Dona Laura era uma simpática
velhinha de cabelos brancos. Quando Magda abriu a porta do quarto espaçoso, a
senhora abriu um sorriso.
— Finalmente minha companhia
chegou.
Francesca simpatizou
imediatamente com Dona Laura. Magda fez as apresentações:
— Mamãe, esta é a…
— Já sei, a Francesca. Não
precisa me apresentar. Gostei dos seus cabelos.
A moça riu e pegou um cacho dos
seus cabelos vermelhos.
— Ah, muito obrigada. Mas eles
dão um pouco de trabalho para cuidar.
— Venha até aqui – Dona Laura
bateu com a mão no assento de uma cadeira. — Sente aqui ao meu lado e vamos nos
conhecer melhor.
Francesca percebeu um alívio na
voz de Magda quando esta disse:
— Bem, meninas. Vejo que está
tudo em ordem por aqui. Francesca, ela é toda sua. Bom dia para vocês.
Magda deu um rápido beijo na
mãe e saiu do quarto, apressada. Dona Laura, sentada em uma cadeira próxima à
janela, comentou:
— Ela estava louca para ir
embora.
— Impressão sua, Dona Laura –
retrucou Francesca, polidamente, sentando próximo a ela.
— Nada disto. Conheço minha
filha muito bem. Então, conte-me sobre você – pediu a senhora com os olhos
brilhantes. — Quero saber quem você é.
— Ah, não tenho muito que
contar, não. Deixe-me ver... Sou formada em enfermagem, tenho 24 anos e esta é
a primeira vez que fico longe de casa. Rompi um noivado de dois anos há pouco
tempo... Acho que é isto.
— Você é uma moça muito bonita.
Não vai se entediar aqui?
— Não, não vou mesmo! Eu
precisava de algo diferente na minha vida. Estou muito feliz por estar aqui. De
verdade.
— Que ótimo – Dona Laura
parecia satisfeita. A porta se abriu naquele momento e entrou uma empregada
trazendo um bule de chá, biscoitos e duas xícaras. — Veja, é para nós. Adoro um
chazinho.
Francesca serviu chá a ambas.
Dona Laura disse:
— Esta é uma casa grande. Você
vai se surpreender com o tamanho.
— Dona Magda me contou que a
senhora gosta muito de passear pelos jardins.
— Gosto muito – disse Dona
Laura, mordiscando um biscoitinho. — Magda tentou me convencer a vender a casa
várias vezes.
— A senhora deve gostar muito
de viver aqui.
— Ah, sim! Nasci e cresci aqui.
Morei com meu marido nesta casa por quinze anos.
A jovem percebeu um tom de
tristeza na voz de Dona Laura. Arriscou-se a perguntar:
— Ele morreu jovem?
— Morreu? Não sei se ele
morreu, Francesca. Ele simplesmente sumiu.
— Sumiu? – Francesca quase
queimou a língua com o chá, subitamente interessada naquela história. — Como
assim?
— Era nosso aniversário de
casamento. Ele havia ido tratar de negócios em uma fazenda vizinha. Eu preparei
um jantar bem caprichado para quando ele retornasse. Só que ele nunca mais
voltou.
— Mas ninguém sabe o que houve?
Dona Laura balançou os ombros
em sinal de dúvida.
— Ele chegou a visitar a outra fazenda.
Depois que saiu de lá ninguém mais soube o que aconteceu. Fizemos buscas por
dois meses. Nem um fio de cabelo foi encontrado. Nos primeiros anos chegavam
pistas de que o teriam visto em algum lugar, mas nada nunca foi confirmado –
ela suspirou. — Às vezes tenho a impressão de que ele entrará por aquela porta,
jovem e altivo. Não o imagino um homem velho, da minha idade. Minha filha tinha
apenas 13 anos na época. Acho que é por isto que ela sempre quis ir embora
daqui.
Francesca comentou:
— Deve ter sido bem difícil
para a senhora...
— Ainda é. Várias vezes eu o
vejo ao pé da minha cama. Deve ser por que está morto né? Ou é minha cabeça de
velha.
— Não diga isto, Dona Laura.
Espero que ele esteja em um bom lugar.
Dona Laura bebeu duas xícaras
de chá e então convidou:
— Vamos dar uma voltinha no
jardim?
*
Dona Laura e Francesca
passeavam pelo jardim ao final da tarde. Um ventinho frio obrigou ambas a
vestirem um casaquinho. A primeira alertou:
— No final da tarde sempre
esfria um pouco, mesmo no verão. Espero que você tenha trazido um casaquinho,
Francesca.
— Eu trouxe roupas para todas
as estações, Dona Laura – riu a jovem. — Não precisa se preocupar comigo. Eu
que devo me preocupar com a senhora!
Dona Laura apontou para um
balanço antigo mais a frente.
— Vamos parar ali. Quero ler um
pouco do meu livro.
Francesca a conduziu com a
cadeira de rodas até o local e Dona Laura comentou:
— Magda costumava se embalar
neste balanço quando menininha. Depois que ela cresceu pouco foi usado.
— Será que eu posso
experimentar, Dona Laura? Adoro balanços!
— Claro, distraia-se. Estou
atrasada na minha leitura.
Sentada no balanço de madeira,
Francesca fechou os olhos e respirou fundo. O ar puro e fresco era revigorante
e a moça sentiu um grande bem-estar. Aproveitando que Dona Laura estava
concentrada no livro, a jovem começou a prestar atenção ao seu redor. No lugar
onde estavam havia dois bancos de madeira e mais adiante um chafariz. No
balanço de madeira cabiam duas pessoas e era adornado por trepadeiras. Dona
Laura havia mencionado que havia uma grande piscina do outro lado da casa e,
quando esquentasse, Francesca poderia dar um mergulho, se quisesse. Em cada
parte do jardim havia canteiros de flores diferentes. Francesca desejou ter
trazido o celular no passeio para tirar algumas fotos.
Mais adiante um movimento
chamou atenção de Francesca. Um homem de cabelos escuros encostado a uma árvore
olhava fixamente para ela. A surpresa foi tanta que o balanço foi parando lentamente.
Não podia distinguir direito suas feições, mas dava para perceber que era muito
bonito. Quem seria?, perguntou-se ela, encantada. Dona Laura, concentrada na
leitura, não percebeu nada. O homem continuou no mesmo lugar, imóvel. Talvez
fosse algum empregado da casa, embora não estivesse vestido como se fosse um.
— Francesca...
Ela piscou assustada. Dona
Laura a olhava com curiosidade.
— Tudo bem com você?
— Sim? Oh, sim, está tudo
certo.
— Está um pouco frio. Vamos
voltar?
— Claro! – Francesca deixou o
balanço e se aproximou da cadeira de rodas. Olhou disfarçadamente para onde
estaria o homem, mas ele não estava mais lá.
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