Ele conduzia o carro pela estrada cheia de curvas,
encrustada na serra. A paisagem era bonita, o sol iluminava a vegetação, um dia
perfeito para um passeio com uma boa companhia. Mas ele estava sozinho. Quer
dizer, Tatiana estava ao seu lado, de olhos fechados, presa no cinto de
segurança. Não era uma boa companhia a Tatiana.
Ela estava morta.
Quem ultrapassava o carro de Breno e se prestasse para
reparar quem era o passageiro não veria mais que uma moça bonita em sono
profundo. A echarpe preta, comprada em Paris em uma viagem romântica um ano
antes, escondia o corte profundo da garganta de Tatiana. Breno sorriu. Não
havia sido difícil matar a esposa. Ela sempre fora de estatura pequena, frágil.
O problema fora matar o Ricardo. O cara era forte, cheio de músculos, boa
pinta. A boa estampa certamente atraíra Tatiana, cansada dele, Breno. Cara
chato, sem grana e barrigudo com quem tinha casado há 3 anos. Breno um dia fora
um pedaço de mau caminho. Depois relaxou. Engordou, ficou careca e, não demorou
muito, corno também.
Bem, Ricardo estava morto. Foi preciso três pancadas na
cabeça dele com uma pá para dar fim naquele traste. O corpo ainda estava no
apartamento de Breno na cidade, esperando para ser desovado em algum lugar ermo
durante a madrugada. A preocupação de Breno agora era se livrar da puta.
O homem pegou uma estrada secundária sem asfalto e que jogava
terra por todos os lados. Ele conhecia muito bem aquele lugar. Havia ido várias
vezes com a Tati passear por ali, admirar o vale e a natureza exuberante. A
esposa adorava aquele lugar, por isto Breno escolheu que ali seria um bom lugar
para deixar seu ex-amor. Aliás, ela não merecia mais que um lixão. Mas, puxa...
a infeliz estava morta. Era só jogar o corpo despenhadeiro abaixo e tudo estava
acabado.
Ele parou o carro na beira da estrada. Era raro qualquer
veículo transitar por ali. Fumando e aparentando calma, Breno abriu a porta do
carona, pegou Tatiana no colo e sem dificuldade a carregou até a beira do
penhasco. Antes de jogá-la, deu uma tragada funda no cigarro e o apagou no
chão. Olhou para Tati, beijou-a na testa e no momento seguinte a projetou no
ar. Fechou os olhos para escutar melhor o som do corpo batendo nas pedras e galhos
de árvores. Depois, silêncio.
Fim de papo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário