Lourdes não soube dizer quanto tempo ficou encostada no balcão da pia olhando para Régis, na esperança que ele se mexesse. De repente, escutou o motor de um carro parando frente a sua casa e a voz feliz de Valentina. Logo em seguida a porta da frente se abriu. Valentina entrou, falando alto:
- Tia, você está em casa?
A luz da sala foi acesa. Lourdes, sem voz e atordoada, não respondeu. Escutou os passos da sobrinha se dirigindo até a cozinha. Precisava se acalmar para tomar controle da situação.
- Meu Deus, que merda é esta?
Valentina parou na porta, surpresa e pálida.
- Tia, o que você fez?
- Me defendi - Lourdes conseguiu falar à meia voz.
Para chegar até a tia, Valentina precisou saltar por cima do cadáver de Régis.
- Você está gelada.
Silêncio.
- Pode me contar o que houve, por favor? Estou meio que passando mal.
Em poucas palavras, Lourdes contou tudo, desde o convite para andar de bike até o quase estupro.
- Este filho da puta não me respeitou.
- Tia, tudo bem - Valentina se posicionou de costas para o defunto, evitando olhar para ele. - Tente respirar com mais calma.
Rápida, Valentina pegou o celular do bolso. - Vou chamar a polícia.
- Não!
O berro de Lourdes foi bem sonoro e Valentina deixou o celular cair sobre a barriga de Régis. Lourdes agarrou o aparelho e não o devolveu para a sobrinha.
- Não o quê? Tia, tem um cadáver na sua cozinha!
- Mais um.
Lourdes soltou uma gargalhada histérica e sinistra que assustou Valentina.
- Não vou chamar polícia porra nenhuma. Eu vou sair presa daqui.
- Alegue legítima defesa.
- Quem vai acreditar em mim? A cidade inteira vai começar a falar que coloquei um homem dentro de casa mal Juarez esfriou. Eu matei um homem, Valentina!
- Muito bem. - Valentina cruzou os braços. - E você pretende fazer o que com o corpo do cara?
- Enterrar o cara no meu quintal. Com a sua ajuda.
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