quinta-feira, 30 de novembro de 2023

UM CONTO DE MISTÉRIO - PARTE 2

 



Angelina assistia à novela, calmamente, comendo pipoca. De repente, ouviu um grito agudo e desesperado vindo de alguma das casas. Ela se pôs de pé e a tigela com as pipocas se esparramou no chão sobre Tobi, o cão caramelo e sua única companhia.

Afobada, ela abriu a porta da casa. Logo se deu conta que vinham lamentos e uivos da casa da frente. A casa onde sua melhor amiga morava.

― Lou! Lou, o que está acontecendo?

A mulher, em pânico, atravessou a rua, abriu o portão da casa de Lourdes, cruzou o jardim e olhou pela janela. E a cena que viu foi aterrorizante.

― Ai, meu Deus!

Angelina deu a volta e tentou entrar na casa. A porta estava trancada. Ela bateu, desesperada.

― Lou, me deixa entrar! Lou!

Não demorou muito Lourdes abriu a porta e desabou nos pés da amiga, aos prantos.

― O Juarez... o Juarez...

Angelina pulou por cima da amiga e foi até a cozinha onde o corpo do seu compadre jazia no chão. Ela se agachou ao lado do homem e deu vários tapinhas no seu rosto. Como não resolveu nada, começou a distribuir socos mais fortes para ver se o cara acordava.

Lourdes surgiu tropeçando nos próprios pés e desabou ao lado dela.

― Angelina, ele está... morto?

― Cruzes, parece que sim.

A morte de Juarez era surreal. A pouco tinha visto o casal chegar feliz, de bicicleta, rindo. Agora o homem estava morto no piso frio da cozinha. De pau duro. Angelina simplesmente não conseguia tirar os olhos do volume das calças do falecido.

Lourdes se jogou sobre o peito do marido chorando cada vez mais forte. Angelina se levantou, zonza. Deveria chamar o vizinho, o doutor Miguel, o cardiologista da cidade. Quem sabe ele ainda poderia dar um jeito de salvar o pobre Juarez?

A vizinha da casa da esquerda apareceu também, entrando pela porta escancarada. Ao chegar à cozinha deparou-se com a cena caótica.

― Angelina, o que aconteceu?

― O Juarez morreu.

― Bem, mas não é disto que eu estou falando.

Ela fez um sinal com os olhos para a piroca do morto. Lou continuava com seu pranto, mal se dando conta de quem estava por ali.

― Pois é... Ele morreu assim. Que situação. Pobre Lourdes.

        Apesar da tragédia que se desenrolava ante seus olhos, Angelina estava tão impressionada com o vigor pós-morte de Juarez que não sabia o que fazer. Alguém deveria chamar o doutor Miguel. Mas não seria ela. Angelina queria ficar ali admirando o volume nas calças do Juarez.

― Por isso que a Lourdes tá chorando tanto ― concluiu a vizinha. ― Olha o que ela perdeu.


... continua.

       

 

 

 

 


Nenhum comentário:

Postar um comentário