sábado, 19 de julho de 2014

UM FANTASMA PARA CHAMAR DE MEU

Ela abriu a porta e pensou ter escutado um barulho no andar de cima. Passos. Sim, era como se fossem passos. Nada que a surpreendesse.

Não eram ladrões que haviam invadido o lugar. A casa era assombrada. Descobrira isto depois que os avós que lhe criaram morreram misteriosamente com um intervalo de apenas dois meses um do outro. Desde então passos, portas batendo e sussurros foram seus companheiros. Os únicos naquela vida solitária que levava. Mesmo depois de passados cinco anos da morte das únicas pessoas que amou na vida, os fantasmas lhe acompanhavam.

Mas não gostava daquelas companhias. Elas lhe aterrorizavam, como agora quando subia as escadas que rangia a cada passo. Lá fora raios e trovões iluminavam a noite escura. Tentara inúmeras vezes se livrar da casa, mas a maioria dos compradores sequer atravessava a porta. Pareciam pressentir que algo maligno habitava por lá e batiam em retirada com uma desculpa qualquer.

Quando chegou ao andar de cima o corredor se estendeu escuro a sua frente. Os passos ecoaram mais fortes e ela acendeu a luz. Já sabia quem era. E brilho nenhum o afastaria.

 A luz forte brilhou por todo o ambiente e ela se sentiu encorajada para prosseguir. Na verdade gostaria de se enfiar no quarto, trancar-se lá dentro, protegida com seus altares e santos. Lá dentro suas companhias indesejáveis não entravam. Nem ele. Mas quanto tentou levar suas crenças para outras partes da casa, um vento forte e misterioso derrubou tudo e as velas acesas quase prenderam fogo por todo o lugar. Pena que não incendiou, pensou mais tarde.

Ela caminhou quase sem sentir as pernas até o final do corredor e o som cessou. Mas ela sabia que alguém estava ali. Seu fantasma, como o chamava. Havia o visto algumas vezes com o canto do olho. Era alto, magro, moreno. Vestia-se com roupas antigas e possuía um rosto perfeito. Volta e meia ela o percebia atrás de si na hora do jantar ou até mesmo no jardim. Quando então se virava para flagrá-lo, o fantasma não estava mais ali.

Agora ele outra vez. Os outros não passavam de um vento ou uma sombra. Não era estes que temia. Tudo se fez silêncio. O único som que escutava era o da sua própria respiração. Ela caminhou lentamente até o fim do corredor. No fundo havia a porta da biblioteca. O espectro gostava de ficar lá. Quem sabe em vida tivesse passado bons momentos ali, junto com a mulher que amara. Talvez a mulher tivesse sido ela mesma. Ou ele teria morrido de uma forma horrível e agora se encontrava preso na biblioteca, na casa, sem conseguir se desprender do mundo terreno?

Sem conseguir respirar direito, ela abriu a porta de supetão. Ele estava lá, sentado na poltrona preferida do seu avô. Nunca ficara frente a frente com o fantasma. Fugia assim que pousava os olhos nele. Mas naquela noite ela resolveu fazer diferente. Precisava enfrentá-lo. Talvez ele dissesse então porque a atormentava tanto.

− O que você quer de mim?

Uma brisa suave balançou os cabelos dela. Os olhos do espectro brilharam.

− Você.

A voz dele fluiu naturalmente como se fosse uma pessoa de verdade, de carne e osso. Ela mal acreditou. Não havia sido uma boa ideia aquilo, pensou quando viu o fantasma se levantar e se aproximar dela tão lentamente que parecia flutuar. Em questão de segundos estavam frente a frente.

Ela fechou os olhos quando uma sensação de frio e calor misturados invadiu seu corpo. Queria sair daquele lugar antes que se perdesse, porém suas pernas não lhe obedeciam mais. Sentiu algo áspero como uma língua passando pelos seus seios e inutilmente estendeu as mãos para frente para afastar o fantasma de si. A língua desceu para a barriga e logo em seguida para o meio das suas pernas. Ela gemeu. Angustiada, começou a arrancar suas roupas freneticamente. Havia muito tempo que não era possuída por homem nenhum. Seu corpo inteiro ardia de excitação. Entreabriu os olhos. Agora estava deitada no chão, nua, as pernas escancaradas. O fantasma estava sobre si e ela o envolveu com seus braços. Acabou abraçando ela mesma. Ficou decepcionada, queria um contato carnal. Mesmo assim, o prazer que o fantasma lhe proporcionava era algo incalculável. Todas suas experiências sexuais anteriores haviam sido ruins. Ela sempre acreditou que o orgasmo era uma invenção até que foi sacudida por um.

Os raios e trovões não foram suficientes para sufocar seus gritos de tesão. Algo lhe arremetia contra o próprio corpo. Os olhos do espectro estavam muito próximos dela. Fazer amor com um fantasma? Aquilo estaria mesmo acontecendo?

De repente ela despertou. Deitada no chão frio da biblioteca escutou batidas fortes na porta da frente da casa. Ainda sem acreditar na incrível experiência que havia passado, ela juntou suas roupas, vestiu-se ainda zonza e desceu quase caindo as escadas. Sequer olhou pela janela para ver quem estava lhe visitando naquela hora da noite.

− Nos avisaram sobre gritos nesta casa e viemos saber se está tudo bem.

Era a polícia. Ela os olhou envergonhada. Estava mal arrumada, descalça e descabelada. Com cara de quem havia feito sexo selvagem por horas.

− Gritos aqui? Não… não é nada. Talvez fosse a TV.

Os homens a encararam uma última vez, desejaram boa noite e foram embora. Ela fechou a porta e voltou correndo para a biblioteca. Queria continuar a sessão incrível de sexo nem que fosse a última coisa que viesse a fazer na vida.

O fantasma não estava lá. E nem nunca mais voltou.

Meses mais tarde ela foi internada em um hospital psiquiátrico de onde nunca mais saiu.



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