Bom dia, leitorinhos! Este é o primeiro capítulo de uma história que pode, um dia, se transformar em um romance. Espero que curtam! Estejam todos convidados a darem sua opinião. Vou adorar!
Ele chegou à cidade ao entardecer. Parou o carro em uma rua sem movimento
e de longe enxergou a igreja, a praça e algumas pessoas passando. Havia algumas
lojas abertas e a vontade de comprar cigarros aumentou. Precisava fumar antes
de seguir viagem.
Marcelo entrou em uma cafeteria bem arrumada onde a dona, uma mulher
acima do peso e com lábios vermelhos, parecia o aguardar detrás do balcão. Teve
a impressão que ela soltou os cabelos loiros pintados assim que ele empurrou a
porta e entrou no lugar.
— Ora, ora... temos visita na cidade – anunciou ela com um sorriso
amistoso. E convidativo.
— Boa tarde – cumprimentou Marcelo sem muita vontade de prolongar a
conversa. — Preciso de cigarros.
A mulher sorriu. Colocou um maço de cigarros sobre o balcão.
— Não tenho muitas marcas disponíveis aqui, mas meus clientes preferem
este.
Marcelo deu de ombros.
— Tudo bem. É o que eu procuro.
Depois de um tempo em silêncio, enquanto Marcelo procurava o dinheiro
para pagar, ela perguntou, curiosa:
— Para onde você está indo? Sei que não é da minha conta, mas...
— Santo Antônio – respondeu ele catando algumas moedas no bolso das
calças. Quando tornou a olhar para a mulher reparou que ela estava pálida.
— Santo Antônio – repetiu como se isso
fosse ajudar a desmanchar a cara de espanto dela. — Algum problema?
Ela tossiu, nervosamente.
— Não, não. Está tudo bem.
Mas não estava. Marcelo percebeu que as mãos da dona da cafeteria tremiam
quando ela mexeu nos cabelos mal disfarçando a tensão.
— Qual é seu nome?
— O meu? Nádia.
Marcelo se aproximou mais do balcão e ensaiou o sorriso que usava quando
queria conquistar alguma mulher. — Por que não me conta o que a deixou tão preocupada?
Talvez pelo sorriso ou simplesmente pelo tom de voz rouco de Marcelo,
Nádia soltou um pouco o ar. Deu uma risadinha sem graça. Estava sem jeito.
— Santo Antônio. Bem, este lugar é um pouco diferente, se é que você não
sabe ainda.
Ele sabia. Contudo, precisava saber mais. Bem mais.
— Sei muito pouco sobre Santo Antônio. Você acha que serei bem recebido por
lá?
Os olhos de ambos se encontraram e Nádia em seguida os baixou, olhando
para suas próprias mãos pálidas.
— Talvez. Se você for um deles.
Marcelo sentiu o coração acelerar. Talvez estivesse no caminho certo.
Finalmente.
— Um deles?
— Eles costumam aparecer à noite – a voz de Nádia tremeu. — Alguns
aparecem ao entardecer. Como você.
— Quem são... “eles”?
— Espere aqui.
Nádia deu-lhe as costas e se dirigiu para os fundos da cafeteria. Voltou
um minuto depois com uma réstia de alho.
— Tome – disse ela com a respiração entrecortada. — Você vai precisar.
Marcelo esticou a mão e segurou o alho. Foi então que percebeu que no
teto do estabelecimento havia réstias penduradas por toda parte. Sinistro.
— Creio que isto – ele apontou para cima – não faça parte da decoração.
— Nenhum pouco – garantiu Nádia, a voz tensa. — Você não é nenhum deles –
ela ficou nitidamente mais aliviada. — Não se desgrude dela – e apontou para a
réstia.
Marcelo levou a mão sobre a camisa e apertou o crucifixo de prata que
trazia por debaixo.
— Obrigado, Nádia.
Ele se virou para ir embora, apertando firme a réstia de alho nas mãos.
Talvez fosse interessante comprar mais algumas em um armazém que achara ter
visto duas lojas acima. Antes de ir embora escutou a voz assustada de Nádia:
— O nome dela é Pandora e seus cabelos são vermelhos.
Muito bom teu conto, vamos aguardar o romance.
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