Angelina colocou de volta, lentamente, a piroca gourmet no lugar.
Lambeu os dedos e comentou:
― Estão deliciosas. Já provou?
Lourdes olhou, desconfiada, para a amiga.
― Estão mesmo?
― Claro. Toma – ela esticou uma piroca para Lou. ― Experimenta.
Lourdes provou. Primeiro deu uma dentada na ponta, desconfiada da
sua própria culinária. Mas Angelina insistiu:
― Deixa de ser fresca e engole tudo de uma vez.
Foi o que Lourdes fez. A primeira dentada já tinha sido irresistível.
Não foi difícil colocar tudo na boca e degustar.
― Uau. Nem eu sabia do que era capaz.
― De engolir um inteiro?
― Não. De fazer algo tão gostoso.
Angelina olhou para Lourdes, curiosa.
― O que você vai fazer com estes pãezinhos?
― Ora, vou comer.
― Lou, olha bem o que eu vou te dizer. Estes pãezinhos têm tudo
para fazer o maior sucesso. Põe pra vender. Você vai ficar rica.
― Você está louca, Angelina? Recém enviuvei do traste. O que as
pessoas vão dizer se eu começar a vender pãezinhos em forma de piroca?
― Não importa o que digam. Elas vão comprar e comer. Você será um
sucesso. É capaz até de aparecer em algum programa de TV.
― Não tenho a menor intenção de ficar famosa.
Angelina pegou dois pãezinhos e anunciou:
― Bem, acho que você deve pensar melhor. Posso levar estes aqui? Ah,
vim perguntar se você quer ir hoje à academia.
― Claro, irei sim – talvez o vizinho bonitão estivesse por lá.
― Ótimo. Eu passo aqui mais tarde, então. Até mais.
Angelina foi embora mastigando o pãozinho, quase de olhos fechados.
Lourdes ficou parada na cozinha, enrolada numa toalha, olhando para sua produção,
sem imaginar do fora capaz de fazer. A melhor coisa seria comer as pirocas
gourmet e esquecer a receita. Não queria ser chamada de depravada e pervertida
pela cidade inteira.
Lourdes voltou para o banheiro para secar o cabelo. Dez minutos
depois Valentina retornou da faculdade. Com fome, cumprimentou a tia que não a
escutou por causa do barulho do secador, e foi direto para a cozinha.
― Tia, sua louca!
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