quarta-feira, 25 de abril de 2012

ELE ERA PERFEITO





No começo ele era perfeito. Afinal, todos são perfeitos no início de qualquer relacionamento. A Cris se encantou com o Ricardo e achou que tinha tirado a sorte grande. Bonito, atencioso, emprego estável. O que ela poderia querer mais da vida e do amor?

Na primeira crise Ricardo deu um empurrão em Cris, e ela foi parar do outro lado do quarto. Ele chorou, pediu perdão. Não queria ter feito aquilo, perdeu a cabeça. Puxa, mas ela provocava! Andar com aquela minissaia na rua era coisa de vadia! Apaixonada e comovida com a preocupação do namorado, a Cris perdoou tudo. E selaram o amor com beijos e uma noite romântica.

Da segunda vez foi um pouco pior. Cris teve que usar óculos escuros por quase uma semana para disfarçar o hematoma perto do olho. Era meio chato ter que ir trabalhar daquele jeito e a desculpa foi que havia dado com o rosto em um poste. Ninguém acreditou, mas ninguém quis se meter. O tal do Ricardo tinha cara de poucos amigos. Quando vinha buscar a Cris no trabalho, os colegas evitavam o casal. Mesmo assim ela não desistiu do Ricardo. Achava que podia mudar o namorado. Tanto que levou suas coisas para a casa dele e com poucas semanas de namoro já estavam morando sob o mesmo teto.

A família da Cris não gostou nem um pouco da novidade. Todo mundo sabia da fama de violento do Ricardo, menos ela. As irmãs tentaram lhe abrir os olhos, mas Cris só os tinha para o namorado. Tudo o que ele dizia era lei e estava correto. Os incidentes que aconteceram entre o casal não havia sido nada demais. Briguinha à toa. Ela que provocara.

Não demorou muito para Cris rolar a escada do prédio. Ninguém viu o que aconteceu, mas a versão era que tinha escorregado e rolado uns cinco ou seis degraus. Da queda resultou um braço quebrado e mais hematomas no rosto. Os amigos não conseguiram ignorar o fato, muito menos a família. Dessa vez Cris escutou a todos, inclusive a sugestão de saltar fora do relacionamento antes que fosse tarde demais. Com o braço envolto em gesso e sentindo muita dor, ela prometeu pensar. O coração também doía. Não queria abandonar seu amor. Ricardo era meio violento, mas um cara legal. Talvez com uma boa conversa, ele conseguisse controlar o gênio difícil.

Ontem foi a missa de sétimo dia da Cris. Ela não teve tempo de conversar com o Ricardo e muito menos se defender. A família e os amigos ainda se culpam por não terem feito nada a tempo de impedir o que aconteceu. 

Quantas "Cris" existem perto de nós?

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