Cris ficou esperando por notícias
do Agnaldo durante longos seis meses. Nem um telefonema, mail, pombo correio.
Silêncio total e absoluto.
Meio anos antes,
Agnaldo, num misto de arrogância e satisfação, informara para Cris que fora
convidado a assumir uma das gerências da multinacional em que trabalhava, em
Belém do Pará. Cris exultou. Sim, agora não haveria mais motivos para retardar
aquele noivado que já durava três anos. Agnaldo finalmente iria pedi-la em
casamento e ambos viveriam uma vida feliz em Belém. Um bom cargo, filhos, vida
mansa. A vida que a vidente lhe previra há um tempo estava finalmente
acontecendo.
Mas para espanto
de Cris, Agnaldo somente comunicara sua transferência para Belém, fizera as
malas e em dois dias partira, prometendo notícias assim que se instalasse. A
mãe de Cris costumava dizer, sarcástica, que Agnaldo ainda não havia se
instalado, tendo em vista a ausência total de sinais vitais.
Num primeiro
momento, ela achou que ele estava morto. Não conhecia a família do Agnaldo para
obter notícias, mas a avó da Cris, com seus oitenta anos, logo deu o veredicto:
notícia ruim chega logo. Agnaldo deveria era estar aproveitando a sua nova vida
de solteiro.
Cris desabou.
Cachorro, sem vergonha, ordinário. Seria mesmo possível? Naqueles últimos seis
meses, Cris emagreceu, não retocou sua tintura loira, andava de tênis e
camiseta até no serviço. As colegas, pesarosas, tentavam ajudá-la a sair
daquela depressão causada pelo cafajeste, mas Cris não queria se ajudar. Se
pelo menos chegasse um mail!, dizia ela para si mesma.
Então ela teve uma
idéia brilhante: A vidente! Aquela que lhe previra uma vida maravilhosa poderia
dizer o que acontecera com o safado. Cris ligou para a mulher e implorou um
horário no mesmo dia. Em menos de duas horas, estava sentada na frente da
mulher e da sua bola de cristal.
Mas para espanto
seu, a vidente lhe disse as mesmas coisas. Um homem maravilhoso, alguns filhos,
uma vida pacata e feliz. Poderia não ser o Agnaldo, mas e daí? O Agnaldo era o
único homem da face da terra? Não. Então que Cris ficasse calma e aguardasse. O
único cuidado que deveria ter era com um pequeno acidente sem maiores
proporções.
Um pouco mais
feliz, Cris saiu da vidente com a cabeça nas nuvens. Quando foi atravessar a
rua tranquila, na frente da casa da mulher, foi atropelada pelo que ela julgou
ser uma bicicleta.
O casamento com o presidente da
multinacional em que Agnaldo supostamente ainda trabalhava estava marcado para
logo mais às dezessete horas. Três meses depois do atropelamento, Cris se
lembrava do acidente rindo de tão feliz. Quando sentira o baque do Audi e caíra
no asfalto, ela ficara ligeiramente desacordada. Mãos fortes a seguraram pelo
rosto e um perfume a envolveu. Inebriada, ela respirou fundo e entreabriu os
olhos. Deparou-se com o homem mais bonito do mundo. Agnaldo sumiu da sua visão
para nunca mais voltar. Agora, prestes a casar com seu atropelador, Cris se
sentia uma afortunada. A vidente lhe dera sorte, mas tanta sorte, que foi
escolhida para ser sua madrinha de casamento.
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