Ele estava de aniversário. E eu pensei o monte de coisas que podia
lhe dar. Cerveja, livros, bombons, cueca boxer, um celular novo, a viagem que
ele tanto queria, pagar aquele boleto vencido, sexo selvagem, meu eterno amor.
Não dei nada a ele. A quarentena me desempregou e eu não o amava mais. Feliz
aniversário, cuide-se.
quarta-feira, 24 de junho de 2020
FELIZ ANIVERSÁRIO
segunda-feira, 15 de junho de 2020
O CARA MAIS BONITO DO CAMPUS
Leitorinhos,
surpresa! Liberei dois capítulos de O cara mais bonito do campus para
degustação. Mas a história inteira vocês encontram na Amazon. O link está no
final da história.
Divirtam-se!
Entrei no quarto da minha irmã para pegar a blusinha amarela nova
dela e que nunca havia sido usada. Eu tinha o hábito (que Aline odiava) de
roubar as suas roupas. Aline, avoada, quase nunca se dava conta dos meus
furtos. Já com a blusinha na mão me deparei com o notebook aberto e uma
mensagem prestes a ser enviada. Oi? Quem ainda envia mensagens por e-mail? Só
podia ser coisa da retardada da Aline. Me aproximei, curiosa, e quase caí para
trás. Não era possível! Então minha irmã era apaixonadinha pelo Gabriel, o cara
mais lindo da faculdade? Que trouxa! O cara nunca iria olhar para a cara dela,
ainda mais que namorava a Bia, uma linda. Linda e ciumenta. Será que a Aline
iria mesmo enviar aquela mensagem ridícula para o Gabo? Bem, se lhe faltava
coragem, a mim sobrava. Apertei o enter e a mensagem foi.
— Boa sorte, maninha.
Vesti a blusinha
correndo, peguei a bolsa e saí para meu compromisso. Aline estava na cozinha tentando
dar um jeito no bolo de chocolate agora tão preto que parecia um pneu.
Minha irmã era mesmo uma
idiota.
*
Levei meia hora para
tentar tirar o cheiro de fumaça (minha mãe iria me matar) da cozinha, desgrudar
o bolo arruinado da forma e lavar tudo. Até já tinha esquecido o e-mail
açucarado para o Gabo. Porém, quando entrei no quarto e dei de cara com o
notebook escancarado, gelei. Nossa, que burrada. Esquecer o e-mail aberto com
uma mensagem daquele nível exposta poderia me causar constrangimentos. Corri
até o computador para apagar aquela besteira adolescente.
Levei um choque.
O e-mail já havia sido
enviado. E o pior. A caixa de entrada acusava que do outro lado a mensagem
havia sido recebida e lida. Meu Deus!
Escorreguei pela parede
até cair amontoada no chão. Quanto tempo eu pegaria de prisão por matar minha
única irmã?
Link da Amazon
https://amzn.to/2CcfJsN
segunda-feira, 1 de junho de 2020
A COISA (suspense)
Eu devia
ter mais ou menos quinze anos quando aportei em pleno mês de janeiro na casa
dela. Para minha sorte, minha prima Betina estava lá e nós nos dávamos muito
bem. Destemida, Betina não tinha medo de nada. Ela era um pouco mais velha do
que eu e muito atrevida. Betina gostava de nadar no rio que cortava a
propriedade a qualquer hora do dia ou da noite. Costumava circular pelos
caminhos escuros em plena noite só pelo gosto de aventura. Eu não a
acompanhava. Minha avó nunca desconfiou das loucuras da neta mais velha e, se
algum dia soube de alguma coisa, também não se importou. Mas eu ficava tensa,
deitada na cama, esperando, de olhos arregalados, minha prima favorita voltar
para a segurança do nosso quarto quentinho. Eu tinha alguma desconfiança que
alguns dos seus sumiços era para Betina se encontrar com algum namoradinho da
redondeza. Porém, naquele fim de mundo eu não tinha a menor ideia de quem
poderia ser.
Naquela
noite Betina jantou normalmente ao meu lado, ambas sentadas no sofá,
tagarelando, animadas. Peguei no sono em algum momento e quanto despertei, às
duas horas da manhã, a TV estava desligada e eu sozinha. Estonteada de sono fui
para o quarto que dividia com Betina. Para minha surpresa, ela não estava
dormindo. Não estava em parte alguma.
A
princípio, levei um susto. Depois me acalmei. Betina devia ter ido dar suas
voltas noturnas. Dei de ombros, me preparei para dormir e o sono foi embora.
Gostaria muito que minha prima voltasse logo para que eu pudesse ficar mais
descansada.
