− Ei, você está roubando! – berrou
Cris em frente à televisão.
− Cara, é você que não sabe jogar –
devolveu André sem tirar os olhos da tela.
Cris e André. Gêmeos, belos e doidos
por jogos de videogame. Todo o tempo livre era dedicado a se digladiarem
jogando os mais diversos games. Naquele dia, sem aulas na faculdade, os dois
resolveram ficar em casa e se divertir na frente da TV. Os pais e a irmã haviam
viajado para a serra. Era próximo
do meio dia e a família só voltaria à noite. Na cozinha, Tereza, a empregada de
muitos anos, era a encarregada de não deixar os garotos morrerem de fome.
De repente ela escutou um barulho
vindo da sala. Alguma coisa havia quebrado. Enxugando as mãos no pano de prato,
Tereza largou tudo o que estava fazendo para ver o que estava acontecendo.
Quando chegou na porta da sala levou um susto.
− Cris! André! Mas o que vocês estão
fazendo?
Os dois estavam em luta corporal. O
vaso de porcelana chinesa da Dona Marília jazia espatifado no chão. Tensa,
Tereza aproximou-se deles. Conhecia aqueles meninos desde pequenos e nunca os
vira engalfinhados como naquele dia.
− Vamos! Parem vocês dois!
Ela se meteu inadvertidamente entre
os gêmeos. Tentou apartá-los e impor alguma ordem. Afinal, Dona Marília lhe
tinha confiado o bem-estar de ambos. De repente um empurrão vindo de um deles atingiu
seu peito. Tereza parou do outro lado da sala. E por lá ficou.
*
Os garotos pararam com a brincadeira
de se matarem e olharam para a figura imóvel de Tereza.
− Foi mal, Terê. Pode levantar –
falou André com as mãos na cintura.
Cris deu uma risada.
− Você não se deu conta que era só
galinhagem nossa?
Nada. Tereza não se mexia.
− Acho que ela se machucou – sussurrou
Cris começando a ficar preocupado.
− Cara, você conhece a Terê. Ela
está tirando sarro da gente.
Ainda rindo, André se aproximou da
empregada e se agachou.
− Está bem, Terê. Chega de
brincadeira. Levante. Eu disse le-van-te, entendeu?
O silêncio predominou na ampla sala
da casa. Algo estava errado. Quando Cris parou ao lado do irmão, este já segurava
o braço da mulher procurando alguma pulsação.
− Cara, não estou achando o pulso
dela.
− Me dá aqui! – berrou Cris
praticamente puxando o braço da mulher para si.
Agachados, um ao lado do outro, Cris
e André passaram os dez minutos seguintes procurando algum sinal de vida em
Tereza.
− Cris, vá lá em cima e pegue um
cobertor.
− Cobertor pra quê? – indagou ele
muito pálido. – Você acha que ela está com frio?
− Bem… Ela não começou a gelar
ainda.
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