domingo, 27 de julho de 2014

UM CARA SEM PEGADA (1 de 1)

Tudo o que Aline queria era ficar com o Emerson. Não apenas ficar. Ficar ela ficava com a sua bisavó de 90 anos vendo televisão. Aline queria beijar, andar de mãos dadas e abraçar o Emerson.

Sobretudo transar com ele.

Bom, vamos aos fatos. Aline não era uma beleza rara. Cabelos avermelhados (errou o tempo da tintura), 16 anos, magra, sardenta, um pouco tímida. Já tivera alguns namorados, mas tesão mesmo sentia cada vez que olhava para o tal do Emerson. O grande problema era que ele não se prestava nem para lançar um segundo olhar para Aline.

Carina. A namorada do Emerson e o oposto de Aline. Festejada por onde passava, era a atual rainha da escola. Só por aí podemos ter uma ideia da beleza da garota. Boas notas, corpão, Carina se sentia a tal. Era a tal.

Emerson. O gostosão da escola. Fazia o casal perfeito com a Carina. Populares, eram convidados para todas as festas possíveis. Emerson, bronzeado do sol, 18 anos, surfista. Milhares de seguidores nas redes sociais. Até as mulheres mais velhas se atiravam para cima dele. Aline? Quem?

Débora. A amiga inseparável da Aline. Fiel como um poodle. As duas não se desgrudavam nem para ir ao banheiro. Houve quem dissesse que as duas eram um casal e viviam um relacionamento sério. Assunto que foi devidamente encerrado quando Débora acertou um soco certeiro no nariz de quem lançou a fofoca. Pronto, nunca mais alguém ousou dizer qualquer coisa.

− Se eu não posso namorar o Emerson…
− Ele não sabe que você existe.

As duas conversavam baixinho sentadas em um dos bancos da escola. Observavam de longe Emerson mostrar suas habilidades no futebol. A puta da Carina se esgoelava na arquibancada dando apoio ao seu amor.

−… se eu não posso namorar o Emerson – continuou Aline impassível, − ao menos eu poderia transar com ele.
− Ele deve ser bem calçado.                                                                 
− Você acha que ele toparia?
− Transar com você? Pode ser.

Pode ser. Aline se empolgou. Débora era ultra sincera. Se ela achasse que não, teria dito isto com todas as letras.

− Se eu não der pro Emerson vou explodir.
− Você tem que ter em mente uma coisa.
− O quê? – perguntou Aline, entre curiosa e tensa.
− Ele não vai largar a Carina por sua causa.
− Mas eu só quero transar.
− Antes você queria ter três filhos com ele, um cachorro e uma casinha na fazenda.
− Sou realista. Duas horas e nada mais.
− Tudo bem. E o que você pretende fazer?

Lá na quadra Emerson fez um gol. Carina quase tirou a camiseta para comemorar.

− Humpf... baita puta. Bem – e Aline se empertigou, − pretendo atacá-lo.
− Onde?
− Em um lugar onde ele esteja sozinho. Tipo, na casa dele.
− Você vai ter a cara de pau de ir até a casa dele se oferecer? – Débora estava incrédula.
− Duvida? O que eu tenho a perder?

Débora riu.

− Nada. Vá em frente, garota. E leve camisinhas.


A grande chance da Aline levou uma semana para aparecer. Emerson comentou com os colegas que a Carina estava de cama por causa de um gripão e que aproveitaria para passar a tarde toda estudando para a prova de química. Aline enlouqueceu quando soube daquilo. Não seriam duas horas de sexo! Seria uma tarde inteira! O plano foi elaborado às pressas com a ajuda da Débora. Precisamente às 14h45min Aline estava plantada na frente do prédio de luxo onde o Emerson morava, com uma mochila nas costas. De minissaia, botas e uma jaqueta jeans por cima do top, ela havia esquecido que antes de transar com seu amor, precisaria passar pela segurança rígida do condomínio.

O porteiro a olhou de alto a baixo, desconfiado. Aline fez a cara mais inocente possível. Quando encarou o homem lembrou que sequer sabia o andar que Emerson morava.

− Pois não? – perguntou o cara, com os olhos fixos nas pernas dela, o tarado.
− Oi, eu… Bem, eu sou amiga da Carina, a namorada do Emerson. Você sabe quem é o Emerson? Aquele fortão que…
− Sei, sim senhora.
− Então... Minha amiga está doente, não pode sair de casa e pediu para eu vir aqui entregar um caderno pra ele. Será que eu posso subir?
− Qual seu nome?
− Larissa.

A melhor amiga da Carina era outra vaca, cujo nome era Larissa. Com esta mentirinha seria bem mais fácil entrar no prédio. Afinal, o Emerson se dava com ela também.

− Um instantinho, por favor.

Disfarçando o nervosismo, Aline observou o porteiro interfonar para o apartamento. Depois de alguns segundos, ele olhou para ela e disse:

− Pode subir. Apartamento 1003.


Nenhum comentário:

Postar um comentário