O movimento estava
grande naquela manhã. Era um movimento de vai e vem de pessoas e telefones
tocando sem parar. Simplesmente era impossível manter qualquer tipo de
conversação com minhas colegas. Por um lado era ótimo. Pelo menos o assunto “sexo”
ficava em segundo plano.
Eu estava atendendo a
uma ligação quando percebi Angélica e Kelly se cutucando por debaixo do balcão.
O movimento não estava tão intenso naquele momento, mesmo com algumas pessoas
passando por ali. Não entendi o motivo das meninas parecerem tão excitadas.
Talvez fosse algum menino bonito que tivesse dado uma piscadinha para elas,
pensei ingenuamente. E esqueci o assunto.
Alguns minutos depois
quando tudo parecia mais calmo, Kelly suspirou:
− Val, você perdeu.
− Perdi o quê? – fiquei curiosa.
− O homem.
− Que homem?
− Dr. Leonardo – informou Angélica, abanando-se com um pedaço de papel
transformado em leque. – Ele passou por aqui.
Aquele nome não me era
estranho. Dr. Leonardo…
− Quem é? Não consigo me lembrar…
Tive a impressão de que
minhas duas colegas queriam meu fígado. Como eu não sabia de quem se tratava o
tal Dr. Leonardo???
− Não acredito, Val, que você fez uma pergunta destas! É o presidente, o
chefão de todas nós!
− Ah… − lembrei vagamente que o RH havia me dito algo sobre. – Bem, se
ele passar por mim nem vou fazer ideia de quem seja. Vocês precisam me avisar.
Angélica e Kelly se
entreolharam.
− Nem é preciso avisar você, Val. De longe você verá quem ele é.
− Por quê? Ele é gordo?
Santa inocência.
Angélica me encarou quase furiosa.
− Você acabou de dizer um sacrilégio.
− Devo lavar a boca? – eu ri sem entender o motivo de tanta excitação por
causa do presidente da empresa. – Ele não é gordo?
− Valdirene – começou a falar Kelly pondo a mão no meu ombro, – o Dr.
Leonardo é simplesmente o homem mais bonito do Brasil. E eu não estou
exagerando.
Todos meus instintos
afloraram naquele instante e posso dizer que minha vida mudou a partir dali.
Fiquei curiosíssima.
− Como assim o mais bonito do Brasil? Você está tirando sarro da minha
cara, não é mesmo?
As duas balançaram a
cabeça negando que aquilo tudo fosse uma brincadeira. Realmente eu nunca as
vira tão sérias.
− Quando você pôr os olhos no cara ficará louca de tesão.
Interessei-me terrivelmente
por aquela informação. Precisava saber mais sobre o tal Dr. Leonardo.
− Então me conte. Como ele é?
Angélica passou a dar a
ficha do chefe, auxiliada por Kelly. O sentimento de adoração era genuíno.
− Imagine um homem de 1,90 centímetros de altura – Angélica o descrevia
com gestos significativos – e com os olhos mais negros e misteriosos que alguém
pode ter. Quando aquele deus olha para alguém, nunca se sabe o que ele pode
estar pensando.
Fiquei aflita.
Subitamente lembrei-me de Samanta Hot. Sussurrei:
− Continue.
− Ele usa ternos lindos, bem cortados − continuou Angélica com os olhos vidrados, –
mas mesmo assim dá para ver os músculos perfeitos do braço, do abdômen...
Kelly foi em frente:
− Já enxerguei o músculo da perna dele saltando nas calças. E a boca…
Nossa, aquilo não tem explicação.
Tomei um gole da minha
garrafinha de água. Elas estavam descrevendo um deus grego.
− O que tem a boca dele?
− Carnuda. Gostosa. Boa de beijar.
− É? – mesmo sem conhecer meu chefe, os pensamentos que vieram a minha
mente foram totalmente pecaminosos. Coincidentemente, Kelly os traduziu quase
na mesma hora:
− Fico imaginando aquela boca na minha buceta.
Virei quase toda a
garrafinha dentro da boca. Angélica não se fez de rogada e disse:
− Teve uma vez que ele passou por nós à paisana. Sabe o que isso
significa? Que ele estava vestido com um jeans claro e uma blusa branca comum.
Marcava a bundinha dele, sabe? Nós piramos sentadas aqui.
Quem estava
completamente pirada era eu. Construí a figura de um homem na minha mente e já
estava completamente envolvida com ele. Balbuciei:
− E… ele passou por aqui hoje?
− Sim, ele passou por nós – respondeu Kelly, suspirando. – Parecia estar
desfilando em uma passarela.
− Será que ele vai voltar?
Minha voz saiu
esganiçada.
− Sei lá. Às vezes ele tem reuniões fora, viagens, ficamos dias sem
vê-lo.
− Mas sempre que ele lembra nos dá um abaninho – disse Angélica. – Para
nós é tudo.
Minha barriga roncou
naquele instante e eu lembrei que estava de dieta. Incentivei-me mais ainda.
Para Dr. Leonardo dar bola para mim, eu precisava chamar atenção. Estar magra.
Talvez loura. Quem sabe usar batom vermelho para aumentar o tamanho dos lábios.
Silicone nos peitos, no futuro.
Fiquei apaixonada
baseada apenas nas descrições das minhas amigas. Sentia-me uma adolescente
babaca. Queria demais conhecer aquele homem.
Passei o resto do dia
somente comendo frutas e esperando meu chefe cruzar a porta. Ele não apareceu.
E eu não desisti.