quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

O HOMEM DO JARDIM (Capítulo 1)




O carro entrou pelo portão de ferro e percorreu a estrada de chão batido por mais ou menos um quilômetro. Francesca não queria perder um único detalhe, com os olhos presos na paisagem que se descortinava ante seu nariz. Logo a casa surgiu ao fundo e já de longe dava para perceber que era grande e bem cuidada. Quando o automóvel finalmente parou frente aos degraus da entrada, uma mulher de cabelos escuros, com mais ou menos cinquenta anos, aguardava Francesca.

A moça havia sido escolhida entre várias candidatas para ser a acompanhante de Laura Pedroso, uma senhora de 80 anos, mãe da prefeita da cidade de São Tomás. Os demais empregados não tinham habilitação suficiente para a colocação e Magda decidiu abrir uma seleção. Agora Francesca, depois de uma viagem de três horas de ônibus, finalmente chegava ao seu destino. Pelo visto, o anúncio não estava mentindo quando informara que o local era realmente diferenciado.

O motorista abriu a porta para Francesca saltar e Magda já a aguardava com sua pose altiva. Não foi preciso sequer pegar as duas malas. Um empregado surgiu de dentro da casa e fez isto por Francesca.

— Bom dia, Francesca - cumprimentou Magda, estendendo a mão. — Sou Magda Pedroso.

Nem precisavam apresentações. Francesca já havia consultado o Google e sabia algumas coisas sobre sua nova chefe.

— Muito prazer - devolveu Francesca.

— Vamos entrar. Tenho um tempinho antes de ir à Prefeitura.

Francesca foi conduzida até a biblioteca. Os móveis pesados e as estantes lotadas de livros deixaram bem claro onde ela iria querer passar suas horas de folga.

— Seja muito bem-vinda - disse Magda puxando uma cadeira e se acomodando atrás de uma pesada mesa. — Sente-se, por favor. Quero conversar com você antes de lhe apresentar minha mãe.

Francesca sentou frente a Magda, curiosa pelo que estava por vir. Esperava que a tal Dona Laura não fosse uma velha ranzinza.

— Minha mãe é uma pessoa muito carismática - começou Magda, olhando atentamente para Francesca, — mas é preciso de alguém sempre ao seu lado. Ela tem problema em um dos quadris e não pode andar longas distâncias. Para isto ela prefere a cadeira de rodas. Você já deve ter percebido que a casa é grande e ela gosta muito de passear. Prepare-se para passeios pelos nossos jardins. Como você sabe, sou a prefeita da cidade e nem sempre tenho condições de ficar junto a ela. Isto caberá a você.

— Sim, senhora.

— Minha mãe tem uma cabeça boa, mas algumas vezes ela alega ver meu pai - Magda riu. — O problema é que ele desapareceu há mais de 40 anos, sem deixar vestígios, portanto, deve ser coisa da cabeça dela. Ela quase não se queixa de nada, além da solidão. Para isto você está aqui.

— Tenho certeza que nos daremos muito bem, prefeita.

— Aqui estão o número do meu telefone e o do médico. Não hesite em ligar se for preciso, a qualquer hora - Magda esticou um pedaço de papel com os números dos celulares. Consultou o relógio. — Vamos conhecer a famosa Dona Laura.

Francesca estava curiosa em conhecer a velha senhora. Magda a conduziu pela sala grande até uma escadaria.

— Esta casa foi construída pelo meu avô. Deve ter uns 130 anos. Há algum tempo passou por uma grande reforma.

— É uma linda casa, Prefeita.

— Você vai gostar daqui.

Magda e Francesca subiram os degraus que levavam ao primeiro piso. Quando a jovem olhou para baixo a fim de olhar melhor a sala e todos sua decoração, teve a impressão de ter visto uma sombra perto de um dos corredores, espreitando-a.

Quem seria? Por algum motivo, os pelinhos do seu braço ficaram todos arrepiados.

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