O velório do Juarez parou a pequena cidade de Nova Itália do Sul. Afinal, o falecido era gerente do único banco local e conhecia todo mundo. A comoção era geral. Lourdes, depois de passar chorando a noite inteira até ficar com o rosto inchado, deixou-se ficar, inerte, amparada pelos amigos, quase sem falar nada. a irmã, Lorena, estava presente, acompanhada de Valentina, única sobrinha de Lourdes.
Angelina circulava em volta do
caixão tentando ver se a piroca do Juarez continuava em pé. A vizinha que
também presenciara a cena no dia anterior lhe dera vários cutucões para
Angelina tomar jeito. Era preciso respeitar o morto e a viúva. Mesmo assim,
Angelina não conseguia evitar voltar os olhos para o caixão tentando enxergar
alguma coisa no meio daquele monte de flores. Pobre Juarez. Até que era bem
galã. Uma pena.
Já estava combinado que Valentina
ficaria um tempo fazendo companhia para a tia. A casa era grande e Lourdes não
conseguia se imaginar vivendo em um lugar com tantas lembranças, completamente
sozinha.
― Pode deixar, tia – prometeu Valentina que andava pela casa dos 20
anos. ― Nós vamos bombar.
― Valen, pelo amor de Deus – Lorena deu um cutucão na filha. ― Sua
tia mal enviuvou.
― Ah, tá! E ela vai ficar chorando pelo resto da vida? De jeito
nenhum.
Naquele momento
Lourdes começou a chorar de novo, momento em que um grupo de amigas se
aproximou para acolhê-la em um abraço. Para um velório, até que as coisas iam
normais. Discursos de despedida, choro, homenagens, um grupo de homens
discutindo futebol em um canto da sala mortuária.
Então algo
aconteceu. Faltava meia hora para o enterro propriamente dito acontecer, quando
uma mulher alta, aparentando uns 35 anos, apareceu. Bonita, vestida de preto e
com os cabelos escuros caindo pelas costas, ela caminhou até o caixão, firme.
Ante os olhares de todos que estavam ali, acariciou o rosto do Juarez.
Valentina olhou da
mulher para a tia, da tia para a mulher e fez a pergunta que estava entalada na
garganta de todos os presentes.
― Mas quem é esta daí?
Lourdes
prontamente se pôs em pé. O rosto era uma máscara de dor. Sem olhar para
ninguém, se aproximou da mulher que continuava com a mão no rosto do morto, sem
dar bola para ninguém.
― Quem você pensa que é para ficar passando a mão no meu marido?
A voz aguda de
Lourdes ecoou por todo o salão. Calmamente, a mulher voltou seus olhos para
Lourdes e anunciou:
― Meu nome é Gina. E Juarez era meu marido também.
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