Parei de devanear, incomodada com meus próprios pensamentos. Ser virgem
era algo que me deixava arrasada. Lembrei-me do celular. Segundo minha mãe, ele
havia feito um “barulhinho”. Certamente era a maldita operadora me oferecendo
um plano mágico. Sem esperar nada de bom, conferi o que era.
Me arrepiei. Gritei
emocionada:
− Mãe! – abri a porta do quarto praticamente pulando. – Eu consegui! Eu
consegui!
Minha mãe apareceu segurando
um pano de prato, surpresa com a minha gritaria.
− Conseguiu o quê, criatura?
− Um emprego! – mostrei o celular para ela. – Olha aqui, é sério! Vou
sair da pindaíba.
Ela franziu os olhos
para enxergar o que estava escrito no visor do aparelho. Aparentemente não viu
nada e perguntou:
− Onde, Valdirene? Em qual firma?
Eu já estava sem ar. Fui
até a geladeira e me servi de um copo de água. Simplesmente mal podia conter a
minha empolgação. De repente era como se o futuro abrisse suas portas para mim.
Chega de ficar dentro do quarto escrevendo putaria!
− Naquela empresa lá do centro, mãe.
− A que tem vidros do chão até o teto?
− Esta mesma.
Um lugar bem bonito onde
eu iria trabalhar muito em breve. Era um prédio alto, uma agência famosa de
propaganda e publicidade, toda envidraçada. Eu havia me candidato para
recepcionista. Certamente trabalharia com uniforme, coque e cheia de pose.
Samanta Hot ficaria um pouco para trás agora. Quem sabe até eu arrumasse um
namorado firme?
− Quando você começa, Valdirene?
− Na mensagem diz que é para eu procurar o RH amanhã de manhã – respondi,
aliviada. – Deve ser para providenciar documentos, exames... o de praxe. Acho
que leva uns 15 dias.
− Fico feliz – disse minha mãe voltando para a cozinha. – Agora você
desentoca daquele quarto e sai para a vida. E quem sabe até me dá um genro?
Coloquei o relógio para
despertar às 7 horas da manhã e uma hora depois já estava sacolejando dentro de
um ônibus lotado. Não, aquilo não era ruim. Depois de meses enfiada em um tédio
dos infernos, estar apertada no meio de tanta gente era como se sentir viva
novamente. Aquela seria minha rotina – bendita rotina – dali para frente. Eu
estava pondo muita fé no meu novo emprego. Claro, eu sentiria alguma saudade de
Samanta Hot. Afinal, ela me fizera companhia durante todos aqueles meses. Mas
depois de pôr minhas contas em dia e renovar meu guarda-roupa, eu queria cursar
uma faculdade, aperfeiçoar meu inglês, viajar. Samanta Hot talvez se
aposentasse. E nem por um momento eu pensei nos meus famintos leitores.
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