Ele era o cara mais popular da escola.
E também o mais gato.
O mais gostoso.
O melhor jogador de futebol.
Namorava a guria mais bonita da turma (eu morria de inveja dela).
Tirava as melhores notas.
O seu grupo de amigos era o mais descolado.
Os pais eram bem sucedidos e com excelentes empregos. Ou seja, a faculdade dele estava garantida. Nunca precisaria se preocupar com os valores da mensalidade. Certo que ele iria se formar na melhor universidade.
Nossa. Que sorte ele tinha. Eu queria ser a namorada dele. Talvez sua sorte respingasse um pouco em mim. Porém, eu era tão patinho feio que o André nunca se deu ao trabalho de olhar para minha cara. Até acho que ele nunca soube, sequer, que eu existia.
Um dia acordei com a notícia que o André tinha morrido.
Oi? Como assim?
Se atirou do 10º andar do prédio em que morava.
Choquei. Todo mundo chorou. Ninguém compreendeu.
Anos depois, eu já mais velha e adulta, acho que consegui entender o motivo daquela morte tão estúpida.
André possuía demais.
Para ele tudo era fácil demais.
Ele, André, nunca precisou lutar por nada.
Sempre lhe deram tudo.
Mas, para ele, o "tudo" nunca fora o bastante.
Conheci uma pessoa assim, que aos 21 anos fez o mesmo que o seu personagem. Vida difícil é ruim, mas vida fácil demais esvazia-se e enche seu dono de tédio e desespero. É preciso que haja razões para existir. Lembro Alexandre, O Grande, que aos 21 anos (coincidentemente ou não), tendo conquistado todo o mundo conhecido à sua época, chorou desesperado porque sua vida perdera o sentido. Ótimo texto!
ResponderExcluirObrigada, querido. Eu ando me dedicando a outros projetos e deixei um pouco a escrita de lado. Mas volta e meia me dá uma vontade louca de escrever e aí saem estes contos curtinhos. Volte sempre.
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