Keila, sem muita paciência, encarou Serena e revirou os olhos pela décima vez.
一 Nossa, Keila. Já pedi desculpas. O que você quer que eu faça mais?
As duas jovens estavam sentadas em um dos bancos da praça principal de Monte Noel, um lugar aprazível e um dos mais requisitados pontos turísticos da cidade. Era meio-dia, horário do intervalo de Keila.
一 A vontade que tenho ー Serena prosseguiu 一 é entrar no labirinto e me perder lá dentro.
O Labirinto dos Sonhos, atração turística de Monte Noel, estava a poucos metros delas, e Serena, em todas as vezes que entrou, precisou de ajuda para sair.
一 Deixe de ser dramática. Sinto muito o que aconteceu. Mas você mereceu.
Serena bocejou. Sua noite não havia sido das melhores. Era hora do almoço e Keila comia um picolé de sobremesa.
一 Você bem que podia não ter chamado a Tânia. ー Serena se referia à ex-chefe. 一 Dava para segurar sozinha por um tempo.
一 Basta, Serena. ー Keila se viu obrigada a levantar a voz. 一 Você simplesmente saiu atrás de um cara que nunca tinha visto na vida e me deixou no estande com uma porção de clientes chegando. E tem mais: não chamei a Tânia. Para seu azar, ela apareceu por conta.
一 Por que não mentiu que fui ao banheiro?
一 Porque estou cansada de abraçar suas irresponsabilidades. Na verdade, eu nem sabia o que tinha se passado. Você só me contou agora.
一 No final das contas, deu tudo errado. Não o encontrei, fui demitida e minha mãe quer comer meu fígado. Acredita que ela me comparou ao meu pai?
一 Bem feito.
一 Keila!
一 Espero que você tome jeito a partir de agora. Graças a você, estou sozinha no estande em plena alta temporada. Até Tânia contratar uma substituta pode levar algum tempo.
Ambas ficaram em silêncio.
一 Quem é ele, afinal? ー Keila olhou para Serena, impaciente.
一 Sei lá. Nunca o vi por aqui.
一 Deve ser turista. Talvez até já tenha partido de Monte Noel.
一 Nem diga isto. ー Serena, então, confessou. 一 O pouco que dormi, sonhei com ele.
一 Então a situação é pior do que eu imaginava. Você nem sabe se ele presta!
一 Não me importo.
一 Deveria. E se ele for do tipo que bate em mulher? E se for gay?
一 Quer parar de atrair negatividade sobre mim?
Keila se calou. Serena olhou para ela e a abraçou.
一 Vamos procurá-lo?
一 Hein?
一 Acho que ele ainda está circulando pela cidade. Quero muito revê-lo.
Keila levantou, livrando-se do abraço da amiga.
一 Sem chance. Preciso trabalhar. Vá você atrás dele já que agora tem todo o tempo livre. Até outra hora.
Serena observou a amiga desaparecer em meio aos turistas. Permaneceu mais alguns instantes sentada no banco, aborrecida e entediada. Contudo, seus pensamentos iam a mil por hora.
Iria encontrar o cara misterioso nem que tivesse que revirar a cidade inteira para isso.
Ou não se chamaria Serena.
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