Quando o carro
estacionou na frente da casa da fazenda, Fernanda engoliu em seco. Deixou o pai
tirar suas coisas do porta-malas e segurou a mochila que ele lhe estendia.
Gilberto demonstrava estar bem feliz por sua filha mais velha vir passar um mês
com ele e a nova família na fazenda. Já fazia dois anos que Fernanda não
aparecia por lá. E só fora desta vez porque a mãe a obrigara. O lugar era
lindo, com muito verde e um rio que passava nos limites da propriedade. A casa
era muito confortável, com amplos espaços. E Fernanda ainda tinha a facilidade
de ter um quarto somente para ela. O que era muito bom, já que não suportava
sua irmã mais nova.
Catarina tinha
10 anos, sete anos a menos que Fernanda. Era uma garotinha linda, loura e de
lindos olhos verdes. Cristina, a madrasta, dedicava-se inteiramente à única
filha, o que era bom já que Gilberto, devido à profissão, pouco parava em casa.
Fernanda não sabia como iria fazer para suportar a ambas. Da última vez que
passara alguns dias na fazenda, saíra sem se despedir devido a uma enorme
briga. E jurara que nunca mais voltaria àquele lugar. Agora, em pé ao lado do
pai na frente da casa, Fernanda torcia para que as coisas fossem mais calmas
desta vez.
Ainda não havia
escutado a voz estridente da irmã. Aliás, este era o som mais escutado por lá.
Catarina falava pelos cotovelos, sem parar. Cristina achava lindo e não se
cansava nunca de ouvi-la. A madrasta, contudo, era cega para todo e qualquer
defeito da filha. Tudo o que Catarina fazia e falava era lindo e inteligentíssimo.
Era incapaz de enxergar o quanto uma criança daquele tamanho era perversa.
− Estou muito
feliz por você estar aqui conosco, minha filha.
Fernanda o
encarou e tentou sorrir. Gostaria de estar em qualquer lugar, menos lá. Chegara
até a sugerir que ela e o pai fizessem uma viagem juntos, somente os dois. Mas
ele recusara, dizendo que seria importante ela conviver mais tempo com a irmã.
Por fim, depois de alguma insistência, lá estava ela. E sem conseguir disfarçar
sua expressão de contrariedade.
− Espero que
saia tudo bem por aqui, pai.
Ele sorriu e
beijou sua testa.
− Tenha só um
pouco de paciência. Ela é apenas uma criança.
− Criança,
aff...
Naquele momento
a porta se abriu e Cristina apareceu. Ela estava com alguns quilos a mais e com
a mesma cara de sonsa. Fernanda sabia que a madrasta morria de ciúmes dela e
quando viu pai e filha juntos, o sorriso falso que trazia no rosto pouco a
pouco se apagou.
− Ora, como a
Fernanda cresceu.
Agora ambas já
estavam praticamente do mesmo tamanho e Fernanda descobriu que não a temia
mais. As duas trocaram beijos e a garota ficou enjoada com o perfume forte
usado pela madrasta. Infelizmente o seu mau gosto permanecia. Não entendia como
o pai um dia fora se apaixonar por aquela mulher.
− E você está
muito bonita também – disse Cristina olhando a enteada de alto a baixo.
− Obrigada,
Cris. É o tempo passou.
− Você precisa
ver a Cat. Ela está lindíssima. Cada vez mais esperta e espirituosa.
Fernanda deu um
sorrisinho sem graça e resolveu seguir o pai que entrava na casa. Quanto menos
visse Catarina melhor. Não se sentia com a menor disposição para enfrentar os
prováveis embates que viriam pela frente.
− O quarto está
prontinho para você, querida – disse o pai feliz. Ele seguia na frente, subindo
as escadas e levando as duas malas. – Não se preocupe com nada. Se lhe faltar
alguma coisa, pode me chamar.
Era admirável o
esforço do pai em fazer com que Fernanda se sentisse à vontade.
− Eu sei, papai,
muito obrigada.
O quarto era bem
espaçoso. Gilberto deixou as duas malas no meio do quarto e encarou a filha.
− Acho que você
quer descansar um pouco...
Fernanda
consultou o relógio. Passava um pouco das seis horas da tarde.
− Acho que vou
tomar um banho. Que horas é o jantar?
Na fazenda todas
as refeições eram feitas juntas, o que contrariava Fernanda que gostava de
comer sozinha no quarto.
− Às vinte
horas, Fê. Você sabe como Cristina faz questão que estejamos todos juntos.
− Eu estarei lá,
pai.
Gilberto afagou
a bochecha da filha e saiu do quarto. Quando a garota se viu sozinha, sentou na
cama, exausta. Aquela ainda era a primeira noite. Teria ainda quatro semanas
pela frente. Havia combinado com a mãe se caso as coisas estivessem muito
insuportáveis, retornaria antes. Lentamente, Fernanda separou uma blusinha e
uma saia para vestir depois do banho, deixando as peças em cima da cama. O
banho foi um pouco demorado e bem gostoso. Quando ela retornou para o quarto
enrolada em uma toalha percebeu que blusa estava dispersa de uma forma
diferente da que havia deixado. Achando aquilo estranho, Fernanda se aproximou
da cama e foi conferir de perto.
Ela sufocou um
grito. O tecido havia sido perfurado em várias partes.
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