quinta-feira, 12 de abril de 2012

AMOR NO CEMITÉRIO


Antônio era o melhor partido da cidade. Bonito, trabalhador, simpático. Freqüentava a igreja todos os domingos e era cobiçado por todas as mulheres solteiras (e casadas) da praça. O único defeito dele, segundo Aninha, era sua profissão: administrador do cemitério. Segundo ela, sinal de mau agouro. Por isto a jovem resistiu a todos os seus pedidos de namoro, mesmo o achando uma gracinha. Por fim, depois de alguns meses, vendo que outro melhor não iria aparecer, Aninha resolveu namorá-lo. E não se arrependeu. Antônio era um sujeito muito excitante!


Porém, ele tinha uma fantasia que logo tratou de confessar para a namorada: transar em uma noite de lua cheia no cemitério. Aninha se horrorizou. Que sacrilégio! Fazer amor em um local santo nem pensar! Antônio não se deu por vencido e insistindo ali e dando um presentinho aqui, acabou por convencer a namorada que transar no cemitério não era pecado algum. Ruim era morrer sem ter realizado todos os seus desejos.


Antônio escolheu uma sexta-feira com uma belíssima lua cheia para realizar seu sonho. Um pouco antes da meia noite, muito sorrateiramente, ele abriu o portão do cemitério e puxou Aninha para dentro. Ela olhou ao redor e perguntou, um pouco assustada:
- Você tem certeza que estamos sozinhos?
- Meu amor, as únicas pessoas vivas deste lugar somos nós. Relaxe.


Aninha não conseguiu relaxar muito, mas não tinha como voltar atrás tamanha a excitação do namorado. Ele a conduziu para a parte mais antiga do cemitério - e também a mais escura - cercada por árvores. O lugar perfeito para uma noite de amor.
- Estamos seguros? - Aninha olhou novamente para todos os lados.
- Claro, meu anjo - respondeu ele, enchendo-a de beijos.


O casal passou a se beijar e o clima esquentou. Aninha esqueceu seus temores e se entregou ao calor do amado. De repente, quando ambos já estavam sem roupa, deitados entre dois túmulos, Antônio sussurrou:
- Adoro escutar seus gemidos…
- Querido… não estou gemendo.
Os dois se entreolharam. Aninha começou a tremer e não era de frio.
- Tem mais alguém aqui… - murmurou ela, tensa.
- Esqueça. Foi impressão minha - Antônio mentiu.


O rapaz recomeçou de onde tinha parado, contudo Aninha já tinha perdido todo o tesão e estava de olhos arregalados, atenta a tudo. Uma veste branca passou a cinco túmulos de onde ambos estavam e Aninha cravou as unhas nas costas do namorado. Antônio, interpretando o susto de outra forma, puxou os cabelos dela, excitado.
- Você é demais!
- Amor, eu enxerguei uma alma penada perto de nós!


Imediatamente ele se sentou. Aninha o encarou muito pálida.
- O que é…
- Alguém de branco passou bem ali - ela apontou o dedo trêmulo na direção dos túmulos, guardados por árvores frondosas.
- Você tem certeza?


Um vento frio cortou o ar quente da noite de verão, arrepiando os cabelos dos dois.
- Eu sabia que não era uma boa idéia - gemeu Aninha, procurando suas roupas - Nós pecamos!
- Ora, Ana Lúcia - Antônio ficou irritado. Pôs-se em pé e disse - Vou até onde você disse que está o fantasma para provar que é tudo coisa da sua mente doentia.


Inteiramente nu e frustrado, Antônio foi na direção apontada por Aninha. Nunca acreditara em fantasmas, por isso se dava tão bem no emprego. Determinado, ele caminhou até os túmulos, conferiu entre eles, atrás das árvores e não encontrou absolutamente nada, é óbvio. Porém, quando se voltou para anunciar à namorada que ela era uma babaca, suas pernas fraquejaram e um grito ficou preso na sua garganta. A sua frente, com os cabelos loiros desgrenhados, vestida de branco e com uma enorme mancha de sangue no peito, uma mulher o fitava com olhos diabólicos.
- Júlia…


Sua ex-namorada - e que fôra covardemente assassinada por ele anos atrás em outra cidade - agora tinha voltado do mundo dos mortos para vingar-se.


Aninha, já vestida, não entendeu o motivo de Antônio ter empalidecido tão horrivelmente e da sua bexiga ter se esvaziado daquele jeito.
- Amor, você está passando mal?


Júlia encarou seu algoz. Finalmente o encontrara e agora o levaria para o inferno. Antônio, no entanto, estava decidido a não se entregar de forma alguma. Totalmente em pânico, ele deu meia volta e correu ao encontro do muro, de onde saltaria para o outro lado. Ele não foi capaz de escutar os gritos de Aninha enquanto tentava fugir do seu destino. Seu terror foi tão imenso que Antônio esqueceu que mandara eletrificar o muro na semana anterior. Em poucos segundos, o rapaz virou churrasquinho.


Aninha ao ver aquela cena pavorosa, soltou mais outro berro e saiu correndo do cemitério. Certamente seu amado havia visto alguma aparição... Isto justificava sua loucura. Coitadinho, um homem tão bom... 


Antônio foi enterrado no dia seguinte e o prefeito tratou de abafar o caso, já que o infeliz era seu genro. Mas Aninha não se livrou dele. Todas as noites sua alma penada vinha se lamentar na sua janela.

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