domingo, 14 de janeiro de 2024

UM CONTO DE MISTÉRIO - PARTE 11

 



Angelina colocou de volta, lentamente, a piroca gourmet no lugar. Lambeu os dedos e comentou:

 

― Estão deliciosas. Já provou?

 

Lourdes olhou, desconfiada, para a amiga.

 

― Estão mesmo?

― Claro. Toma – ela esticou uma piroca para Lou. ― Experimenta.

 

Lourdes provou. Primeiro deu uma dentada na ponta, desconfiada da sua própria culinária. Mas Angelina insistiu:

 

― Deixa de ser fresca e engole tudo de uma vez.

 

Foi o que Lourdes fez. A primeira dentada já tinha sido irresistível. Não foi difícil colocar tudo na boca e degustar.

 

― Uau. Nem eu sabia do que era capaz.

― De engolir um inteiro?

― Não. De fazer algo tão gostoso.

 

Angelina olhou para Lourdes, curiosa.

 

― O que você vai fazer com estes pãezinhos?

― Ora, vou comer.

― Lou, olha bem o que eu vou te dizer. Estes pãezinhos têm tudo para fazer o maior sucesso. Põe pra vender. Você vai ficar rica.

― Você está louca, Angelina? Recém enviuvei do traste. O que as pessoas vão dizer se eu começar a vender pãezinhos em forma de piroca?

― Não importa o que digam. Elas vão comprar e comer. Você será um sucesso. É capaz até de aparecer em algum programa de TV.

― Não tenho a menor intenção de ficar famosa.

 

Angelina pegou dois pãezinhos e anunciou:

 

― Bem, acho que você deve pensar melhor. Posso levar estes aqui? Ah, vim perguntar se você quer ir hoje à academia.

― Claro, irei sim – talvez o vizinho bonitão estivesse por lá.

― Ótimo. Eu passo aqui mais tarde, então. Até mais.

 

Angelina foi embora mastigando o pãozinho, quase de olhos fechados. Lourdes ficou parada na cozinha, enrolada numa toalha, olhando para sua produção, sem imaginar do fora capaz de fazer. A melhor coisa seria comer as pirocas gourmet e esquecer a receita. Não queria ser chamada de depravada e pervertida pela cidade inteira.

 

Lourdes voltou para o banheiro para secar o cabelo. Dez minutos depois Valentina retornou da faculdade. Com fome, cumprimentou a tia que não a escutou por causa do barulho do secador, e foi direto para a cozinha.

 

― Tia, sua louca!

 


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