Para não
dar na vista, André surrupiou dois calmantes da mãe, dividiu em três pedaços e
misturou um deles na ração do Poncho. Em pouco tempo, o cachorro dormia o sono
dos inocentes. E parecia que não iria acordar tão cedo.
− Será
que ele vai dormir para sempre?
− Claro
que não, Cris. Nem foi tanto assim.
− Mas ele
é um cachorro. Talvez não reaja bem ao remédio.
− Bem, a
polícia também não vai reagir muito bem quando encontrar o corpo da Tereza no
jardim. Vamos nos livrar do corpo esta madrugada.
− Certo. Não
vejo a hora. Isto está me consumindo.
Os dois
comeram alguma coisa rapidamente. Ficou combinado que Cris não precisaria matar
aula e iria à faculdade pela tarde, já que Poncho dormia pesadamente e não dava
mostras que acordaria tão cedo. Além do mais, era melhor evitar qualquer
contato com a mãe e com isto, perguntas mais indiscretas. Assim, um pouco antes
de ela chegar, os gêmeos saíram juntos mal esperando a bomba que os aguardava
quando chegassem logo mais à noite.
*
Marília retornou
para casa no meio da tarde segurando o boletim de ocorrência nas mãos. Pouco
depois chegou Carlos, preocupado. Ele recebera uma ligação da esposa contando
sobre o caso e resolvera voltar mais cedo. Os dois discutiam o destino de
Tereza quando a campainha tocou. Era o jardineiro.
Afobada,
Marília despachou seu Rodolfo para fazer o trabalho no jardim enquanto ela
discutia com o marido a triste situação de Tereza. Ou não. Carlos acreditava
que a mulher tinha arranjado um namorado e dado no pé, deixando o irmão na mão.
Neste
meio tempo seu Rodolfo chegou ao jardim. Surpreendeu-se ao encontrar Poncho
dormindo tão profundamente. Logo ele, sempre tão ativo... O homem largou seus
apetrechos no chão e começou a trabalhar com a terra. Logo se deu conta que ela
estava um pouco diferente do que da última vez que ali estivera. Parecia que
alguém havia remexido nela...
Sem dar
muita atenção para aquilo, seu Rodolfo se concentrou no trabalho para logo em
seguida franzir o rosto. Que cheiro era aquele? Um odor fétido vinha dali, de
onde ele estava trabalhando e pretendia plantar as flores de dona Marília. Não
era possível que a família tivesse resolvido enterrar alguma coisa justo
naquele local. Um corpo, por exemplo. Rodolfo até riu da sua ideia. Imagine!
Todos eles eram do bem, inclusive os gêmeos, mesmo que às vezes eles se comportassem
tão estranhamente.
Mas ele
começou a ficar intrigado quando remexeu um pouco mais na terra e o cheiro
ficou mais forte. Pegou a pá e não precisou cavar muito para se deparar com um
pedaço de pé e um cobertor de cor-de-rosa perdidos no meio da terra. O fedor
aumentou e o homem ficou nauseado. Mas que merda era aquela?
Ele se
dirigiu sem jeito para dentro da casa. Encontrou dona Marília e seu Carlos
rindo e bebendo suco de laranja. Constrangido por interromper aquele momento de
descontração, seu Rodolfo resolveu ir direto ao assunto:
− Dona
Marília, seu Carlos…
− Sim,
Rodolfo?
− Er…
será que podem me acompanhar até o jardim?
− O que
houve, criatura? – perguntou Marília largando o suco em cima da mesa. – Você
está branco.
− Acho
que a senhora também vai ficar. Eu encontrei um presunto no jardim.
*
Em menos
de 10 segundos Marília, Carlos e Rodolfo cercavam a cova de Tereza. Tapando o
nariz e sentindo vontade de vomitar, Marília disse, incrédula:
− Não sei
como isto foi parar aí.
− Nem eu
– retrucou Carlos olhando para a esposa.
Ambos
queriam matar os gêmeos.
− Cara, é
o seguinte. Vá para casa – falou Carlos, imediatamente pegando a carteira e
dando uma boa quantia ao homem. – Faça de conta que você não viu nada e nem
nunca esteve aqui. Nós vamos chamar a polícia agora. Alguém pulou o muro e
enterrou alguma coisa no nosso jardim.
Seu
Rodolfo foi embora satisfeito com a grana a mais recebida. Marília e Carlos se
entreolharam assim que o homem desapareceu das suas vistas.
− Você
vai mesmo chamar a polícia?
− Claro
que não – respondeu Carlos furioso, voltando ao jardim e pegando uma pá para
cobrir o corpo novamente. – Alguma dúvida do paradeiro da sua empregada? Eu vou
estrangular seus dois filhos bem devagarinho.
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