Meu olhar cruzou com o dele durante a mesma insuportável aula de Filosofia, quando eu tentava, de forma heroica, manter meus olhos abertos. Para disfarçar um bocejo de grandes proporções, virei para trás fingindo que pegaria algo na mochila pendurada na cadeira.
Meu bocejo ficou pela metade.
Na minha diagonal, duas fileiras atrás, me deparei com o ser mais belo do planeta. Surfista. Pele bronzeada. Cabelos loiros. Músculos na medida certa.
Nossos olhos se cruzaram por exatos dois segundos, os mais longos da minha vida e que não causaram efeito nenhum a ele. Tudo bem, já estava acostumada. Meu tipo de beleza não é suficientemente forte para provocar amores à primeira vista. A partir daí, tudo se apagou da minha mente. Quem era ele? A aula acabou, o sinal para o intervalo tocou e eu estava em surto.
Depois de dois períodos de Filosofia, eu precisava desesperadamente de ar puro e descobrir quem era o cara. Vi quando ele saiu da sala acompanhado de outros meninos sem nem se dar ao trabalho de olhar para o meu lado. Normal. Somente a Jéssica poderia me salvar.
— Quem é?
— Quem é o quê?
— O surfista.
— Dudu?
— Você está me perguntando ou afirmando?
— Só pode ser ele. É o único surfista da sala.
— Dudu? – fiquei saboreando as sílabas. Dudu. Eduardo. Eduardo & Victória. Vicki & Dudu. Que lindo...
— Você também?
— Eu o quê?
— Apaixonadinha?
— Eu? Só achei o cara interessante. A propósito, ele tem namorada?
— Ah, ele fica com várias. Só não ficou comigo porque eu não faço o tipo dele. Mas não namora ninguém. Só quer curtir.
— Ótimo. Então eu tenho chances.
Não levou cinco minutos e eu já estava com Jéssica na arquibancada assistindo o Dudu mostrar sua habilidade no futebol. Eu não estava sozinha. Todas as garotas da escola estavam ali, sem sequer piscar para não perder um único lance. Dudu, meu futuro namorado, sabia ser uma estrela. Perdoei o fato de ele ser um baita exibido. Cada gesto seu era triunfal e exagerado para chamar ainda mais atenção das gurias.
Eu não conseguia tirar os olhos dele.
— Tá vendo aquela morena lá do outro lado?
Foi um sacrifício eu ter que desviar o olhar para onde Jéssica apontava. Tive o desprazer de topar com uma morena peituda, bundão e coxa grossa literalmente grudada na cerca que separava a quadra da arquibancada. Se eu tivesse uma palavra para descrevê-la, seria uma com cinco letras:
VADIA. Em negrito e caps lock.
— O que tem?
— É a ficante mais frequente dele.
Eu teria trabalho. Mas estava gostando daquilo.
— Susi.
— É o nome dela?
— Aham.
Anotei no meu caderninho mental. Vamos em frente.
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