− Foi
você?
Os dois
irmãos se encontravam no banheiro da casa. Os pais degustavam a sobremesa na
sala de estar. Cris encarou André surpreso com aquela pergunta descabida.
− Foi
você? – ele devolveu a pergunta muito ofendido.
− Claro
que não.
− Também
não matei ninguém – estrebuchou Cris. – Não tenho o hábito de sair por aí atropelando
pessoas.
− Ok,
desculpe. Só queria ter certeza – falou André tentando apaziguar o ânimo do
irmão.
− Pode
ter sido nosso pai.
− Ou
nossa mãe – emendou Cris, pesaroso.
− O
importante é que não temos mais nenhuma testemunha. Quem atropelou o velho na
verdade nos prestou um grande favor. Ei! Quer parar de me olhar com esta cara?
Quem estava com a chave do carro hoje de manhã era você.
− Nossa
única testemunha ainda é o Poncho.
−
Inofensivo agora que toda a família sabe que a Tereza está enterrada no jardim.
− Será
que papai já tem alguma ideia de como vai despachar o corpo?
− Se não
teve ainda, é melhor que tenha de uma vez por todas. Daqui a pouco a Tereza vai
virar adubo no jardim da mamãe.
*
A decisão
foi comunicada à noite durante o jantar com toda a família reunida novamente.
Tomando um cálice de vinho, Carlos declarou:
− Pensei
bastante sobre o caso da Tereza. O melhor que temos a fazer é jogá-la dentro de
um rio. De preferência bem distante daqui.
− Rá! –
exclamou Cris se sentindo o tal. – Esta ideia é minha.
−
Certamente se vocês fossem jogar o corpo da infeliz no rio no dia do ocorrido,
seriam descobertos. A pressa é inimiga da perfeição.
− Humm,
que legal – Marília debochou. – Você irá executar este servicinho na maior
perfeição. Que bonito.
Carlos
ignorou a ironia da esposa e continuou:
− Amanhã
eu vou forrar o porta-malas com lençóis e toalhas velhos. Desenterraremos o
corpo depois que tivermos certeza que os vizinhos estão recolhidos. Vamos
ensacá-la e a colocar dentro do carro. Vou comprar luvas descartáveis e
máscaras porque o cheiro vai estar insuportável. Depois vamos até o local a uns
50 quilômetros daqui e jogamos o corpo no rio. Tenho alguns tijolos que
sobraram da última reforma. Ela vai afundar que é uma beleza.
− Não
vejo a hora de ver tudo isto. Já tenho uma história para contar aos meus netos!
Uhu! – Amanda esfregou as mãos muito empolgada. – Quanta emoção!
− E quem
disse que você vai ir junto conosco? – indagou Carlos irritado. – Quanto menos
gente, menos atenção iremos chamar.
− O quê?
Você acha que eu vou perder esta? Nunca! Nunquinha mesmo!
− Bem, se
toda a família vai – declarou Marília tomando chá, – por óbvio que eu também
irei para dar uma força.
Poncho
latiu lá fora. Cris comentou:
− O
cachorro quer ir junto também!
Gargalhada
geral. Naquele momento Poncho entrou na sala sem ninguém perceber e largou algo
atrás da cadeira de Marília. Amanda fungou o ar e perguntou:
− Alguém
peidou?
− Olha os
modos, Amanda – ralhou Marília. – Onde está sua sofisticação?
A garota
farejou a direção do fedor que já empestava a sala. E então disse:
− Minha
sofisticação está no lugar de sempre. Mas o braço de Tereza está bem atrás de
você.
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