Cheguei em casa à noite completamente transformada. Fui direto para o
espelho me analisar. Sim, eu precisava urgentemente de uma recauchutada geral.
Diminuir alguns centímetros na barriga era fundamental. Minha dieta seguia
razoavelmente bem. Talvez houvesse emagrecido alguma coisa. Mas para conquistar
Leonardo, meu chefe, e a quem eu nunca havia visto até então, era preciso muito
mais. Certamente ele gostava de ficar com beldades. Eu estava longe de ser uma.
Por enquanto.
Meus objetivos agora
voavam mais alto.
− Não precisa emagrecer mais. Você está bem assim.
Ignorei o comentário
mentiroso da minha mãe. Perguntei:
− O que acha
de eu tingir meu cabelo de loiro?
− Acho que
você ficará parecendo uma puta.
Ignorei de novo aquele comentário
mal educado e grosso. Porém, estava decidida. No sábado pintaria meu cabelo de
loiro. Loiro Marilyn Monroe. Minha cabeleireira oficial não se importaria que
eu pagasse no final do mês. Um corte moderno, cabelos mais claros, magra.
Leonardo – ou Dr. Leonardo enquanto ele fosse meu chefe – iria se encantar por
mim.
*
− Tem certeza
de que é isto que você quer?
Dona Carmem segurava meus cabelos
analisando cada fio. Sim, eu estava decidida.
− Claro. Não
aguento mais olhar para a minha cara.
− A razão de
querer mudar o visual é algum homem?
Prontamente respondi:
− Não.
− Pois bem −
disse ela finalmente pegando a tesoura e pedindo para a auxiliar misturar a
tinta com a qual iria me transformar para sempre em uma diva. – Você sabe que
para manter cabelos loiros é preciso muitos cuidados. E muita grana.
− Vai em
frente, dona Carmem. Quero sair daqui outra mulher.
− Você
pediu.
Fiquei 3 horas no salão. Em alguns
momentos cochilei na cadeira tamanho o tédio. Sonhei com Dr. Leonardo. Foi um
sonho erótico, minha calcinha estava molhada quando senti um cutucão no meu
ombro. Achei que fosse ele, mas quando abri os olhos me deparei com uma figura
loira me encarando pelo espelho. Quase gritei quando percebi que aquela era eu.
− Que tal?
Que tal? Nem eu sabia. Não conseguia
dizer se estava bonita ou feia. Estranha aos meus olhos, por assim dizer. Dona
Carmem fez um milagre. Meu cabelo sem graça ficou repicado, moderninho. Ganhei
uma franja, ela caía meio de lado na minha testa. E a cor…
Ultra loira. Não havia um fio de
cabelo escuro na minha cabeça. Exótica era a palavra que melhor me definia.
Quando eu emagrecesse, ficaria igual a Madonna. Tentei prestar atenção no que
Dona Carmem dizia:
− Você
precisará retocar os cabelos de mês em mês e hidratar semanalmente. Faça tudo direitinho
e não haverá problema.
Balancei a cabeça concordando com
tudo, mas não conseguindo assimilar coisa nenhuma. Saí do salão meio zonza, um
pouco envergonhada. Na rua meus vizinhos me olhavam com uma cara de terrível
espanto. Não sabia se estava agradando alguém. Desconfiei que não. Nem eu
própria sabia ainda o que pensava sobre meu novo look.
Entrei em casa em silêncio. Minha
mãe estava na cozinha, preparando seus doces, cantarolando em uma bela manhã de
sábado. Fui direto para o banheiro para me dar outra analisada. Meu Deus, eu estava
completamente diferente.
− Ai, meu
Jesus!
Minha mãe deu um berro quando me
viu. Não reconheceu a figura loura, de costas, e que tentava ansiosamente se
encontrar. Aquele grito ensurdecedor me fez gritar junto. Por uns 5 segundos
ficamos nos encarando, aparvalhadas. Foi o tempo que precisou para que minha
mãe se desse conta que eu era eu.
− O que você
fez, minha filha?
− Está muito
horrível?
Ela não respondeu imediatamente.
Olhou-me, fez caretas, pegou o cabelo para ter certeza de que aquilo era verdade.
Por fim respondeu:
− Horrível
não. Só está esquisito.
− Esquisito
pode ser pior que horrível.
− Para quê
tão loiro?
− Por que eu
queria mudar.
− Parabéns,
você conseguiu. Ainda bem que seu pai não está aqui para testemunhar esta sua
loucura.
Meu pai sempre fora muito rígido.
Andar de minissaia ou vestidos curtinhos eu só podia fazer quando ele estava
viajando. As poucas vezes que consegui arrumar um namorado foi escondido dele.
Se ele me visse daquele jeito me expulsaria de casa na mesma hora.
Por via das dúvidas não saí mais de
casa naquele dia. Fiquei trancada no quarto para não ter que escutar os
resmungos da minha mãe a respeito do meu novo visual. Para piorar o quadro, à
tarde ela recebeu visitas. Menti que estava com dor de cabeça e me tranquei no
quarto para ninguém me ver.
Foi quando Samanta Hot encarnou em
mim.
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