sexta-feira, 9 de novembro de 2018

ELE VAI PEGAR VOCÊ - Capítulo 1

Sinopse

Um gato aparece no pátio da casa de Carol. Mas o que poderia ser uma visitinha amigável se transforma num roteiro de terror. Para não serem atacados pelo bichano, Carol e o marido são obrigados a trancarem a casa inteira. Mas nada parece ser capaz de deter aquele gato negro que de fofo não tinha absolutamente nada.





Era um gato como qualquer outro. Preto, adulto, de bom tamanho. Apareceu na casa da Carol um sábado pela manhã vindo não se sabia de onde. Foi descoberto quando a moça abriu a porta que dava para o pátio. Deu de cara com o bicho a fitando com seus olhos amarelos. Não parecia muito amigável. Depois do susto inicial, Carol, que adorava gatos, tentou fazer uma interação com o felino. Não deu certo. Ele arreganhou os dentes e eriçou os pelos.

 — Nossa – Carol se encolheu. Ela precisava passar pelo gato para ir regar as plantas no fundo do pátio. — Sai daí. Xô. Xô, gato! Xô!

Ele sequer se moveu. Continuou encarando Carol como se fosse o dono do lugar. Impaciente, ela atirou um pouco de água nele. Foi pior. O gato então ficou em pé e Carol recuou com medo de um ataque. Porém, o gato não parecia querer briga, ainda que permanecesse encarando Carol com um ar até de deboche.

— Ah, você não vai sair? – Carol colocou o regador no chão. — Vamos ver quem ganha!

A moça deu meia volta e entrou na casa, não sem antes fechar a porta por medida de segurança. Não podia se dar ao luxo do gato invadir a cozinha e roubar a comida. O marido dormia a sono solto no quarto, mas isto não impediu de Carol sacudi-lo com força.

— Mauro, acorda. Acorda, é urgente.

Ele abriu um olho, depois outro. Instantes depois, entre um bocejo e outro, resmungou:

— Que foi?
— Tem um gato lá fora.

Mauro não respondeu logo e Carol pensou que ele estivesse dormindo outra vez. Ia sacudir o marido de novo quando ele perguntou:

— Você não gosta de gatos?
— Gosto, mas aquele é esquisito. Não consegui passar por ele para ir molhar as plantas.

O homem bocejou. Não estava interessado. A única coisa que queria era curar a ressaca da noite passada.

— Deixa ele lá. Depois o bicho vai embora.
— E se não for? Mauro, o gato tem jeito de mau!

Não tendo outro jeito, Mauro se espreguiçou para todos os lados possíveis e, com os efeitos da bebedeira da noite anterior, levou um tempo para ficar em pé.

— Vem logo, amor.

Mauro seguiu Carol até a porta do pátio. Ela apontou para o local e falou com um certo tom de medo na voz:

— O gato tá do outro lado.
— Calma. Você que deixou o bicho nervoso.
— Ele não é nervoso. Só é estranho.     

Com Carol alguns passos atrás, Mauro abriu a porta. De fato, o gato continuava ali, sentado outra vez, como se estivesse aguardando-o. Os olhos do animal fuzilaram o homem que chegou a prender o ar.

— Epa – disse ele, surpreso. — Mas o que é isto?
— O que foi, Mauro? – havia tensão na voz de Carol. — Ele continua aí?
— Sim – Mauro segurava a porta, ainda no batente. Não deu nenhum passo para frente como se temesse que o gato reagisse. — Por que ele fica olhando a gente deste jeito?

— Não falei para você? Tem algo estranho com ele.

Mauro, em sua dignidade masculina, não podia demonstrar o quanto aquela sensação o desagradava. Sem tirar os olhos do gato, ele estendeu o braço para trás e pediu:

— Me passa a vassoura.

Carol fez o que o marido pediu e recomendou:

— Não vá machucar o gato.
— Só quero assustar.

Mauro segurou a vassoura com uma das mãos e a com a outra mão livre fez um gesto em direção ao gato.

— Sai daqui. Volte para sua casa.

O gato não se moveu. Permaneceu sentado no mesmo lugar sem abandonar o ar irônico. Mauro não gostou muito daquele comportamento.

— Você é bem engraçadinho, não é mesmo? Se não sair por bem, vai sair por mal. Entendeu bem?
— Mauro – pediu Carol outra vez. — Você só tem que tirar o gato daqui.

Mal Carol havia terminado de falar, um grito estridente que mais tarde ela identificou como sendo miado do gato, feriu seus ouvidos. Em seguida o marido recuou violentamente para trás, aos urros, tentando afastar o animal que se jogara sobre ele.

Carol gritou junto e por instantes a casa foi tomada por sons de urros e miados. A visão do marido tentando desgrudar o gato do peito era horrenda. Sangue escorria do torso do homem provocado pelas garras afiadas do animal. Na bochecha de Mauro havia três grandes arranhões. Mauro se debatia, desesperado. Carol segurou a náusea que lhe subia pela garganta acima, incapaz de qualquer coisa para deter o ataque. Em algum momento Mauro conseguiu atirar o gato para longe de si. Ainda atordoado, ele percebeu que o felino se aprumava para uma nova e feroz investida. Desta vez, contudo, Mauro foi mais rápido. Um chute certeiro acertou a cabeça do gato que voou três metros adiante no pátio.

Então tudo silenciou. Carol mal respirava e caminhou com as pernas bambas até ao lado do marido.

— Minha nossa – murmurou ele, ofegante, olhando para seu próprio peito ensanguentado. Em seguida ele tocou no rosto e se surpreendeu ao ver as pontas dos dedos manchadas de sangue. — Este bicho infeliz estava possuído pelo capeta.

— Você matou o gato – Carol afirmou o óbvio, chocada com tudo o que presenciara.
— E você queria que eu fizesse o quê? Não viu o que ele fez comigo?

O corpo do gato jazia, inerte, provocando uma sensação de mal-estar no casal.

— E agora, Mauro? O que a gente faz?
— Vou levar este bicho daqui. Ele pode ser de alguém da vizinhança e eu não quero me incomodar.

Mesmo com o sangue escorrendo pelo corpo, Mauro pegou um saco grande de lixo e jogou o gato lá dentro. Carol observava a cena com os olhos cheios de lágrimas.

— Pobrezinho...
— Pobrezinho de mim! – esbravejou Mauro segurando o saco com uma das mãos. — Olha aqui como eu fiquei. Como eu vou trabalhar na segunda-feira com o rosto cheio de arranhões?

Mauro entrou na casa com o saco e deixou em um canto. Rápido, ele foi até o banheiro onde passou uma toalha molhada para remover o sangue. Com um algodão Carol tentou melhorar a aparência das lesões no rosto.

— Tomara que não infeccione – sussurrou ela.
— Vou levar o saco para bem longe daqui. Você vem comigo?

Minutos depois Carol e Mauro entraram no carro com o saco contendo o corpo do gato no porta-malas. Meia hora depois, ainda irritado, Mauro atirou o gato no lixão localizado na saída da cidade. Depois, com Carol fungando ao seu lado, ele partiu pisando fundo no acelerador.

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