segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

A MULHER DE CABELOS VERMELHOS


Bom dia, leitorinhos! Este é o primeiro capítulo de uma história que pode, um dia, se transformar em um romance. Espero que curtam! Estejam todos convidados a darem sua opinião. Vou adorar!

Ele chegou à cidade ao entardecer. Parou o carro em uma rua sem movimento e de longe enxergou a igreja, a praça e algumas pessoas passando. Havia algumas lojas abertas e a vontade de comprar cigarros aumentou. Precisava fumar antes de seguir viagem.
Marcelo entrou em uma cafeteria bem arrumada onde a dona, uma mulher acima do peso e com lábios vermelhos, parecia o aguardar detrás do balcão. Teve a impressão que ela soltou os cabelos loiros pintados assim que ele empurrou a porta e entrou no lugar.
— Ora, ora... temos visita na cidade – anunciou ela com um sorriso amistoso. E convidativo.
— Boa tarde – cumprimentou Marcelo sem muita vontade de prolongar a conversa. — Preciso de cigarros.
A mulher sorriu. Colocou um maço de cigarros sobre o balcão.
— Não tenho muitas marcas disponíveis aqui, mas meus clientes preferem este.
Marcelo deu de ombros.
— Tudo bem. É o que eu procuro.
Depois de um tempo em silêncio, enquanto Marcelo procurava o dinheiro para pagar, ela perguntou, curiosa:
— Para onde você está indo? Sei que não é da minha conta, mas...
— Santo Antônio – respondeu ele catando algumas moedas no bolso das calças. Quando tornou a olhar para a mulher reparou que ela estava pálida. —  Santo Antônio – repetiu como se isso fosse ajudar a desmanchar a cara de espanto dela. — Algum problema?
Ela tossiu, nervosamente.
— Não, não. Está tudo bem.
Mas não estava. Marcelo percebeu que as mãos da dona da cafeteria tremiam quando ela mexeu nos cabelos mal disfarçando a tensão.
— Qual é seu nome?
— O meu? Nádia.
Marcelo se aproximou mais do balcão e ensaiou o sorriso que usava quando queria conquistar alguma mulher. — Por que não me conta o que a deixou tão preocupada?
Talvez pelo sorriso ou simplesmente pelo tom de voz rouco de Marcelo, Nádia soltou um pouco o ar. Deu uma risadinha sem graça. Estava sem jeito.
— Santo Antônio. Bem, este lugar é um pouco diferente, se é que você não sabe ainda.
Ele sabia. Contudo, precisava saber mais. Bem mais.
— Sei muito pouco sobre Santo Antônio. Você acha que serei bem recebido por lá?
Os olhos de ambos se encontraram e Nádia em seguida os baixou, olhando para suas próprias mãos pálidas.
— Talvez. Se você for um deles.







Marcelo sentiu o coração acelerar. Talvez estivesse no caminho certo. Finalmente.
— Um deles?
— Eles costumam aparecer à noite – a voz de Nádia tremeu. — Alguns aparecem ao entardecer. Como você.
— Quem são... “eles”?
— Espere aqui.
Nádia deu-lhe as costas e se dirigiu para os fundos da cafeteria. Voltou um minuto depois com uma réstia de alho.
— Tome – disse ela com a respiração entrecortada. — Você vai precisar.
Marcelo esticou a mão e segurou o alho. Foi então que percebeu que no teto do estabelecimento havia réstias penduradas por toda parte. Sinistro.
— Creio que isto – ele apontou para cima – não faça parte da decoração.
— Nenhum pouco – garantiu Nádia, a voz tensa. — Você não é nenhum deles – ela ficou nitidamente mais aliviada. —  Não se desgrude dela – e apontou para a réstia.
Marcelo levou a mão sobre a camisa e apertou o crucifixo de prata que trazia por debaixo.
— Obrigado, Nádia.
Ele se virou para ir embora, apertando firme a réstia de alho nas mãos. Talvez fosse interessante comprar mais algumas em um armazém que achara ter visto duas lojas acima. Antes de ir embora escutou a voz assustada de Nádia:

— O nome dela é Pandora e seus cabelos são vermelhos. 

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