Ela acordou depois de algum tempo
com mãos frias a sacudindo freneticamente. Claudia soltou um grito antes de se
dar conta de que quem estava ao seu lado era a mãe, Dona Julia.
− O que aconteceu, minha filha?
Por que você está vestida deste jeito?
Claudia a encarou e em seguida
voltou seus olhos para a janela. As cortinas continuavam abertas, porém não
havia ninguém do lado de fora. Tudo parecia estranhamente calmo.
− Você saiu? – tornou a perguntar
a mãe.
− Eu fui dar uma volta – Claudia
se levantou rapidamente e correu para fechar as cortinas. Com um rápido olhar
percebeu que não havia ninguém lá fora. Nem mesmo o carro negro.
− Fiquei assustada quando
levantei e encontrei você caída aqui no chão. Por que não nos avisou que
pretendia sair?
− Não quis preocupar vocês, mãe. E
eu queria respirar um ar mais leve.
Mas Claudia continuava pálida e
trêmula. Era impossível esquecer a terrível visão do vampiro grudado na janela.
Se ele era uma criatura das trevas, será que Lara também...
Aquele pensamento horrível deixou
Claudia arrasada. Ela olhou novamente para a mãe.
− Não aconteceu nada de diferente
aqui em casa?
− Diferente?
− Bem… alguém estranho passou por
aqui?
− Claudia, você bebeu? Não estou
entendendo o que você está falando.
A garota respirou aliviada. Ao que
parecia, nenhum vampiro havia visitado o apartamento durante sua ausência.
Claudia, por fim, declarou se sentindo bem cansada:
− É melhor que eu vá dormir logo.
Esta noite foi cruel.
− Você ainda não me contou por
que desmaiou.
Claudia não respondeu a última
pergunta. Trancou-se no quarto e tentou dormir.
O sábado amanheceu cinzento e
chuvoso. Claudia levantou por volta das nove horas da manhã e quando se lembrou
da terrível cena do vampiro grudado na janela da sala, um arrepio de terror
percorreu todo o corpo. Estava na dúvida se devia ou não avisar seus pais
quando os encontrou na sentados junto à mesa tomando o café da manhã.
Imediatamente estranhou a expressão de encantamento de Dona Julia. Ela trazia
no rosto um sorriso abobalhado e os olhos perdidos no espaço. Claudia sentou
frente a ela com um peso no peito. Algo não estava certo.
− Bom dia, pai. Bom dia, mãe.
Mãe?
Dona Julia voltou seus olhos para
Claudia. Eles brilhavam de felicidade. Por alguns instantes a jovem esperou que
fosse ouvir uma excelente notícia.
− Você já contou para ela, Getúlio?
O pai estava meio esquisito
também, não compartilhando do mesmo encanto da esposa.
− Não, querida. Claudia recém levantou.
Tensa, Claudia olhou de um para
outro sem entender nada. Não estava gostando nada daquilo.
− Contou o quê? É sobre Lara?
Dona Julia segurou as mãos da
filha mais velha e sussurrou como se tivesse medo que mais alguém escutasse a
boa nova que ela estava prestes a revelar:
− Lara me visitou esta madrugada!
Claudia sentiu todo o ar fugir do
seu corpo. Não era possível.
− Como… como assim?
− Depois que você foi para o
quarto, eu voltei para a cama e não consegui dormir logo. Quando estava pegando
no sono, escutei um barulho na janela. Levantei-me e fui até lá. Abri as
cortinas e adivinhe! Lara estava do lado de fora.
Com as mãos na boca segurando um
grito de espanto, Claudia olhou para o pai que baixou os olhos, constrangido.
Pelo visto, ele não acreditava naquela história que a esposa estava contando
com tanta emoção.
− Lara? Lara esteve aqui? E você
abriu a janela?
Sem querer, Claudia olhou para o
pescoço da mãe, procurando marca de caninos. Não havia nada. Por enquanto.
− Não tive tempo! – Dona Julia
estava empolgadíssima. – Eu me aproximei do vidro. Ela estava grudada ali, os
olhos brilhantes como eu nunca tinha visto até então. Mas na hora que eu
esbocei um gesto de abrir a janela, seu pai acendeu a luz. Acho que isto a
assustou, pobrezinha. Mas ela ainda teve tempo de me dizer alguma coisa. Eu
pude ler seus lábios.
− E o que ela disse? – perguntou
Claudia, histérica.
− Que vai voltar em breve.
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