segunda-feira, 3 de abril de 2017

O HOMEM DO JARDIM (Capítulo 10)




Magda estava cansada depois de ter passado o dia em reuniões. Apesar de ter ficado em casa, trabalhara igual como se estivesse na prefeitura. Na biblioteca, sentada em frente a sua mãe, Magda tentava prestar atenção no que ela queria dizer. Provavelmente era papo furado.

— Você está melhor do resfriado, minha filha?
— Não muito – Magda olhou rapidamente para a caixa de lenços ao lado, sobre a mesa. Estava quase no fim. — Vou tomar leite com mel e ir para a cama. Devo estar melhor amanhã.

Dona Laura cruzou as mãos no colo. Queria disfarçar sua ansiedade, mas era quase impossível.

— Aconteceu algo importante hoje.
— Aqui na mansão? – Magda riu, um pouco despeitada. — Acho que o último grande evento deste lugar foi há 40 anos. Quando meu pai sumiu.

O silêncio de Dona Laura disparou o alarme na mente de Magda. Chegando mais para frente, ela perguntou:

— O que houve aqui que ainda desconheço?

Dona Laura fez um sinal com os olhos para um saco preto encostado à porta da biblioteca.

— Descobrimos uma ossada ao lado do poço.

Magda encarou a mãe sem entender.

— O que a senhora está dizendo...
— Creio que é do seu pai.

A outra encostou-se ao espaldar da cadeira. A expressão era de choque.

— Como você… tem certeza que é ele?
— Ele apareceu novamente nos sonhos de Francesca.
— De novo esta palhaçada? – a voz de Magda saiu estridente. — Quando vocês duas irão parar de brincar com coisa séria?
— Está ali o resultado da brincadeira – retrucou Dona Laura, firme.
— Mãe, por favor! – Magda ficou em pé, alterada. — Você não percebe que está sendo vítima de um golpe de Francesca?
— Mal qual motivo esta moça teria para nos dar um golpe destas proporções, Magda? Ela mal chegou aqui!
— Você não conhece a maldade deste mundo! Ela pode ter sido plantada na mansão para realizar suas trapaças! Ou então seus comparsas falsificaram o currículo perfeito para colocá-la aqui dentro e assim arrancar todo nosso dinheiro!

Dona Laura sacudiu a cabeça negando cada palavra da filha.

— Você está completamente enganada! Francesca é um doce de pessoa!
— Você contou a história de nossa família a ela! Assim foi fácil planejar alguma coisa com a quadrilha da qual ela faz parte. Os ossos – Magda apontou dramaticamente para o saco — certamente são de outra pessoa. Alguém que provavelmente ela ou seu bando assassinaram!
— Se há alguma dúvida vamos fazer o exame de DNA!
— Este tipo de exame demora muito para sair o resultado. E custam muito caro.
— Nós temos dinheiro para bancar. Eu tenho certeza que é Gregório. Seu pai realmente apareceu nos sonhos de Francesca. Nada disto é mentira.
— O que você espera fazer, afinal? – Magda estava exasperada.
— Dar um enterro decente para seu pai. A pessoa que o matou pode não ser descoberta jamais, mas Gregório merece descansar no jazigo da família.

Magda balançou a cabeça e riu, irônica:

— Isto é bizarro. O que você pretende fazer? Chamar a vizinhança para o velório? Lembre que se fizer alarde que um esqueleto foi encontrado dentro da mansão, a polícia vai se meter. Sabe quando sairá o enterro deste monte de osso anônimo? Depois do seu.

Dona Laura pensou um pouco para depois dizer:

— Não há necessidade de envolver a polícia. Vou providenciar uma caixa e colocar os ossos dentro. Farei uma coisa bem simples. Boa noite para você.

A senhora levantou com dificuldade, foi até a porta e chamou um dos empregados para levar o saco com os ossos de Gregório para seu quarto. Antes de sair, olhou para a filha e disse:

— Antes que você se ofereça, não quero sua ajuda. Clodoaldo pode me acompanhar até o quarto. Fique aí com suas dúvidas. Amanhã, quando você estiver com a cabeça mais fria, conversamos.


Incrédula, Magda observou a mãe sair da biblioteca junto com o empregado. Ela só foi para seu próprio quarto depois da meia noite.

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