Cochilei e
acordei justo no momento em que ela entrava no quarto. Sentei imediatamente na
cama e acendi o abajur. Fiquei assustada. Minha prima estava com as roupas em
desalinho e descabelada. Não parecia estar retornando de uma aventura legal.
— O que
houve, Betina?
Ela não me
encarou. Tirou a roupa, vestiu a camisola e só então virou o rosto para mim.
— Uma
coisa me pegou.
Betina
estava sombria e meu coração ficou aflito.
— Que
coisa, Betina?
— Sei lá –
minha prima tremia. — No meio do mato tinha uma coisa. Ou alguém.
Me
assustei ainda mais. Fiz menção de sair da cama e ir até ela, contudo Betina se
cobriu com o lençol até a cabeça e me ignorou. Fechou os olhos e fingiu dormir.
*
Pelo
restante do dia também fui ignorada por Betina. Ela construiu uma espécie de
muro a sua volta e ficou quase em silêncio total o dia inteiro. Minha avó achou
esquisito e perguntou o que ela tinha. Betina foi breve:
— Dor de
barriga.
Tentei
arrancar alguma coisa dela, mas foi inútil. Betina ficou alheia a mim todo o
tempo. Reparei alguns arranhões nos braços dela e que foram disfarçados com um
casaquinho leve.
A noite
chegou e percebi que Betina foi se tornando mais ansiosa. Fomos deitar cedo e
jurei para mim que não iria dormir para controlar os movimentos dela.
Caí no
sono em menos de cinco minutos.
Acordei,
de repente, às duas horas da manhã. Minha prima não estava na cama como eu já
suspeitava. Joguei as cobertas para o lado e desci correndo as escadas que
levavam ao andar térreo da casa. Mesmo com medo abri a porta da frente.
Lá fora
estava frio e caminhei até a varanda. Minhas pernas tremiam tanto que me apoiei
no alpendre. Tudo deserto e escuro. Betina estava em algum ponto do mato que
cercava a propriedade. De longe eu escutava a correnteza do rio.
Não me
agradava ficar muito tempo ali fora, mas eu temia por Betina. Por que ela fora
atrás do perigo novamente? O que Betina tinha na cabeça?
Ruídos de
passos um pouco mais à frente me provocaram um arrepio na espinha. As pernas me
pesaram e eu custei um pouco a me mover do lugar. Os passos pareceram se
aproximar e eu dei meia volta e entrei correndo na casa. Encostei-me à porta
tentando puxar o ar. E se a “coisa” que pegara Betina tentasse algo contra mim?
Sem pensar duas vezes tranquei a porta e, com as pernas bambas, me arrastei até
a janela.
Escondida
entre as cortinas, fiquei agachada espreitando o lado de fora. O luar iluminava
um pouco mais agora. Tive a impressão que os arbustos se mexiam como se alguém
estivesse por ali. O pavor foi tamanho que abandonei o posto e, na correria,
derrubei o vaso preferido da minha avó. No quarto, lá em cima, me aproximei de
novo da janela, tremendo inteira. Porém, desta vez, parecia tudo calmo.
Menos eu. Não
iria conseguir pregar o olho até Betina voltar. Alguma coisa rondava a casa e
eu não tinha a menor ideia do que seria. Não sei qual hora Betina retornou. Mas
quando acordei (tive um sono recheado de coisas ruins) ela dormia com a expressão
atormentada. Muito pálida.
Aquele dia
foi esquisito. Estava nublado, cinzento e frio, em pleno janeiro. Betina passou
o dia de chambre, apática. Vovó deu várias xícaras de chá para ela que,
supostamente, sentia dor de estômago. Toda vez que minha vó ia até a frente da
casa eu morria de medo que a “coisa” saísse do meio do mato e a atacasse.
Betina
pareceu despertar por volta das oito horas da noite. Eu estava sentada ao lado
dela quando minha prima exclamou:
— Eu
preciso ir!
Sua voz
saiu fraca e eu a encarei, pasma.
— Ir para
onde, Betina? Você está doente.
Vovó
estava no quarto assistindo TV e provável que não descesse mais.
— Ele...
ele está me esperando.
— Meu
Deus! Ele quem?
Betina
parecia febril, o que eu confirmei quando encostei a palma da mão na sua testa.
Ela não respondeu e caiu em um leve cochilo.
— Vamos
deitar, Betina. Eu ajudo você.
Ela não
ofereceu resistência e em poucos minutos Betina estava na sua cama com dois
cobertores por cima. Não falou mais nada e deduzi que caiu no sono logo.
Restou eu.
Sozinha, perguntei o que deveria fazer. A curiosidade era grande, maior que meu
medo. Quem estava lá fora? Quem era o habitante noturno que rondava a
propriedade da minha avó?
A coisa.
