a porta de casa para ir ao trabalho estava pronta para ganhar o mundo.


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