Josué respirou fundo segundos antes de dobrarem a
esquina que dava na praça. Getúlio chegou a se sentir meio tonto ante aquela
expectativa. Para decepção dos dois, a única pessoa que estava sentada
exatamente no mesmo lugar em que a moça de branco estivera,era a Glorinha,
figura pitoresca da cidade e que conversava com tudo o que surgia na sua
frente, inclusive com árvores, flores e postes.
— É aquela a moça bonita? ─ gracejou Getúlio,
tentando evitar o nervosismo.
Apesar do medo, Josué se mostrou frustrado.
— Claro que não. Talvez a Glorinha tenha espantado
ela.
— Ou talvez a tenha visto...
— Venha ─ Josué puxou o primo pelo braço. — Vamos
descobrir de uma vez.
A contragosto, Getúlio foi praticamente arrastado
até Glorinha. Naquele momento ela travava uma conversa bem animada com uma
trilha de formigas que passava bem a sua frente.
— Oi, Glorinha ─ cumprimentou Josué, nervoso.
— Oi ─ grunhiu ela, sem tirar os olhos das
formiguinhas.
— Estou procurando uma pessoa.
— E eu com isto?
Josué ignorou a grosseria da velha.
— Você viu uma moça bonita, vestida de branco, aqui
na praça agora à noite?
Glorinha não fez questão de encarar os dois. Apontou
para a direção oposta com seu torto dedo indicador.
— Ela foi para lá.
Getúlio e Josué se entreolharam.
— Você conversou com ela, Glorinha? Sabe o nome
dela? ─ Josué nem disfarçava mais sua curiosidade.
— Só sei que ela foi para lá.
Getúlio puxou o amigo pelo braço e ambos se
afastaram dali. Ele não sabia o que pensar.
— O que você acha? ─ perguntou Josué — Devemos ir
atrás?
— Aquela é a direção do cemitério.
— Sim, desde ontem eu sei disso. Mas estamos em
dois, lembra?
Getúlio sentia as pernas fracas. Desde que Mariana
morrera, nunca mais chegara nem perto do cemitério. Queria distância daquilo
tudo. A não ser que fosse sua mulher que
estivesse vagando pela pequena cidade.
— Não me agrada ir para aqueles lados. O motivo eu
não preciso explicar, não é?
— Tudo bem, cara. Mas você percebeu que há algo
acontecendo de estranho por aqui. A Glorinha também viu a moça.
Os dois se
afastaram apressados da praça.
— A Glorinha é maluca, não esqueça.
Os primos
voltaram em silêncio para casa. Getúlio, de tão perturbado que estava, tomou
três cálices de vinho e foi dormir ligeiramente embriagado. Josué observou o
primo ir para a cama em silêncio e se arrependeu de tê-lo metido naquela
história. Será que…
Será que Getúlio
achava que a jovem era sua falecida esposa?
Aquela hipótese
atingiu Josué profundamente. Não havia conhecido Mariana, sequer pudera
comparecer à infeliz cerimônia de casamento por causa do emprego. Seria
possível que a pobre moça vagava pela cidade sem descanso? Mais tenso ainda,
Josué recolheu-se ao seu quarto e se deitou cobrindo a cabeça com o
travesseiro. Não teve coragem de apagar a luz do abajur. Parecia a que a
qualquer momento o fantasma da moça (Mariana?) surgiria a sua frente. Foi
difícil pregar o olho naquela noite.
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