Foi paixão à primeira
vista. Tiaguinho. 19 anos. Jogador de futebol em ascensão. Eu, que jamais me
prestara a assistir a um jogo de futebol, de repente me vi ardorosa torcedora
do Time. Moreno, simpático, falante. Ele aparecia em todos os lugares. Encantei-me
com suas fotos, as jogadas, o corpo. Enlouqueci por aquele garoto e minha vida
passou a girar em torno dele. Gastava toda a grana do estágio em revistas de
futebol e produtos do Time. Assistia a todos os jogos do Tiaguinho na TV,
sofrendo a cada falta, a cada dividida. Sonhava com ele de noite e de dia, de
olhos abertos e fechados. A parede do meu quarto estava lotada de fotos do meu
amor. E na minha inocência eu acreditava que casaria com ele um dia.
Foi então que a Cris,
minha melhor amiga, veio com uma proposta irrecusável. Atravessar a cidade e ir
até o clube assistir o Time treinar. E, quem sabe, até conseguir um autógrafo
do Tiaguinho. Pirei. No outro dia, escondida da minha mãe, matei aula e junto
com Cris rodamos duas horas de ônibus, ansiosas, tensas, dando risadinhas.
Vesti uma minissaia e botas, achei que estava arrasando. Ah, eu sabia que quando
ele pusesse os olhos em mim ficaria fissurado.
Passei todo o treino
grudada no alambrado, berrando o nome dele a cada toque de bola. Não apenas eu,
mas uma legião de garotas igualmente apaixonadas pelo Tiaguinho. A cada lance,
mais gritaria. E assim foi até o final. O treino acabou e eu e a Cris ainda
ficamos por lá. Jamais arredaria pé enquanto não falasse com ele. Aos poucos o
lugar foi esvaziando e restamos somente nós duas naquele fim de mundo. Os
carros dos jogadores começaram a sair. Eu estava ansiosa. Tiaguinho passaria
por ali a qualquer momento.
Tudo aconteceu muito
rápido. De repente um flamante carro negro e rebaixado atravessou os portões.
Era ele! Eu e Cris nos precipitamos na sua direção, chamando-o histéricas.
Tiaguinho parou o carro. Atendeu-nos gentilmente. Para mim rabiscou
displicentemente seu nome no caderno que lhe estendi. Para Cris ele esticou o
olhar, sorriu, tirou foto e ainda lhe passou o número do celular em um
pedacinho de papel. Partiu dando uma piscadinha para ela. Ao meu lado minha
amiga exultava, enquanto eu segurava minhas lágrimas de máxima rejeição. Tiaguinho
mal me olhara. Minha vida perdeu a cor. Joguei meu caderno no lixo e voltamos
para casa. Enquanto Cris ria sozinha dentro do ônibus, eu amaldiçoava o mundo.
A vida não presta.
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