Exatamente uma semana depois da demissão, Sueli conseguiu uma colocação para Serena em uma floricultura recém-inaugurada de uma amiga, bem no centro de Monte Noel. Era final de tarde de um dia ensolarado quando recebeu a boa notícia, embora um ar friozinho teimasse soprar.
O novo emprego merecia uma comemoração. Para tanto, Serena decidiu pegar a bicicleta e dar uma volta pela cidade.
Quem sabe encontrasse o bonito desconhecido em algum lugar?
Depois daquela noite nunca mais o vira. Apesar de não ter mais esperanças de encontrá-lo, Serena acabou por desenvolver uma espécie de obsessão, a ponto de sonhar com ele todas as noites. Sim, Serena tinha consciência ser tudo aquilo uma loucura, mas como explicar que sentia ter criado uma espécie de vínculo com o cara? Era como se conhecessem de outras vidas. Quando tentou explicar à Keila seus sentimentos, a amiga teve um acesso de riso e ainda a chamou de lunática. Depois disso, Serena decidiu se calar.
Ela vestiu um casaquinho e montou na bicicleta. Pegou as ruas floridas e tranquilas de Monte Noel, nunca se cansando de admirar a beleza da cidade. As casas possuíam amplos jardins e a decoração natalina estava presente o ano inteiro. Tudo era tão bonito e acolhedor que Serena respirou fundo, sentindo o aroma das flores invadir suas narinas. Feliz, percorreu algumas quadras próximas da sua casa, sempre de olho nos poucos carros que passavam. Vai que o desconhecido fosse um dos motoristas que cruzavam seu caminho?
Após meia hora de pedalada, Serena resolveu ir para a parte mais abastada da cidade, um local onde só havia mansões com muros altos. Ela pouco ia para aqueles lados. Pela roupa bem alinhada que o desconhecido vestia naquele dia, e não sendo ele um turista, era possível que morasse ou estivesse hospedado por lá.
O ânimo aumentou. Serena pedalou com mais força na direção do bairro rico. As vias do lugar eram ainda mais agradáveis. Atrás daqueles muros altos, se escondiam casas lindas. Algumas pessoas passeavam pela calçada com seus animais de estimação. Cada rua tinha nome de flor e o próprio aroma delas pairava no ar. Era uma sensação tão boa que Serena só foi se dar conta que a noite estava chegando quando olhou para o céu e viu uma estrela solitária.
No fim de uma rua florida e arborizada, Serena dobrou à esquerda, temendo não encontrar o caminho de volta. Aquele local ainda lhe era um tanto desconhecido. Pedalando mais rápido, Serena dobrou outra esquina. E não teve tempo sequer de gritar.
A luz forte do farol de uma motocicleta lhe cegou completamente e ela não conseguiu desviar. O choque foi forte, levando o piloto da moto e Serena ao chão.
De repente, tudo ficou escuro. E não era a noite que chegava.
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