Sueli estava em seu horário de intervalo quando uma das colegas avisou que Serena lhe procurava. Encontrou a filha pálida e com o olhar desamparado, parada no meio da loja e agarrada na bolsa.
一 Filha. ー ela pegou as mãos frias de Serena. 一 Está passando mal?
一 Será que podemos conversar em um lugar mais tranquilo?
Assustada com o tom sussurrado da voz da moça, Sueli respondeu, pegando-a pelo braço:
一 Claro. Vamos até o vestiário.
Enquanto a mãe fechava a porta do local, Serena sentou num banco, imaginando que jeito iria contar o motivo da sua demissão. Sueli parou frente a ela.
一 O que houve? Algum homem se passou com você?
一 Mãe… perdi o emprego.
Pálida, Sueli sentiu as pernas faltarem e acabou por sentar ao lado da filha.
一 Como assim? Qual o motivo?
一 Eu fiz uma burrada.
Os olhos de Serena se encheram de lágrimas. Sueli endureceu um pouco a voz:
一 Que tipo de burrada, criatura?
Serena respirou fundo.
一 Abandonei o estande para ir atrás de um cara.
一 Mas que cara?
一 Não sei. Nunca o tinha visto até então.
Sueli bufou e colocou as mãos na cabeça.
一 O que você está me dizendo, Serena? Que sandice foi essa?
一 Eu… eu nem sei por onde começar.
一 Pelo começo é melhor ー retrucou Sueli, sem paciência. 一 Vai, desembucha.
Em poucas palavras, Serena descreveu o que se passara, desde o momento que se deparou com o belo desconhecido até retornar para o estande e ser demitida. A tudo Sueli escutou com uma expressão de desagrado, por vezes balançando a cabeça como se a filha única fosse um caso sem solução. Por fim, depois do relato choroso de Serena, Sueli pegou um copo de água e bebeu tudo de um gole só. Depois, encarou a garota e disparou:
一 Este seu comportamento irresponsável me lembra muito uma pessoa: seu pai.
一 Ai, mãe! Que horror!
O pai abandonara Sueli e Serena, que ainda era criança, e nunca mais dera notícias. Desde então, era mencionado como um modelo negativo na família. Ser comparada a ele era uma espécie de ofensa. E das graves.
一 Horror coisa nenhuma! Isto é jeito de agir, Serena? Largar seu emprego e deixar sua colega atendendo sozinha para ir atrás do primeiro cara que aparece?
一 Alto lá. Ele não é nenhum chinelão.
一 Ah, é? E como você sabe? Falou com ele? Pediu uma certidão de bons antecedentes? Pelo que entendi, vocês se encararam por três segundos. Três segundos! E você se apaixonou! Ora, Serena, poupe-me! Você agiu igual ao cretino do seu pai. Que decepção.
Serena enxugou as lágrimas que ainda corriam pela face. Não esperava aquela reação forte da mãe.
一 Vamos ser práticas. Você tem muitas contas a pagar?
一 Bem… faltam cinco parcelas para pagar meu celular.
一 Então, vire-se para dar um jeito de pagar seus boletos. Minha ajuda não terá nenhuma. Francamente, criatura. Já é o terceiro emprego que mandam você para o olho da rua! Não tem vergonha, não?
Sim, Serena tinha. E muita. Naquele exato momento sentia que valia menos que nada, um zero à esquerda. O desconhecido tinha jeito de ser bem-nascido. Um cara daquele porte jamais iria querer algo com uma fracassada.
一 Desculpe, mãe.
一 Estou farta das suas desculpas, para depois você aprontar outra vez, outra vez e outra vez. Não desculpo. Passo ralando nesta chocolataria para termos o melhor dentro de casa e é assim que você retribui. Serena, pare de se comportar como se tivesse 12 anos. ー Sueli consultou as horas. 一 Meu intervalo acabou. Vá para casa e reflita sobre suas atitudes.
Serena se levantou, devastada com as palavras duras da mãe. Sem falar mais nada, saiu do vestiário ainda agarrada na bolsa, calada, envergonhada e sem nenhuma perspectiva na vida.
Mas quem era aquele cara?
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