Era uma criança linda
com grandes olhos azuis expressivos. Os cabelos louros e cacheados desciam em
cascata pelas costas. Por onde quer que passasse, Ravenna provocava murmúrios
de admiração. Era o orgulho dos pais e quando a mãe, Susan, engravidou do seu
segundo bebê, desejou que o próximo filho fosse tão angelical quanto sua
primogênita.
Mas quando Rebecca
nasceu, algo mudou no comportamento de Ravenna. Em seus quatro anos de vida,
sempre fora o centro das atenções onde quer que estivesse. Contudo, ao ver
aquele bebê rechonchudo, de pele alva e sorridente no bercinho cor-de-rosa,
algo se acendeu dentro dela.
No início Susan não
deu muita importância. Ravenna sentia ciúmes, o que era normal. Um dia Susan
descobriu um hematoma na bochecha da pequena. Achou estranho, mas não teve tempo
de ir atrás do que havia acontecido. Neste mesmo dia Ravenna sentiu dor de
barriga e chorou tanto até deixar a mãe desnorteada. Rebecca também estava
inquieta e Susan passou por momentos de verdadeiro inferno, sozinha cuidando das
meninas.
Foi a mãe de Susan
que percebeu que algo estava errado quando flagrou a neta mais velha dentro do
berço com Rebecca. Pouco depois o bebê apareceu com uma mordida no bracinho
gordo, sangue que chegou a manchar o lençol. Susan tentou contemporizar. Era
coisa de criança, de irmãs. Susan passou um pito em Ravenna e depois se
arrependeu. Os olhos da pequena se encheram de lágrimas e escorreram pelo rosto
inocente. O coração de Susan ficou pesaroso. Era evidente que a filha não tinha
noção de nada. Era só uma crise de ciúmes com data certa para passar.
Uma enxaqueca forte
acometeu Susan em uma tarde. Por causa da chuva torrencial, ela achou por bem
não mandar Ravenna para a escolinha e decidiu que ficaria o dia inteiro com as
filhas. Contudo, depois do almoço a forte dor na cabeça fez com que Susan
começasse a ver estrelinhas na frente dos olhos. Incomodada, ajeitou-se na cama
de casal com as duas pequenas, ambas quietas e sonolentas. Não demorou muito
para que Susan caísse em um sono profundo.
Despertou por volta
das 16 horas. Esticou o braço para o lado e tocar nas filhas. Nenhuma delas
estava ali. Susan sentou na cama, rápido, assustada, e já se culpando. Não
devia ter dormido tanto. Tinha que ter sido mais cuidadosa. Ravenna deveria ter
pego a pequena e levado para outro lugar. Às vezes tinha a impressão que a mais
velha achava que Rebecca fosse somente uma boneca grande.
— Ravenna! Onde está
você?
Susan estava pronta
para dar um pulo da cama quando a porta do quarto se abriu lentamente. Por
alguns instantes Susan ficou paralisada, algo tensa. Então Ravenna entrou no
quarto com os olhos azuis faiscando de satisfação.
Nas suas mãozinhas
uma faca afiada com a lâmina ensanguentada brilhava.
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