Quando cheguei em casa, à noite, estava exausta. Não pelo serviço. Aquilo
era molezinha. O problema era conseguir manter uma mentira 24 horas por dia.
Pelo menos estava me saindo bem. Eu tinha certeza de que nenhuma das duas
colegas desconfiara da minha situação. Mas até quando?
Eu estava atirada no
sofá quando me deparei com minha mãe vindo na minha direção. Dei um berro:
− Tira esse negócio daqui, mãe. Pelo amor de Deus, eu preciso emagrecer!
Ela parou no meio do
caminho segurando um pratinho com um pedaço suculento de bolo de chocolate com
cobertura de leite condensado. Fechei os olhos para não cair em tentação.
− Homem não gosta de mulher magra, Valdirene. E você está tão bem...
− Bem gorda – não adiantou somente fechar os olhos. O cheirinho delicioso
entrou pelo meu nariz descaradamente. – Você não tem ideia de como fiquei
ridícula naquele uniforme da empresa. Ou eu perco cinco quilos em um mês ou me
interno em um SPA.
− Vai jantar o quê, então? – perguntou ela, inconformada com a minha
recusa.
− Um prato de sopa.
− Você vai ficar fraca.
− Antes uma fraca magra a uma gorda forte. Quer fazer a gentileza de
tirar esse troço do meu nariz?!
Entrei debaixo do
chuveiro tentando imaginar como seria minha vida dali para frente. Enquanto não
arrumasse um namorado de verdade, eu viveria na corda bamba. Qualquer deslize e
minha terrível vergonha seria descoberta. Na verdade era muito mais fácil eu
bancar a discreta e ficar na minha. O único problema é que eu não queria ficar
para trás de Angélica e Kelly. Queria mostrar que podia tanto quanto elas.
Infelizmente, no presente momento, eu não podia coisa alguma. Nem um namorado
eu era capaz de arrumar.
Mas podia inventar um.
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