quarta-feira, 27 de julho de 2016

OS PÃES ERÓTICOS DA DONA LOURDES - Degustação 1º capítulo

           Quinta-feira era dia de feira. Um dos meus dias preferidos, aliás. Mais ou menos pelas quatro horas da tarde eu saía de casa com meu carrinho de compras. Voltava uma hora e meia depois com verduras e frutas, sabendo das novidades de São José da Serra pelas minhas conhecidas e com algum chazinho marcado geralmente para a tarde de sábado, quando o Jorge saía para jogar futebol com os amigos.

            Naquele dia não foi diferente. Percorri as ruas calmas da cidade trazendo meu carrinho cor-de-rosa lotado. A vantagem de morar em uma cidade pequena é conhecer todo mundo. Sempre fui muito popular e várias vezes tive meu nome lembrado para concorrer a uma vaga na Câmara dos Vereadores. Até me interessei, mas o meu maridão tratou logo de cortar minhas asinhas. Ciumento, o Jorge sempre gostou que eu vivesse só para ele. Não tivemos filhos, portanto minha vida era o JORGE! Éramos casados há 25 anos (hoje eu tenho 52) e tive pouquíssimos namorados antes dele. Mesmo não tendo uma vida profissional, eu sempre gostei muito da minha vida de dona de casa. Arrumar o lar, deixá-lo perfumado e fazer uma comidinha especial para o meu marido era tudo de bom. Eu sabia que tinha gente que me invejava. Que culpa tinha eu de ser feliz?

Duas quadras antes de dobrar na rua que levaria a minha casa, deparei-me com uma novidade em São José da Serra. Uma academia. Anteriormente o local por muito tempo abrigara uma ferragem. Era um galpão grande que ficara vazio já há uns três anos quando o seu Carlos faleceu e rolou a maior briga na família por causa da herança. Agora finalmente alguém estava dando uma utilidade para o lugar. Fiquei curiosa. Havia uma movimentação na frente. Operários, caçamba para colocar o lixo, vozes altas. Aproximei-me de devagar puxando o carrinho no lado oposto da calçada. Chamou-me atenção um rapaz forte, bem apessoado e que parecia o chefe. Os cabelos dele eram compridos, batiam no ombro. Uau, um tipo diferente em São José da Serra! Finalmente! Notei que uma faixa branca e com letras vermelhas anunciava:

EM BREVE ACADEMIA.

Uma academia nova! E pelo jeito seria das boas. Até tentei frequentar uma há alguns meses. Mas além de o Jorge ficar possuído, os aparelhos estavam caindo aos pedaços. Pelo visto, esta nova academia iria bombar.

Porém, o que estava realmente me chamando atenção era o mestre de obras, o cabeludo fortão. Nossa, ele era bonito mesmo, hein? Como eu nunca o vira por aqui? Endireitei os ombros, encolhi a barriga e soltei os cabelos. O carrinho atulhado de coisa não me deixava muito sexy, mas era o que eu tinha para o momento. Ensaiei um sorriso para caso ele olhasse para o lado e comecei a dizer mentalmente:

“Olha pra mim, olha pra mim, olha pra mim.”.

Quem disse que pensamento positivo não dá certo? O bonitão olhou e deu de cara comigo encarando-o fixamente. Educado, ele me cumprimentou com um aceno de cabeça e eu sorri mais abertamente ainda. Até esqueci-me do Jorge. Ora, que mal tem? Eu só cumprimentei o vizinho novo ou seja lá o que fosse aquele cara. Pena que não passou daquilo. Fiquei com o sorriso congelado no rosto esperando um segundo olhar que não houve. Droga. Talvez minha amiga Angelina soubesse de alguma coisa. Anotei mentalmente que deveria ligar para ela logo ao chegar em casa.
*
Logo que dobrei a esquina da minha rua calma e arborizada visualizei o carro do Jorge estacionado na garagem. Eram cerca de cinco e meia da tarde. Ele costumava chegar em torno deste horário e a primeira coisa que fazia era ligar a TV e tomar um cafezinho. Então eu ia para a cozinha e começava a preparar o jantar dele. Tudo simples, mas eu adorava aquela rotina. Lembrei que na noite anterior o Jorge pediu para que eu fizesse uma mousse de chocolate. Sempre adorei fazer doce e comia junto, parelho com ele.

Abri a porta e achei que encontraria o Jorge comodamente sentado no sofá com o controle remoto na mão, assistindo a todos os canais ao mesmo tempo. Para minha surpresa só encontrei o silêncio.

— Jorge! Cheguei!

Talvez estivesse no banho. Parei no meio da sala, aguçando os ouvidos. O chuveiro não estava ligado. Sacudi os ombros levando o carrinho para a cozinha. Talvez estivesse no quintal ou ido à casa de um algum amigo. Jorge era muito bem relacionado.

Entrei na cozinha e lá estava ele. Sentado de costas para mim, com as mãos apoiada sobre a mesa.

— Ah, você está aí? Não ouviu eu lhe chamar?

Passei reto por ele e abri a torneira. Peguei os tomates e coloquei dentro da pia. Esperei que meu marido falasse alguma coisa, porém ele continuou mudo. Voltei-me para ele. Jorge estava de cabeça baixa. Parecia cochilar. Estranho...

Ué... Trabalhou demais hoje?

Aproximei-me dele sacudindo as mãos no ar para enxugar a água que escorria. Toquei de leve no ombro de Jorge. Ele detestava ter seu sono interrompido fosse o motivo que fosse.

Ele não se mexeu.

— Bebeu, seu malandro?


Nada. Dei um cutucão mais forte. Jorge, então, deslizou da cadeira direto para o piso. Eu dei um berro que foi escutado do outro lado da rua. Estendido no assoalho, Jorge me encarava com os olhos arregalados. Olhos que não viam mais nada.

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