Por volta da uma hora da manhã
decidiram voltar para casa. Adele se sentia feliz. Apesar de Luciano estar
cansado, os dois conversaram normalmente no carro. Talvez até fizessem amor
quando chegassem em casa.
No entanto mal entraram no
apartamento, Luciano bocejou e disse que iria tomar uma ducha antes de dormir.
Um pouco decepcionada, Adele não disse nada. Apenas o observou enquanto ele
tirava a roupa e colocava o celular em cima da cômoda. Luciano se trancou no
banheiro. Adele permaneceu sentada na cama com os olhos fixos no celular.
Aquilo não era do seu feitio.
Bisbilhotar não era próprio da sua personalidade. Mas obedecendo a um impulso
irresistível, Adele praticamente se jogou por cima da cômoda e pegou o celular
com as mãos já trêmulas.
Ela foi direto para a última ligação.
Ali estava um nome. Paula. Quem era Paula, ela se perguntou sentindo náuseas
novamente. Não tinha sido Antônio quem ligara? Desesperada, foi para a caixa de
mensagens. Parecia que seu parceiro só recebia torpedos dessa tal Paula. Adele
logo percebeu que eram conversas cifradas, em código. Luciano estava tão seguro
da situação que nem se dera ao trabalho de deletar. Ou então ele achava que
Adele era muito burra para não descobrir que a vadia da Paula era sua amante.
Adele ficou segurando por alguns
minutos o celular, sem saber ao certo o que fazer. Sentia-se entorpecida, quase
incapaz de se mexer. Dentro do banheiro Luciano finalmente desligou a ducha.
Adele pôs de volta o celular na cômoda, ainda tremendo. Teria que confrontá-lo,
mesmo que fosse muito doloroso.
− Que cara é essa?
− Só me responda se ela é mais nova
que eu.
A voz de Adele saiu fria como aço.
Luciano lutou para se manter sereno.
− Do que você está falando, querida?
Quem é mais nova que você?
− A Paula – e Adele apontou com a
cabeça para o celular – Essa que fica mandando mensagens em código para você. E
que você me mentiu que se chamava Antônio.
− Você bisbilhotou no meu celular? –
Luciano estava incrédulo.
− Há quanto tempo você está saindo com
ela?
Cada pergunta era uma facada no seu
próprio coração. Adele tinha medo da resposta de Luciano. E ele a encarava
furioso.
− Sempre respeitei sua privacidade.
− Quem é ela, Luciano? Eu que faço as
perguntas aqui.
Adele lutava para demonstrar firmeza
nas suas palavras. Sua voz não tremeu nenhuma vez, ao contrário do seu interior
que desmoronava.
Depois de uns dez segundos de silêncio
Luciano percebeu que não tinha mais saída. Era abrir o jogo ou abrir o jogo.
Ele pretendia fazer isso no momento certo, apenas estava aguardando que ele
chegasse. Definitivamente, o momento não era aquele.
− Paula é uma… uma amiga.
− Que tipo de amizade é essa?
− Uma amizade mais íntima.
Adele sentiu que todo o sangue
fugiu-lhe do rosto.
−Quantos anos ela tem?
− É tão importante assim para você? –
Luciano perguntou exasperado.
− Para mim é – Adele respondeu mais
fria do que nunca.
− Fez 29 anos semana passada.
Nada menos que 20 anos de diferença
entre nós, pensou Adele amargurada. Ser trocada por outra mulher já era
terrível. Porém ser preterida por outra muito mais jovem não tinha explicação.
Arrasada, Adele não teve mais coragem de olhar para Luciano.
− Escute, Adele...
− Chega, Luciano – ela olhava para o
outro lado – Vá dormir no quarto de hóspedes. Quando eu voltar amanhã do
escritório não quero encontrar mais nada seu em meu apartamento.
Adele fez questão de enfatizar bem as
palavras “meu apartamento”. Esperou que Luciano falasse alguma coisa, dissesse que
era um casinho sem consequências e que o amor da sua vida era ela, Adele, e não
uma idiota de 29 anos. Porém Luciano não falou nada. Apenas deu um suspiro,
abriu a porta do quarto e saiu. Por alguns minutos ela esperou que Luciano
voltasse implorando perdão. Isso não aconteceu. Certamente estava até aliviado.
Livre dela e pronto para viver um novo amor.
Cachorro.
Depois de uma noite pavorosa, Adele
levantou com olheiras, dor de cabeça e alguma náusea. Arrumou-se rapidamente e
foi a primeira a chegar ao escritório.
Queria evitar a todo custo se encontrar com Luciano. Não pretendia vê-lo
mais. Esperava sinceramente que ele não estivesse na sua casa quando voltasse,
à noite. Por mais doloroso que fosse, era melhor romper com todos os vínculos
de uma vez.
No escritório os colegas perceberam
que algo estava errado, mas Adele resistiu. Comportou-se bravamente em todas as
reuniões estressantes que teve que participar. Era a única maneira de escapar
da dor mais forte que viria mais tarde. Um pouco depois do meio dia, a
secretária – com uma expressão estranha – entrou na sua sala segurando um
envelope. Disse:
− O porteiro disse que o senhor
Luciano deixou lá embaixo.
Disfarçando que estava analisando um
relatório, Adele respondeu secamente:
− Pode largar aí na minha mesa.
… continua
…
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