Desci,
devagar, as escadas. Não haveria mal se eu fosse até a varanda. Ali estaria
protegida. Se fosse o caso, era só correr de volta para dentro de casa.
O ventinho
frio era um convite para que eu criasse juízo e retornasse para a segurança do
meu quarto. Mas eu fiquei parada no meio da varanda esperando algo acontecer.
Por que só minha prima podia cometer loucuras? Eu também queria emoção na minha
vida. Um friozinho na barriga me deixou mais encorajada ainda.
— Ela não
virá hoje – eu disse em voz alta.
Silêncio.
— Ela está
doente.
Nada
mudou. Desci os degraus da varanda e caminhei alguns passos. Seja lá o que
fosse, a coisa não queria nada comigo.
Talvez eu
não fosse especial como Betina o era.
— Ei, você
está aí? – levantei a voz um pouco mais ainda temendo que minha vó escutasse. —
Ela não virá ver você hoje.
Um
ventinho mais frio fez com que eu estremecesse. Não se ouvia um único som
naquele lugar. Decidi, então, voltar para dentro de casa. A razão me dizia que
eu não era para estar ali.
Contudo, antes
que eu me virasse senti algo se aproximando por trás de mim. Escutei uma
respiração pesada e passos mais fortes. Não tive tempo sequer de ver o que era.
Alguma coisa me envolveu passando os braços ao redor da minha barriga. Não tive
voz para gritar. O hálito quente no meu ouvido fez com que eu me arrepiasse de
prazer (Não! É errado!). Senti-me tonta de desejo, um arrebatamento nunca
experimentado. Era tão bom que fechei os olhos, extasiada.
Desmaiei.
*
Acordei ao
amanhecer de um dia sombrio deitada no piso gelado da varanda. Levantei, fraca,
mal podendo sustentar as pernas. Minha avó não podia me ver naquela situação.
Do jeito que pude, subi os degraus em direção ao meu quarto. Precisava da minha
cama. Não sabia o que tinha acontecido, estava exausta. Me atirei na cama e
dormi feito uma pedra. Quando abri os olhos outra vez era perto do meio dia.
Betina estava sentada em sua cama e me encarava intensamente.
— Ele
pegou você.
Minha
cabeça pesava.
— Hein?
— Você não
devia ter permitido – sussurrou ela com os olhos sinistros.
— Permitir
o quê? – sentei com alguma dificuldade.
Betina
veio até mim, devagar. Puxou para baixo a gola da camiseta que vestia. Dois
furos bem redondos eram visíveis no seu pescoço.
— Betina,
o que é isto?
Ela sorriu
para mim. Seus caninos estavam maiores e pontiagudos. Eu a encarei, incrédula.
Imagens de filmes de terror invadiram minha mente.
— Somos
duas agora – ela murmurou se ajeitando ao meu lado.
Engoli em
seco. Que merda era aquela? Senti uma fome incontrolável.
— Desejei
tanto seu sangue... – Betina sorriu. — Mas eu não podia fazer isto com você.
— Quem é
ele, Betina?
Ela estava
tão bonita naquela manhã... Não tinha mais aquele aspecto doentio.
— Estou
apaixonada, prima. Ah, eu o amo tanto.
Ela me
alcançou um pequeno espelho. Procurei minha imagem no reflexo, mas não a
encontrei.
Betina
prosseguiu:
— Você não
devia ter se envolvido, prima. Mas sua curiosidade foi além dos limites.
Seguiremos juntas por toda a eternidade. Com ele. É isto que você quer? Responda
logo.
Se eu
negasse o que aconteceria comigo? Ganharia uma estaca pontiaguda bem no meio do
coração?
— Betina,
estou com fome – gemi. Minha fome era algo difícil de descrever. Não era
normal. Eu poderia facilmente avançar sobre o pescoço de qualquer mortal que
ousasse aparecer na minha frente.
— Calma –
pediu ela. — Podemos ir até a casa do seu João. Lembra que a esposa dele ganhou
bebê mês passado?
Seu João
era um senhor muito simpático que prestava serviços caseiros para minha avó.
Não, eu não queria ir até lá. Precisava de sangue. Urgente. Para ontem.
— O gato –
sussurrei. — O gato dela.
Pimpão, o
gato angorá da minha avó. Ela o adorava. Eu também.
— Ótima
ideia. Sabe, também estou com fome – revelou Betina. — Acho que vou pegar o
coelho dela também.
Naquele
momento a porta do quarto abriu. Vovó nos encarou, sorridente, de avental. Na
certa preparava o nosso almoço. Eu senti o aroma subir as escadas e entrar no
meu nariz.
— Bom dia,
meninas! Fiquei preocupada! Dormiram tanto hoje!
Eu olhei
para Betina. Betina me devolveu o olhar.
Desculpe,
vovó.