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Sílvia chorava abraçada a um
travesseiro. Fabi, preocupada, tentava consolá-la:
− Não perca seu tempo chorando
por aquele boçal, Sílvia.
− Artur disse que eu fiz um
boquete nele! Mas eu estava dormindo! Dor-min-do!
− Ele estava bêbado. 90% do
pessoal bebeu e foi dormir. Ele sonhou.
− Eu quero ir embora.
Fabi se desesperou. Se Sílvia partisse
ela não poderia invadir o acampamento novamente e atacar Artur. Precisava da
amiga por lá para poder se passar por ela.
− Não dá. Lembra que sua mãe
assinou uma declaração que você só pode voltar com a escola?
− E o que eu faço?
− Nada. Deixe-o falar.
− Não vou à festa nenhuma mais.
Hoje a noite vou ficar aqui – Sílvia declarou indignada.
− Tudo bem. Eu fico com você – retrucou
a outra, mais aliviada.
− Ai, linda – e Sílvia segurou as
mãos de Fabi. – Onde vou encontrar uma amiga como você?
Fabi sorriu, sem jeito. Se ela
soubesse…
8
A noite chegou e com ela os preparativos para outra festa de
arromba. Sílvia, como uma boa menina, sacou da sua mochila as agulhas de tricô
e várias linhas. Quando Fabi perguntou o que era aquilo, ela respondeu
docemente:
− Um blusão para o mô.
− Ah…
Ao redor das duas, as outras garotas soltavam gritinhos
enquanto se arrumavam. Muitas bocas vermelhas, minissaias apesar do frio da
serra, todas parecendo muito empenhadas em fazer daquela última festa a melhor
de todas. A partida seria no domingo, após o meio dia. Sílvia estava louca para
ir embora. Fabi nem tanto. Não sem antes fazer outro boquete demorado no Artur.
As colegas saíram em bando para a festa por volta das dez
horas da noite. Sílvia, bocejando e largando o tricô de lado, anunciou:
− Quer saber de uma coisa? Vou dormir.
− Mas já?
− Estou morrendo de sono. Você não?
− Muito.
Por dentro Fabi incendiava. Ela sentia tudo, menos sono.
Estava disposta a ficar acordada a madrugada inteira somente esperando o grande
momento chegar. Queria fazer Artur feliz novamente. Será que ele acreditara em
Sílvia ou desconfiava que fora outra mulher quem lhe fizera o boquete? Isto não
importava. Outra chance como aquela não apareceria nunca mais e Fabi não estava
nem um pouco a fim de desperdiçar aquela grande oportunidade.
Sílvia pegou no sono logo. Fabi ficou acordada. De olhos
fechados, fingiu que dormia quando as colegas chegaram por volta das 3 horas da
manhã. Em menos de 20 minutos todas dormiam. A maioria tinha bebido demais.
Quando o relógio bateu 04h15min da madrugada, Fabi repetiu o roteiro da noite
passada. Vestiu o casaco, escondeu a peruca e saiu de fininho do alojamento. Lá
fora a noite estava muito fria. Por dentro, Fabi queimava.
9
Ela empurrou a porta do
alojamento masculino e se encaminhou até a cama de Artur. O garoto dormia
pesadamente. Sem perder tempo, Fabi se aproximou e começou a repetir toda a
operação da madrugada anterior. Com mais desembaraço, conseguiu puxar as calças
de Artur. Logo o pau saltou e ela logo sentiu as calcinhas úmidas. Colou a boca
no cacete dele e deu duas sugadas fortes.
Mas algo estava diferente. Na noite passada o pau dele estava com outro
sabor. Humm... mas até que estava bom.
De repente a luz acendeu. Fabi
recuou e caiu sentada no piso frio. O alojamento todo estava iluminado. O
professor de geografia a encarava surpreso. Ele puxou as calças para cima e
arrancou a peruca dela.
− Fabíola! O que você está
fazendo?
− Preciso explicar? – murmurou
ela, vermelha de vergonha.
Artur surgiu de repente ao lado
dela. Estava mais espantado que o professor.
− Então foi você quem me chupou
ontem?
Fabi continuou sentada no chão,
esperando que um buraco se abrisse e ela desaparecesse para sempre. Todos os
meninos a encaravam divertidos. Sua mãe iria lhe matar…
10
A notícia correu logo. Fabíola
estava na boca do povo já na hora do café. A história da peruca loira e o
boquete em Artur e no professor de geografia renderia histórias para todo o ano
letivo e além. Sílvia, quando soube do ocorrido, entendeu tudo. A peruca era
exatamente igual ao seu cabelo, por isso Artur a abordara. Indignada, Sílvia
rompeu relações com Fabi, jurando que nunca mais olharia para sua cara. Já as
outras colegas a olhavam em um misto de inveja e admiração. Admiração? Sim,
pois Artur já espalhara para todo mundo que o boquete de Fabi havia sido
perfeito. Ela já aguardava uma punição severa e não sabia o que diria para seus
pais quando chegasse em casa.
A viagem de volta foi um
martírio. Fabi colocou um capuz na cabeça e os fones de ouvido para não ouvir
as brincadeirinhas dos colegas. Mas o pior de tudo era sua amizade com Sílvia
haver terminado. Não importava ser expulsa da escola, sofrer buliyng ou o
castigo dos pais. Sua grande amiga e mentora agora a odiava. E com razão.
O escândalo realmente foi grande.
Tão grande que Fabíola trocou de escola e perdeu a grana da mesada por tempo
indeterminado. De repente tudo havia mudado. Novos colegas, ausência da Sílvia
(a pior coisa) e saudade do pau do Artur. Os meninos da sua sala não lhe
causaram nenhuma emoção – ou calor – em especial. Em suma, eram todos uns
bostas. Fabi, com toda sua experiência em boquetes, começou a pensar na
hipótese de atacar algum professor.
O de Química parecia ser bem
dotado...
Mas algo aconteceu. Na sua
segunda semana de escola nova o celular de Fabi tocou. No visor um número
estranho. Puxa... talvez fosse Sílvia. Cheia de esperanças, ela atendeu
afobada:
− Alô?
− Fabi? Sou eu. O Artur.
As pernas dela tremeram. Artur?
Mas como ele descobrira seu telefone?
− Oi… oi, como vai você?
− Tudo legal. E aí? Topa dar uma
voltinha?