Mas ele era bonito, sabe? Tinha pose,
estilo, um olho preto misterioso. Eu gostava de olhar para ele, embora ele nem
soubesse da minha existência. Não que eu me importasse. Na verdade, eu o achava
muita farinha pro meu saco. Imagina se um homem daqueles iria se interessar por
mim... Eu me contentava com pouco naquela época. O “pouco”, no caso, era eu
ficar observando o cara meio que escondido, analisando cada movimento seu, o
jeito que caminhava, cruzava as pernas, até o tênis que ele usava me dava
arrepio. Tudo nele era bonito. Eu sabia que ele nunca iria olhar para mim com
algum interesse.
Não que eu fosse feia. Não! Na verdade, eu
bem bonitinha, graciosa, não tinha problema para encontrar namorado. O problema
é que fui me encantar com alguém que, como minha mãe dizia, era de um nível
social diferente do meu. Para ele, eu sei, eu era uma pobretona. Que andava de
ônibus. Que quando ficava doente tinha que ir parar na UPA e não na clínica
particular top dos Jardins. Eu era simples. Ele, grandão. Não, gente. Eu tinha
pé no chão. Ele nunca iria querer nada comigo.
Aconteceu, então. Os nossos destinos se
cruzaram. Foi uma coisa muito louca e, ao mesmo tempo, muito estúpida. Quando
me dei conta ele estava praticamente em cima de mim, passadas fortes, óculos de
grife escuros, um deus. Eu não tive nem tempo de perder o fôlego. Só ouvi
aquela voz metálica dizendo “ponha no lixo pra mim”. Levei alguns segundos para
me dar conta que ele estava se dirigindo a mim. Aquela mãozona morena que tanto
eu admirava colocou nas minhas próprias mãos uma latinha de cerveja amassada. E
foi embora. Não olhou para trás. Não agradeceu. Fiquei olhando para o lixo que
ele deixara comigo e tive uma vontade louca de atirar de volta nas costas
largas dele.
Pensei em abaixar a cabeça e recomeçar meu
trabalho. Mas antes que eu fizesse isso, levantei o dedo do meio num gesto
afrontoso.
Nunca mais, seu cretino.
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